- Quando: 7 a 10 de abril de 2024
A dupla Inês Meneses e Júlio Machado Vaz não faz parte da minha rotina habitual de podcasts há muito tempo, apesar de O Amor É, programa que apresentam na Antena 1, estar no ar há mais de 15 anos. Enquanto podcast gosto particularmente de ouvir como, de um tema, a Inês e o Júlio conseguem extrair uma conversa interessante e que nunca se foca apenas no tema de partida, mas toda a conversa faz sentido. Como é óbvio, quando um programa vem de há tantos anos, é difícil (diria mesmo impossível) ouvir tudo o que há para ouvir e é aceitar. No entanto, quando vi o livro da dupla, publicado em 2018, achei que poderia ter ali uma oportunidade de ter uma espécie de best of.
O Amor É, nesta versão livro, um compêndio em que, em cada capítulo, a Inês e o Júlio partem de uma música ou de um poema e conversam sobre ele, sabendo desde logo que aquilo é um ponto de partida e não sabemos até onde nos vão levar. Entre os capítulos temos A Paixão (Segundo O Nicolau da Viola), do Carlos Tê (e interpretação do Rui Veloso), Homens Temporariamente Sós, a letra do Rui Reininho para os GNR, ou O Primeiro Dia, do Sérgio Godinho.
Por acaso eu acho que o amor no século XXI é sempre «adiado».
Adiado? Por que razão?
Porque mesmo quando ele é consumado, ele é consumado para satisfazer uma necessidade básica. Mas nós continuamos a perseguir aquele amor romântico, que vem do século XX, que não conseguimos concretizar. Não conseguimos, porque não queremos, primeiro que tudo, on porque a outra pessoa também não está disponível. E, depois, porque temos mil ofertas e nem sabemos para onde devemos virar-nos. Por isso, o amor é adiado, mesmo quando é concretizado.
Não sei se sentes isto, mas, quando se trata de livros que resultam de transcrição de voz para texto, tenho sempre algum receio de que a leitura não seja tão interessante ou que a linguagem pareça meio artificial por ser polida para escrita. Felizmente, neste caso sinto que não só conseguia quase ouvir a Inês e o Júlio como também foi muito tranquilo distinguir as vozes narrativas de ambos, sem sentir que o texto estava demasiado limado.
Fascina-me a capacidade de conversar que existe entre a Inês e o Júlio e gosto muito de os ver encontrar pontos tão comuns entre as suas vivências e aquilo que presenciam no resto do mundo. Em podcast isso passa facilmente e neste livro também. São sempre conversas onde ganhamos sempre uma ideia nova, algo sobre o qual refletir. Vale sempre a pena.
«Não sei se sentes isto, mas, quando se trata de livros que resultam de transcrição de voz para texto, tenho sempre algum receio de que a leitura não seja tão interessante ou que a linguagem pareça meio artificial por ser polida para escrita», partilho desse receio, sobretudo, quando tens muito presente a dinâmica da comunicação, quando quase que adivinhas os silêncios e a maneira como, se for em dupla, se complementam as ideias. Que bom que isso não aconteceu aqui!
Quero muito ler este *-*