taylor swift: the tortured poets department

Ao longo dos tempos, muitos foram os que se questionaram sobre o que faz uma boa história e o que faz um bom contador de histórias. Escreveram-se milhares de palavras, defenderam-se centenas de teses e, no entanto, voltamos tantas vezes aqui: O que faz uma boa história? O que faz um bom contador de histórias? A estas duas questões podemos ainda juntar outras duas, que também ocuparam a mente de muitos ao longo dos tempos: O que faz um bom poeta? O que faz um bom poema? Muitas questões, algumas respostas e uma certeza inabalável: ninguém vai conseguir encontrar uma resposta universal e, ainda assim, todos vão tentar — e alguns vão até considerar-se donos da verdade.

Como pessoa que gosta de histórias, liguei-me desde cedo à música da Taylor precisamente porque ela sabe contar histórias. A música é, para ela, o meio de contar uma história e ninguém o faz como ela. A escrita da Taylor é algo que, inevitavelmente, irá ficar para sempre. Diria, então, que ela é uma boa contadora de histórias e que sabe tornar qualquer história numa boa história apenas pela escolha de palavras que fizer. Estava, claro, ansiosa por saber que histórias teria ela para nos contar em The Tortured Poets Department. Esperava algo triste e duro e ela não só cumpriu como conseguiu algo ainda mais cru do que eu esperava.

The Tortured Poets Department [TTPD] foi anunciado como 11.º álbum de estúdio da Taylor e, para quem a acompanha, era um sucessor necessário e diarístico de Midnights (o meu breakup album de 2022). Se sobre o Midnights disse, na altura, que mais do que negro o considerado um álbum «muito honesto, em que ela não parece ter medo de revelar os segredos mais escuros e preocupantes da sua mente», acho que em TTPD não tenho como fugir à mesma definição, desta vez amplificada. TTPD é mais negro, mais honesto, mais complexo. Diria que pega na pop habitual, mas a faz regressar aos cenários solitários de folklore e evermore.

Novamente sem single de avanço, não se sabia ao certo o que esperar. Enquanto meio mundo cogitava sobre a teoria de ser um álbum duplo, eu achava (mal) que ela iria apenas lançar uma versão deluxe com os quatro temas bónus das versões físicas. Enganei-me e veio mesmo álbum duplo. É sobre este The Anthology que tenho muito a dizer.

The Tortured Poets Department é o pior álbum da Taylor ou é só um álbum de nicho?

O TTPD veio dar trabalho extra aos comentadores e críticos musicais. Se avaliar dezasseis músicas já é o que é, tendo em conta as referências que cada música inclui, ter mais quinze a juntar a essas inicias é algo muito mais exigente. O álbum recebeu críticas iniciais duras e, posteriormente, houve até quem referisse que tinha avaliado mal o álbum porque é impossível interpretar e analisar 31 músicas em poucas horas. Se um álbum normal da Taylor já tem camadas e referências suficientes para umas boas horas de estudo, o TTPD é ainda mais impactante. As referências, as histórias entrelaçadas, as teorias, as personagens reais que serviram de inspiração… o TTPD não é, no seu todo, um álbum para qualquer um — é um álbum em que a Taylor parece perguntar aos fãs: Ai querem mesmo saber o que se passa na minha vida, aquilo que eu penso, aquilo que eu vivo? Então pronto, está tudo aqui, vindo dos mais recônditos cantos da minha mente.

Acredito mesmo que o TTPD é um álbum para quem está bem embrenhado dentro da sua música e é um álbum tão longo que é preciso tempo para o interpretar e assimilar. TTPD parte dos medos e angústias de Midnights e mostra o que acontece quando tudo desmorona (You’re Losing Me foi a transição perfeita), quando tentas dar oportunidade a algo e sentes que estás a ir mais ao fundo apesar de, por algum tempo, parecer que faz todo o sentido assim e quando por fim começas a lidar com todas as dores e a tentar encontrar-te para lá do que parecem querer dizer-te que és.

Agora que também já sabemos como o TTPD foi adaptado para a The Eras Tour tenho a dizer que é um dos meus setspreferidos e adoro que resulte tão bem como apresentação daquilo que é o álbum: o liricismo de sempre, a crueza das histórias, o sarcasmo, mas sem perder a leveza de alguns temas e a maneira muito peculiar como a Taylor parece estar cada vez mais confiante na forma como quer contar as suas histórias.

O TTPD é um álbum para ouvir com calma, para estudar com tempo. Não é um álbum para ouvir dois dias e tirar tudo o que há a tirar. Na era da rapidez e do imediato, TTPD vem exigir tempo e concentração, calma e dedicação. Acho que entre o pop do RED e o indie do folklore e evermore, TTPD vai tornar-se um álbum de culto para os swifties — e ainda bem. Nem todos os álbuns têm de ser para o mainstream.

Faixa a faixa: versos preferidos de cada tema

Fortnight (feat. Post Malone)
Verso preferido: All my mornings are / Mondays stuck in an endless February

The Tortured Poets Department
Verso preferido: I scratch your head, you fall asleep / Like a tattooed golden retriever (porque adoro que ela o tenha comparado a um golden retriever)

My Boy Only Breaks His Favorite Toys
Verso preferido: I’m queen of sand castles he destroys

Down Bad
Adoro o jogo de significados do título, que tanto pode significar estar muito em baixo como estar com tesão por alguém.

Verso preferido: How dare you think it’s romantic / Leaving me safe and stranded (uma bela referência a New Romantics, diga-se de passagem)

So Long, London
É a magia do Aaron a funcionar — e de que maneira! É um belo track 5, com muitas referências. Em primeiro lugar a introdução não só dá ares de toque de sino (não sei explicar, mas faz-me lembrar o bater das horas num sino em que a música ecoa), com batidas a lembrar a intro de Death By a Thousand Cuts e um bocadinho de Call It What You Want. Depois a forma como a batida vai crescendo lembra-me The Archer e há ali um momento de Labyrinth, duas músicas sobre ansiedade. Menciona ainda mirrorball (I stopped tryna make him laugh,), a casa onde a Taylor costumava viver na zona de Heath, You’re Loosing Me (I stopped CPR, after all, it’s no use e And I’m just getting color back into my face). Não, definitivamente não é para quem não sabe nada sobre ela.

É uma música triste, sobre perceber que a relação chegou mesmo ao fim e que não dá mais, só uma pessoa a lutar não consegue salvá-la. Dá a entender que a outra pessoa talvez sofra de depressão (bluest days), o que talvez tenha prejudicado a relação. Mais uma vez há um jogo de significados no título que adoro, com so long a ser um adeus, mas também uma forma de dizer que foi muito tempo.

Verso preferido: You swore that you loved me, but where were the clues? / I died on the altar waitin’ for the proof

But Daddy I Love Him
Gosto muito da loucura desta música. Acho que há aqui uma metáfora para descrever, com recurso a uma história de amor proibida ou altamente criticada, a forma como os fãs (e não só) tendem a ver e a sobreanalisar tudo na vida da Taylor — e adoro que ela faça uma interpelação quase direta em you should see your faces. Acho que os versos antes da bridge são muito diretos e gostei da crueza ali existente. A Taylor não estava mesmo para merdas. Também acho que é uma daquelas músicas em que temos várias histórias entrelaçadas (a parte final parece-me remeter à relação atual).

Verso preferido: Growin’ up precocious sometimes means / Not growin’ up at all
If all you want is gray for me / Then it’s just white noise

Fresh Out The Slammer
Verso preferido: All those nights, he kept me goin’ / Swirled you into all of my poems

Florida!!! (feat. Florence + the Machine)
É este um dos melhores duetos que a Taylor já fez? É sim.

Verso preferido: Little did you know your home’s really only / A town you’re just a guest in

Guilty as Sin?
É uma das minhas preferidas, sem dúvida!

Verso preferido: What if the way you hold me is actually what’s holy?

Who’s Afraid of Little Old Me?
Vou já dizer: amo, amo, amo esta música. É uma daquelas músicas típicas em que a Taylor fala, ironicamente, sobre os rumores à volta da vida dela e sobre como a pintam para ser a vilã. A forma como ela berra who’s afraid of little old metem estado a viver rent-free na minha mente e amo, amo, amo a versão ao vivo. E podemos falar da bridge?

Verso preferido: Put narcotics into all of my songs / And that’s why you’re still singin’ along

I Can Fix Him (No Really I Can)
Verso preferido: I’ll show you Heaven if you’ll be an angel, all night

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Mais uma vez, a dualidade de interpretações do título (love/loss of my life) é do caraças.

Verso preferido: I wish I could un-recall / How we almost had it all

I Can Do It With a Broken Heart
Quem nunca foi trabalhar impecavelmente depois de acabar uma relação?

Verso preferido: I cry a lot, but I am so productive, it’s an art

The Smallest Man Who Ever Lived
Uma das minhas bridges preferidas, e amo ainda mais a versão ao vivo.

Verso preferido: ‘Cause once your queen had come / You’d treat her likе an also-ran / You didn’t measure up / In any measurе of a man
‘Cause it wasn’t sexy once it wasn’t forbidden / I would’ve died for your sins, instead, I just died inside

The Alchemy
Quem me dera poder explicar-vos o quanto amo esta música e porquê.

Verso preferido: Where’s the trophy? He just comes runnin’ over to me

Clara Bow
Na onda de Nothing New, The Lucky One, Castles Crumbling. Amo quando ela se menciona.

Verso preferido: You’re the new god we’re worshipping

The Black Dog
Verso preferido: You said I needed a bravе man / Then proceeded to play him / Until I believed it too

imgonnagetyouback
Se Dress e Glitch tivessem um filho seria esta música.

Verso preferido: Pick your poison, babe, I’m poison either way

The Albatross
É só a mim que lembra willow?

Verso preferido: Devils that you know / Raise worse hell than a stranger

Chloe or Sam or Sophia or Marcus
O refrão lembra-me muito algumas músicas de The National, mas também dá vibes de cowboy like me. Não foi amor à primeira audição e acabou a tornar-se uma música que me emociona muito e adoro profundamente.

Verso preferido: If you wanna tear my world apart / Just say you’ve always wondered

How Did It End?
Só podia ser uma track 5 (da segunda parte), não é?

Verso preferido: We were blind to unforeseen circumstances / We learned thе right steps to different dancеs

So High School
Quem me dera poder explicar-vos o quanto amo esta música e porquê, parte 2.

Verso preferido: You knew what you wanted and, boy, you got her / Brand-new, full throttle / You already know, babe (porque somos nós também 🫶)

I Hate It Here
Não só é irmã de the lakes como me disse muito mais do que consigo confessar.

Verso preferido: I hate it here so I will go to / secret gardens in my mind / People need a key to get to / the only one is mine

thanK you aIMee
Verso preferido: I built a legacy that you can’t undo

I Look in People’s Windows
Será esta uma versão adulta de The Outside?

Verso preferido: I’m addicted to the “if only”

The Prophecy
Verso preferido: A greater woman has faith / But even statues crumble if they’re made to wait

Cassandra
Verso preferido: When it’s “Burn the bitch,” they’re shrieking / When the truth comes out, it’s quiet

Peter
Primeiro: não parece uma valsa no refrão? Segundo: como é que não se chora a ouvir?

Verso preferido: Promises oceans deep / But never to keep
We both did the best we could do / Underneath the same moon / In different galaxies

The Bolter
É a música bónus da edição deluxe que comprei. É meio country, amo, e identifico-me muito com a história.

Verso preferido: But as she was leaving / It felt like breathing

Robin
Verso preferido: You have no room in your dreams for regrets

The Manuscript
A ideia de ela nos contar uma história e cada um a interpretar como quer, fazendo com que a história seja mais de quem a interpreta do que dela. No fundo, nós estamos a fazer a história e ela nunca disse que a história era assim.

Verso preferido: The only thing that’s left is the manuscript / One last souvenir from my trip to your shores / Now and then I reread the manuscript / But the story isn’t mine anymore

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