- Quando: 26 de abril a 10 de junho de 2024
- Gatilhos: luto
A expedição pelo quarteto das estações do ano da Ali Smith continua. Depois de um Inverno longo e moroso, Primaveraprometia imitar a sua estação e ser uma história de renascimento e de esperança, com flores a encher as ruas, os dias a crescer e a temperatura a subir (embora por vezes pareça que ela se esquece disso).
Em Primavera conhecemos Richard, um realizador que perdeu Paddy, a melhor amiga que amava. A tentar lidar com a tristeza e a incerta, decide apanhar um comboio em direção à Escócia. Conhecemos também Brit, que trabalha num centro de detenção de imigrantes. Um dia, a caminho do trabalho, conhece Florence, uma criança que parece irreal e que a convence a rumar também a norte.
Ainda há duas semanas a neve chegava aqui. Sete graus negativos. E agora isto. Vinte e nove graus.
Está enganado, diz ela. Uma das mais belas primaveras que conheci. As plantas estavam ansiosas por brotar. Todo aquele frio. Todo este verde.
Comecei a lê-lo em abril, mas a vida aconteceu e acabei por o deixar de lado, no entanto percebi logo que esta não seria a leitura pesada e difícil do livro anterior. Apesar de lidar muito com o luto e com questões ligadas a imigração, falhas e erros do passado e até com uma certa incerteza ao caminho que queremos seguir na vida, é um livro que soa a primavera. Sinto mesmo que, neste quarteto, a escrita da Ali Smith consegue incorporar as sensações de cada estação do ano e transmiti-las em palavras. Aqui há mais luz, mais esperança. Aquela tranquilidade e contentamento de quando notamos que o sol está a pôr-se mais tarde, aquela visão clara de que os dias frios e solitários estão agora a encher-se das cores da primavera.
Estava com algum receio depois de Inverno, mas Primavera trouxe alento — tende a fazê-lo, não é? Continuo a sentir que as várias camadas das histórias tornam os livros menos dados ao imediatismo e exigem uma predisposição maior, mas não sei se resultariam da mesma forma. Falta-me apenas o Verão, que eventualmente também se há de mostrar.