- Quando: 15 a 18 de junho de 2024
Depois de Leme, comecei a acompanhar o trabalho da Madalena Sá Fernandes através das redes sociais e ia lendo algumas das suas crónicas no Público. Percebi logo na primeira crónica que ela tinha um talento especial como cronista e, por isso, fiquei muito contente quando ela anunciou que o seu segundo livro ia ser dedicado ao género. A crónica é um género de que gosto particularmente, mas também é um género que não acho tão simples de concretizar quanto pode parecer à primeira vista. Para ser um bom cronista é preciso saber olhar para os pontos certos e descrevê-los de forma cuidadosa, algo que a Madalena consegue.
Deriva traz um conjunto de crónicas — umas previamente publicadas no Público e outras inéditas — com temas que vão desde redes sociais, luto ou viagens a fins de relação, parentalidade ou literatura. Se os temas são variados, as sensações que transmitem não lhes ficam atrás: deu para rir, para emocionar, para pensar. Há muito tempo que não lia um livro de crónicas que me fizesse ir do riso às lágrimas e da saudade à compreensão em tão poucas páginas.
É um «lembras-te» tímido, com o desassombro de quem cede num jogo em que nos ensinaram que esquecer é seguir em frente. Um «lembras-te» que teme o não, mas que sente o sim. Um código para poderem agir com pessoas que outrora partilharam a vida. Uma imposição de ternura no meio da lembrança.
Acredito que o ponto forte da escrita da Madalena é a simplicidade. Ela não precisa de muitos artifícios para criar um bom texto e transmitir exatamente o que quer com as suas palavras. Para mim, ganhou ainda pelo facto de haver crónicas tão transversais, que dão a sensação de que todos já passámos pelo mesmo. Tem sido mesmo um privilégio acompanhá-la como cronista e tenho a certeza de que continuará a ser muito bom lê-la neste formato. Gostei mesmo muito do livro e acho que é uma excelente coletânea de crónicas, mesmo para quem não estiver habituado ao género. Vale a pena conhecer a Madalena num formato onde a escrita dela brilha tanto.
