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Não era uma leitura que pensava fazer tão cedo, mas o facto de estar no Kobo Plus acabou por antecipar a leitura. Nunca tinha lido Maria Isaac ou Filipa Fonseca Silva e quando tentei ler um dos livros da Iris Bravo senti que não era para mim, no entanto os contos permitem conhecer um bocadinho da escrita de quem os escreve e, por isso, achei que podia ser uma boa oportunidade de ganhar familiaridade com estas autoras.

A premissa de O Sono Delas é juntar, em cinco contos, histórias sobre doenças do sono. Não é um livro técnico, mas antes um livro onde o sono é tema informal. O primeiro conto — Bom dia, Meu Amor — é da autoria de Filipa Fonseca Silva e foi o meu preferido. Neste conto, a personagem principal, Manuela, anda exausta desde que foi mãe, embora os filhos já estejam crescidos. Os constantes despertares noturnos e noites mal dormidas causadas pelo ressonar do marido levam a que um dia ela adormeça… e não acorde mais. Ri muito com este conto e fiquei realmente com vontade de ler a Filipa em formato longo.

O segundo conto foi escrito pela Helena Magalhães e chama-se A Solidão Nem Sempre Era o Lugar Mais Seguro no Qual Viver. Aqui conhecemos Maria Eduarda, que, aos 13 anos, ganha uma alcunha depois de adormecer numa festa de amigas porque ressona. O problema é que, em adulta, sente o peso do incómodo de ressonar e evita qualquer tipo de relação íntima para não ter de dormir acompanhada. Gostei do sarcasmo associado ao conto, com um sentido de humor um pouco mordaz, como me parece ser habitual naquilo que conheço da escrita da Helena.

A Iris Bravo é autora do terceiro conto — Torre de Névoa — e conta-nos a história de Ana, que um dia adormecer numa aula de pilates. Devorada por stress e sem conseguir descansar, Ana começa a ter lapsos de memória, é quando percebe que as insónias podem ser também sinónimo de algo mais: a menopausa. Apesar de continuar sem encontrar um bom equilíbrio com a escrita da Iris, gostei muito de ler sobre este tema. Fala-se pouco de menopausa em ficção — ou então sou eu que desconheço — e acho mesmo interessante a abordagem.

Insónia é o conto de Maria Isaac e, como dá para perceber, é o tema desta história. Passado numa insónia, a narradora vai pensando em Bia, a sua melhor amiga, e numa série de vivências e memórias que partilharam, incluindo a história de como começou a ter uma relação extraconjugal. Não conhecendo a Maria Isaac enquanto escritora achei que a história deu para conhecer um pouco, embora me pareça que será muito diferente dos livros, sei que quero ler algo mais da autora.

Por fim, o livro termina com o conto Um Átomo de Ar, da Susana Amaro Velho. Neste conto temos Emília, que começa a história a contar a Rita, a filha, que vai deixar o clube de leitura porque está sempre a adormecer. Cuidadora informal do marido, diagnosticado com demência, Emília acede a ir a uma consulta do sono, mas a preocupação com o marido limita-a nas suas decisões.

O livro inclui ainda um prefácio e nota final escritos por Susana Sousa, médica do sono, algo que permite juntar a ficção ao caminho pela literacia sobre o sono. No geral, é um livro interessante e que, curiosamente, li entre sestas. Gostava, no entanto, de ter lido mais patologias diferenciadas. Ainda assim, como são contos e acabam por se ler tranquilamente acho que é uma boa opção para leitura antes de dormir.