Apesar de ter gostado de Máquina de Fazer Espanhóis, não tinha marcado regresso à obra de Valter Hugo Mãe. Sabia que voltaria, mas não era prioridade. Quando O Filho de Mil Homens foi escolhido como leitura conjunta do Clube do Livra-te para fevereiro acabei por o pedir emprestado à Andreia.
O Filho de Mil Homens começa por nos apresentar Crisóstomo, um pescador que, aos quarenta anos, decide que quer ser pai e ter uma família — algo que nunca teve. A história começa aqui, mas acaba por se estender a várias personagens que vivem naquela terra, cada uma debatendo-se com um conceito diferente de família. É também assim que o livro se vai construindo: de personagem em personagem.
Talvez tivesse percebido que a natureza era, toda ela, uma expressão exuberante e que manifestar os seus sentimentos seria uma participação ínfima nessa honestidade do mundo. Talvez tivesse percebido que usava de honestidade consigo mesma pela primeira vez em muitos anos. Disse: estou sozinha. E repetiu: estou sozinha. Desatou a falar como se não suportasse mais a boca fechada.
Vi a Rita dizer que é preciso uma disposição específica para ler Valter Hugo Mãe e acredito que foi precisamente esse o motivo para a minha experiência de leitura não ter sido tão positiva. Achei, honestamente, que iria gostar muito mais do que gostei. A escrita do Valter Hugo Mãe é fabulosa, não há qualquer dúvida. Envolve-nos na sua prosa poética de uma forma única, mas a história acabou por não me cativar.
Acredito realmente que o motivo foi mais externo do que do livro. O tema central — o conceito de família e a importância desse núcleo familiar — é um tema de que gosto particularmente e gostei de ver as várias aceções que o autor lhe deu. No entanto acho que esta pode não ter sido a melhor altura para ler o livro porque a escrita do Valter Hugo Mãe exige uma atenção redobrada e um estado de espírito próprio. Tentamos num próximo livro.
Título original: O Filho de Mil Homens
Autor: Valter Hugo Mãe
Ano: 2011 (li a edição de 2015)
Lido entre 16 e 23 de fevereiro de 2025
Gatilhos: linguagem explícita
