vem à quinta-feira Filipa Leal

Nesta minha jornada de descoberta da poesia de que gosto, a Filipa Leal era uma poeta que queria muito explorar. Com a certeza de que, cada vez mais, quero incluir um ou outro livro de poesia nos livros que leio a cada ano, achei que o Dia Mundial da Poesia era a altura certa para explorar algum autor e escolhi Vem à Quinta-Feira.

Este livro reune uma série de poemas sobre memórias, momentos felizes e algumas inquietações. Com o Porto muito presente, tenho a dizer que tentei lê-lo devagarinho, aproveitá-lo como aproveitamos cada raio de sol quando saímos para passear pela cidade.

É difícil ter estado contente aos dezassete
ou aos vinte e sete.
É difícil ter bebido finos, ter comido tremoços
e, com cinquenta ou cem escudos, ter escolhido
a música na jukebox da Ribeira:
aquela canção do Rui Veloso no repeat,
os amigos cansados do meu lado obsessivo,
deste meu Lado A,
a senhora de avental sujo que dizia
sai mais uma chouriça, ou talvez nem o dissesse,
talvez não houvesse senhora de avental sujo,
talvez a memória tenha gente a mais.
Seja como for, é difícil que agora nenhum de nós lá esteja a ouvir música e a assar chouriços.
Eu avisei.
Mas eles insistiram em mudar

de canção.

Adorei a escrita da Filipa — da simplicidade à maneira tão bonita como nos consegue incluir nas suas memórias, que também parecem nossas. Aquilo que mais tenho gostado nisto de explorar autores diferentes na poesia é encontrar estas variações que me fazem sentir que realmente a poesia está em todo o lado. Mal posso esperar por me reencontrar com a escrita da Filipa.

Título original: Vem à Quinta-Feira
Autora: Filipa Leal
Ano: 2016
Lido em 1 de abril de 2025

No responses yet

partilha a tua teoria...