Quando a tradução de Mon mari saiu cá em Portugal, no início do ano, a capa despertou-me logo curiosidade. No entanto, não sendo um livro que me apetecesse ler de momento, deixei-o só debaixo de olho. Calhou ser escolhido pela Joana como um dos livros do mês do Clube do Livra-te e, embora inicialmente não contasse lê-lo, acabei por matar a curiosidade com este livro que parecia ir virar thriller e, no final, foi só muita chalupice.
O Meu Marido traz-nos uma narradora que tem uma vida perfeita e, para lá de ser deslumbrante, ter uma casa incrível e dois filhos, o grande motivo para isso é ter o marido perfeito. Afinal, estão juntos há quinze anos e ela ainda está apaixonada por ele — mas não sabe bem se a paixão é retribuída e em todos os pormenores parece haver provas disso. Claro que ela não vai deixar que o casamento perfeito termine e, por isso, todas as suas ações são pensadas meticulosamente, pondo à prova o marido.
Invejo os amores proibidos, as paixões transgressivas que não podem ser vividas à luz do dia. Invejo ainda mais o amor quando não é partilhado, ou deixou de sê-lo, quando o coração bate em sentido único, sem um coração a bater do outro lado. Invejo as viúvas, as amantes e as mulheres abandonadas, pois há quinze anos que vivo na infelicidade permanente e paradoxal de ser amada também, de conhecer uma paixão sem obstáculos aparentes.
O ponto forte de O Meu Marido é o facto de conseguir navegar muito bem entre a obsessão e a razão. Há vários pontos da narradora que até começam por soar razoáveis, partindo depois para o extremo da loucura. Sabendo que a paixão não pode durar para sempre — há estudos sobre o tema —, é ainda mais curioso que esta personagem tenha uma obsessão tão marcante em relação ao que diz sentir pelo marido. Já os Aventura diziam No es amor / Lo que tú sientes / Se llama obsesión.
Embora seja uma leitura que, também graças ao nível de loucura, se torna muito enérgica e ritmada, a verdade é que o plot twist final acaba por ficar um pouco aquém daquilo que o livro podia ter sido. Desde início somos levados a crer que vai acontecer algo e esse algo acaba por ficar meio perdido. Acho que faltaram mais perspetivas semelhantes à do último capítulo para conseguir embrulhar de forma perfeita esta história. No entanto… se o mood for só chalupice este livro é, sem dúvida, o ideal.
Título original: Mon mari
Título em português: Meu Marido
Autora: Maud Ventura
Ano: 2021 (PT: 2025)
Lido entre 17 e 19 de abril de 2025
No responses yet