Só agora? Sim, só agora. Só agora posso dizer que li e vi tudo o que há para ler e ver da saga The Hunger Games, ou, em português, Os Jogos da Fome. Na verdade, eu vi o primeiro filme em 2013 e adormeci bem no início. Depois convenceram-me a ler o primeiro livro e até gostei, mas como acabei por não ler o resto na altura deixei a trilogia de parte. Pelo que tenho no IMDb, ainda vi o segundo e o terceiro filmes, mas sinceramente não me lembro nada de o ter feito. Aliás, eu estava convencida de que, no primeiro filme, tinha adormecido durante as cenas na arena, mas, ao rever, percebi que, afinal, devo ter adormecido após as cenas das entrevistas com o Caesar.
À semelhança do que fiz entre o final do ano passado e o início deste ano com a saga Harry Potter, vi cada filme após terminar o livro correspondente. No caso do terceiro livro, que está em dois filmes, também só vi os filmes depois de terminar o livro. Como quero fazer a comparação entre os livros e os filmes e ainda inserir as conclusões que tirei e que me fizeram inserir os filmes no projecto Movie 36, é possível que surjam alguns spoilers ao longo do texto por isso, se não leram ou não viram os filmes e não querem spoilers, passem para a parte final, a da reflexão.
THE HUNGER GAMES
Naquilo que era a América do Norte existe agora um outro país, chamado Panem. Panem é dividido em 12 distritos e o Capitólio. Todos os anos, como comemoração (em jeito de memória) dos Dias Negros e da guerra dos distritos contra o Capitólio, que resultou na aniquilação do Distrito 13, o Capitólio realiza os Jogos da Fome. Cada distrito sorteia um rapaz e uma rapariga para participar nos Jogos, de onde só um pode sair vencedor. Na Ceifa deste ano, a escolhida é Prim Everdeen, irmã de Katniss. Para salvar a irmã, Katniss voluntaria-se para ser tributo em seu lugar e, com ela, vai também Peeta Melark.
A história cresce em nós e o Peeta também. Ficamos a saber que ele é apaixonado por Katniss e está disposto a tudo para a salvar. Também se torna evidente que a Katniss começa a sentir algo por ele ao longo da história, principalmente quando estão na arena. Pelos vistos só para ela é que não é assim tão evidente. As descrições da acção na arena são fortes, mas não demasiado fortes. Continuo a achar que no filme, algures entre a entrevista e a chegada à arena, a acção se torna demasiado calma e aborrecida (daí eu ter adormecido daquela vez). Não adormeci desta vez, o que já foi bom porque passada aquela quebra de ritmo, o filme até se torna interessante.
Uma das falhas do filme, para mim, é não explicar logo como funciona a Ceifa. É dito que o Gale tem o nome dele várias vezes a sorteio, mas só mais tarde percebemos porquê. Acho que seria útil perceber de início porquê. Alguns pormenores do filme que colmataram o facto de o livro ser narrado na primeira pessoa: quando a Katniss supõe, no livro, o que o Gale (mais-do-que-amigo dela) estará a achar da prestação dela nos Jogos e do romance falso com Peeta, no filme vemos a reacção do Gale. Também há várias partes em que no filme podemos ver a sala de controlo dos Jogos, o Haymitch a tentar arranjar patrocinadores, o presidente Snow a não gostar do rumo da situação. Não gosto muito de quando inventam nas adaptações, mas, neste caso, acho que estas cenas vão ser úteis e importantes para compreendermos aquilo que vai acontecendo.
O final deixou-me um bocadinho triste, mas compreendo que, de facto, o romance entre a Katniss e o Peeta é um sub-plot, que precisa de mais para se desenvolver. A minha cena preferida, tanto do livro como do filme, é quando a Rue morre e a Katniss fica a cuidar dela até ela fechar os olhos de vez. Dei 4 estrelas ao livro e 3 ao filme.
CATCHING FIRE
Depois de dar a volta aos Gamemakers e conseguir sair da arena viva com Peeta, Katniss abriu um precedente e desafiou as regras do Capitólio. Por isso, alguns distritos começaram a revoltar-se contra o Capitólio. Para tentar controlar os estragos, o presidente Snow diz a Katniss que ela terá de convencer os distritos (e ele próprio) de que agiu por amor a Peeta e não por rebeldia. Não satisfeito com o desenrolar da situação nos distritos mesmo depois da volta de vitoriosos de Peeta e Katniss, o Capitólio anuncia que o Quarter Quell dos Jogos da Fome vai ser especial pois cada tributo será escolhido de entre os vencedores do Jogos anteriores, levando Peeta e Katniss novamente para a arena.
Os primeiros 40% do livro são lentos. Parece que não acontece o que quer que seja e dei por mim a perguntar várias vezes: mas quando é que acontece alguma coisa, pá? Depois há o plot twist de os Jogos da Fome serem com os vencedores e tudo muda. A partir daí a acção desenrola-se rápido, há muita coisa a acontecer, muitas personagens novas (muito amor para o Finnick!). Li isso tudo de rajada, na mesma tarde. A adaptação cinematográfica, felizmente, dá ritmo àqueles 40% lentos e ainda bem.
Fiquei muito triste com a morte do Cinna (só temos a confirmação depois, mas percebi logo que era morte), porque era uma das personagens de que mais gostava. Em contrapartida, fiquei a gostar ainda mais do Peeta neste livro. Acho-o um amor de personagem e quero um para mim, por favor. Ao longo deste livro (e ali em algumas partes do terceiro) fiquei com impressão de que a Katniss, no entanto, estava mais inclinada para o Gale e reclamei muito com ela. Dei 3,5 estrelas ao livro (seriam 4 se não fosse o início) e ao filme.
MOCKINGJAY
Katniss escapou da arena e está agora no Distrito 13, mas Peeta foi levado refém pelo Capitólio. Decidida a resgatá-lo e a matar o presidente Snow, Katniss aceita ser o Mimo-gaio (mockingjay soa melhor) da revolução, o símbolo da rebelião dos distritos. Ao contrário dos livros anteriores, onde algumas partes são mais lentas e parece que não acontece nada, neste livro parece que está sempre a acontecer alguma coisa e até os momentos mais lentos não perdem muito ritmo. Escusado será dizer que foi o meu livro preferido da trilogia.
Também é um livro mais negro. A Katniss está claramente a sofrer de algum stress pós-traumático, o Peeta é torturado e isso afecta a mente dele de forma a torná-lo agressivo e irreconhecível (pobrezinho!), o Gale tem uma sede de vingança tão grande por ter visto o Distrito 12 ser destruído. E depois a guerra e os relatos de guerra. É um livro mais pesado.
Enquanto lia fui tentando perceber qual seria a parte que ia dividir os dois filmes e confesso que fiquei desiludida por não ser a parte em que a Katniss vai ver o Peeta pela primeira vez desde que o resgataram e ele a ataca e depois é knocked out. Juro que, para mim, era o momento ideal para terminar o primeiro filme, com a Katniss a desmaiar. Infelizmente, o realizador achou que é um cliffhanger demasiado grande. Huuuummmm, no. Mas tudo bem.
Os momentos mais tristes foram a morte do Finnick (quase chorei) e da Prim. Eu sei que tinham de morrer alguns dos bons, mas que triste! Há ainda algumas diferenças do livro em relação ao filme: enquanto passei o livro quase todo a torcer para que a Effie ainda estivesse viva, no filme ela está no Distrito 13 desde início. E algumas cenas que envolviam o Plutarch acabaram por ter de ser alteradas, com a falas a serem ditas por outras personagens, porque o Philip Seymour Hoffman morreu uns dias antes de terminarem as gravações.
REFLEXÃO
A saga The Hunger Games não deve ser a escolha mais óbvia de uma saga que nos faz pensar, não é? Mas acho que todas as distopias acabam por ter o poder de nos deixar a pensar. Se não for por comparação ao mundo actual e ao que esperamos do futuro, é pelas características das personagens. Neste caso houve duas coisas que me deixaram a pensar: o reality show associado aos Jogos da Fome e a Katniss.
Ver a forma como os Jogos da Fome são exibidos para todo o Panem fez-me lembrar os reality shows com que temos vindo a levar nos últimos anos. As pessoas param para assistir àquilo, não importa o que aconteça, não importa se estão todos numa arena para se matarem. É interessante pensar nisto porque mostra que realmente as pessoas consomem o que lhes dão sem quase pensar. Não é só em Panem, é noutros países também, alguns começados por P e acabados em “ortugal”. Achei curiosa a escolha de um reality show e funciona muito bem.
Mas o grande momento é mesmo de Katniss. As personagens femininas em posição de poder e força vão aparecendo, mas achei que esta é uma história onde de nota isso melhor. A Katniss tem de mudar a imagem e fingir ser quem não é (e estar loucamente apaixonada por Peeta) para que as pessoas gostem dela e isso incomoda-a não só porque ela quer ser igual a ela própria mas também porque ela é forte e não quer minimizar-se perante outros tributos nem perante o Peeta. E a força dela vai aparecendo e há algumas partes em que a situação se inverte e o Peeta é que parece a donzela em apuros que precisa de alguém a salvá-lo: a Katniss. É curioso pensar que nos últimos anos (o primeiro livro é de 2008) os autores têm tentado criar cada vez mais personagens femininas fortes, capazes de tudo o que quiserem. É curioso, bom e inspirador. As mulheres podem ser o que quiserem, fazer o que quiserem e a Katniss é a prova literária disso.
Como não vi filmes em Abril e em Maio, esta publicação serve como #4 do Movie 36 (equivalente a Abril) e em breve vai ser a #5, equivalente a Maio, para ver se depois isto entra nos eixos!
Quem também participa no Movie 36
Lyne, Imperium
Joana, Twice Joaninha
Francisca, Apenas Francisca
Sónia, By The Library
Inês, Vivus
Alice, Senta-te e Respira
Vanessa, Make It Flower
Cherry, Life of Cherry
Joana, Jiji
Carina, Discolored Winter
Sofia, Por Onde anda a Sofia?
Inês, Wallflower
Rosana, Automatic Destiny
Abby, Simplicity
Sofia, Ensaio sobre o Desassossego
Tenho que confessar que esta saga não me atrai. Não vou cair no erro de dizer que nunca a lerei/verei, mas acho difícil. Apesar disso, achei particularmente interessante a tua reflexão e esses pontos de destaque. É bom perceber que há cada vez mais figuras femininas de poder e que são construídas com inteligência e solidez 🙂
Eu adoro esta saga e gosto muito, não sei porquê, da personagem do Peeta. Li o primeiro livro ainda nem se sabia do filme. Os restastes já li cada um antes de sair o filme. Gosto bastante das conclusões que tiras, porque à primeira vista pode nem parecer assim são óbvio, mas há lá de facto várias mensagens escondidas e uma delas é essa de aquilo se tratar de um reality show e dicotomia entre a forma como as pessoas o "consomem" e a forma como aquilo é "fabricado".
Beijinhos
Ai, esta saga! Quando a vi e li, estava a sofrer de uma febre enorme por ela! Recentemente, até encomendei o primeiro livro, com intenções de a reler, mas até agora, zero! A ver se coloco esse projeto em prática e revivo todas as emoções que "The Hunger Games" tem para oferecer!
LYNE, IMPERIUM