Foto: Getty Images |
Eu sei que, para a maioria das pessoas que me lê, futebol não é o tema mais emocionante. E não é, de todo, o tema que mais se relaciona com o caminho editorial que tenho vindo a seguir. Mas vocês sabem, principalmente se me seguem em redes sociais, que eu adoro futebol. Sou portista, é um dado adquirido, e, mesmo na época em que via pouco futebol porque estava chateada com as exibições do meu clube, nunca deixei de adorar o FC Porto e futebol.
Na semana passada, por causa do momento triste e aterrador que se viveu na Academia do Sporting, li alguns comentários, sobre adeptos e sobre futebol, que me chatearam. Porque quando se fala em futebol generaliza-se muito: os adeptos do clube X são todos arruaceiros; toda a gente que faz parte de claques é violenta; toda a gente que reclama com algo durante um jogo de futebol é porque quer andar à pancada; etc., etc. Vocês percebem onde eu quero chegar.
Bem, primeiro: vamos lá ter calma com as generalizações. Segundo: tem havido muitos casos de violência no futebol (nacional e talvez não só) e é muito triste que, por culpa de adeptos acéfalos, os outros adeptos tenham de levar por tabela. Terceiro: por cada adepto acéfalo, violento, criminoso, há um adepto que ama realmente o clube e o desporto, que sofre e celebra e a quem esses adeptos acéfalos partem o coração por mancharem o nome do clube.
Eu enervo-me muito a ver futebol. Reclamo com jogadores, com o treinador (curiosamente, esta época reclamei muito pouco com o treinador porque gosto mesmo dele) e reclamo muito com o árbitro. Até posso dizer palavrões. Mas nada disso faz de mim mal-educada. Eu nem acho que dizer ou não palavrões faça de alguém melhor ou pior pessoa. Também não é por me chatear quando a minha equipa joga mal ou quando perde que acho que devo partir para a violência. Até porque acho ridículo que o façam.
Não acho normal adeptos que lutam com outros adeptos (às vezes até do mesmo clube!), que ameaçam jogadores, equipas técnicas, árbitros, quem for, que invadem locais de treino e atacam outras pessoas. No futebol, assim como em tudo na vida, há gente boa e gente má. Gente muito boa e gente muito má. Há inocentes e criminosos. É assim em tudo. Felizmente, para mim e para quem gosta realmente de futebol, também há momentos bonitos, momentos que nos arrepiam, que nos emocionam, que nos fazem amar mais e mais este desporto. Este fim-de-semana houve três momentos que me deixaram assim: arrepiada, emocionada. E esses três momentos foram as despedidas do Gigi Buffon (da Juventus), do Fernando Torres (do Atlético de Madrid) e do Andrés Iniesta (do Barcelona).
Foto: Juventus FC |
O Buffon tem 40 anos, começou no Parma e desde 2001 que era guarda-redes da Juventus. No sábado despediu-se do clube italiano, em lágrimas. Ainda não se sabe onde vai jogar a seguir, mas é certo que, seja onde for, não será a mesma coisa. A ligação Buffon-Juventus teve muitas vitórias, muitas taças e um heptacampeonato. Foi substituído ao minuto 63 (como castigo divino, minutos depois a Juve sofreu um golo) e, com o estádio todo a aplaudi-lo, despediu-se de cada colega de equipa e ainda dos adversários. Se conseguirem imaginá-lo com outra camisola então parabéns! Eu não consigo. A única certeza é a de que, muito provavelmente, não voltará a jogar um Mundial (Itália está fora do Mundial 2018 e, em 2022, Buffon terá 44 anos).
O Iniesta tem 34 anos e nunca jogou noutro clube que não o Barcelona. Todo o percurso dele foi naquele clube. Ontem fez o último jogo lá. Quando foi substituído, ao minuto 82, deu a braçadeira de capitão ao Messi e os adeptos ficaram a cantar por ele até ao fim do jogo. A fotografia do início desta publicação foi tirada horas depois da homenagem que lhe fizeram e da festa de campeões de Espanha que se seguiu ao jogo. Era perto da uma da manhã e o Iniesta ainda estava a despedir-se, agora sozinho, do estádio mais especial da vida dele. O que se segue para ele? O Mundial! É um dos convocados da selecção espanhola. O resto? Logo se verá.
Foto: Ángel Gutiérrez // Atlético de Madrid |
Deixei o mais especial para mim para o fim. Até porque se os anteriores me deixaram arrepiada, este deixou-me a chorar… muito! O Torres é o meu futebolista preferido e toda a gente sabe que o sonho dele sempre foi jogar no Atlético. A ligação ao clube começou com o avô e ele vivia tanto o clube que, em pequeno, fazia questão de levar a camisola do Atleti para a escola sempre que perdiam, porque sentia que era quando precisavam de mais apoio. Foi lá que começou a jogar, nos sub-13. Em 2001, quando era jogador dos sub-19, foi chamado à equipa principal. Por ele, só teria jogado ali. Mas em 2007 foi transferido para o Liverpool (onde se deu muito bem, na verdade) e em 2011 para o Chelsea (onde se deu mais ou menos). Em 2014 foi emprestado ao Milan (um pequeno acidente de percurso que só durou 10 jogos) e depois regressou a casa, que é como quem diz ao Atleti. Acho que ele pensou que ia acabar a carreira ali. Pensámos todos, provavelmente.
Mas a verdade é que ontem se despediu do clube porque não tem tido muitas oportunidades de jogar mais do que meia dúzia de minutos (jogou dois minutos e meio na final da Liga Europa, o que parece um gozo pegado) e ainda quer jogar. A despedida fez-me chorar muito. Jogou o tempo todo, marcou os dois golos do Atleti (o estádio Metropolitano ia indo abaixo!) e o fofo do Gabi cedeu-lhe a braçadeira de capitão, num gesto maravilhoso e especial. Do Gabi não se esperava outra coisa, já que na semana passada, quando ganharam a Liga Europa, ele quis levantar a taça com o Torres, já que era um sonho dele poder levantar um troféu com o clube. O meu sonho era vê-lo jogar lá, ao vivo. Não tive o meu sonho, mas rebentei de orgulho por o ver conquistar o dele. Agora fala-se em China, Estados Unidos, até o Benítez (que o treinou no Liverpool e no Chelsea) já disse que adorava tê-lo no Newcastle (muito pouco provável). Vamos ver.
Sinceramente, o futebol é isto. É este sentimento de orgulho e de emoção. Deixem quem o sente vivê-lo da melhor forma.
adorei o post!!
beijinhos
|último post|
http://eyeelement.blogspot.pt/2018/05/festival-looks-zaful.html
Não sou muito fã de futebol e, sinceramente (só consigo sentir essa paixão que referes quando se trata de jogos da Seleção Nacional) acho que o problema é que muitas pessoas levam-no demasiado a sério. Não estou, com esta afirmação, a desvalorizar a paixão que muitos têm pelo futebol, estou apenas a dizer que o problema é que muitos não sabem viver essa paixão de forma saudável. Não podemos agir como se as injustiças,as derrotas, as faltas que ficaram por marcar,etc. sejam o fim do mundo. Mas mesmo que isso representasse o fim do mundo, ainda assim esta violência não se justificava,porque nada se resolve com violência.
Depois, é como tu dizes. Só se falam dos incidentes na televisão e começam a generalizar, toda a gente começa a pensar que o futebol é sempre assim, e estas generalizações ofuscam grandes talentos, adeptos que realmente amam os seus clubes e jogos que podem ser emocionantes (e não, dizer palavrões não tem mal nenhum,eu considero ate que temos que parar de discriminar estas palavras e começar a trata-las como as outras, pela igualdade de todas as palavras xD).
Beijinhos
Blog: Life of Cherry