Sempre tive a mania de querer ser independente. E quando digo que é uma mania e que vem de sempre podem acreditar em mim. Reza a história que esta que vos escreve, quando andava no infantário, uma vez tinha as sapatilhas desapertadas e perguntaram-lhe se queria que lhas apertassem. Sabem o que respondi? Não, não queria: a minha mãe não deixa. Onde fui buscar esta ideia de que a minha mãe não deixava? Não faço ideia, mas só queria ser independente e fazer tudo sozinha. Apesar deste sentido de independência, existe outro problema. De vez em quando apego-me demasiado a algumas pessoas, ganho hábitos e gostos vindos dessas pessoas e, depois, elas vão embora e eu fico sozinha com hábitos dos quais não sei se gosto realmente ou se fazem sentido sem as pessoas que saíram da minha vida.
Quando li este texto magnífico da Rafa percebi que não estou sozinha e dei por mim a pensar nesta coisa importante de que ela fala: a importância de sermos inteiros, de sabermos estar sozinhos e de termos coisas de que gostamos sozinhos. Tenho muitas coisas na minha vida de que aprendi a gostar por influência de outras pessoas, mas também há muitas outras de que gosto por mim e que também gosto de fazer sozinha, sem me sentir abandonada ou limitada. Claro que há hábitos que vieram e foram com quem os colocou na minha vida e há outros que ficaram e se tornaram de tal forma enraizados que não sei de onde vieram. Acho importante termos coisas nossas, só nossas, que não vão fazer sentir estranhos quando alguém sair, eventualmente, da nossa vida, mesmo que sejam coisas sobre as quais falávamos com esse alguém.
Tal como a Rafa, tenho coisas minhas que são só minhas e das quais gosto por mim: o FC Porto, os Linkin Park, a escrita, gostar de ler, a fotografia, os vernizes e os batons, How I Met Your Mother e This Is Us, o Torres, o ténis. E outras mais, claro. São as coisas que ficam e nas quais me posso refugiar quer alguém entre ou saia da minha vida. É bom partilharmos as coisas de que gostamos com outras pessoas e também é bom quando as partilham connosco, mas cada vez mais acho que dentro dessa partilha deve haver sempre espaço para uma parte que seja só nossa e que sabemos que não depende de mais ninguém para nos fazer sentir completos e para nos interessarem.
Eu devo andar mesmo cansada ou tu escreves tão bem quanto eu acredito e sobre coisas super significativas para mim neste momento. Além disso, estou a ler isto enquanto oiço Sons and Daughters, cantada por Liz Lawrence e Allman Brown, que é só muiiiiiito bela!
Sermos inteiros… não é de facto uma necessidade de ser independente, é mesmo o desejar profundo de saber estar sozinha, e sobretudo apreciar os momentos comigo mesma.
Também me apego demasiado às pessoas e crio hábitos à volta delas, por isso, acho mesmo crucial ter coisas que associo apenas a mim e com as quais consigo estar sem quês ou porquês!!!
É tão, tão importante manter esta independência. Eu, que nada percebo disto da vida e que namoro com o meu rapaz há uma eternidade, sei que felizmente fui mantendo essa "mania" também: ter as minhas coisas, o meu tempo, o meu espaço – e agora é literal, até fui viver sozinha mesmo namorando com ele há mais de 10 anos lol é importante mantermos a nossa identidade e os nossos objectivos, e nem é só para o caso de ficarmos sozinh@s – é que se assim não for, um dia vamos descarregar todas as nossas frustrações em cima da outra pessoa e isso nunca pode ser saudável. Viva a individualidade dentro da partilha e do amor – seja ele qual for!
Jiji
Não podia concordar mais contigo! Acho mesmo fundamental termos lugares só nossos e que não partilhamos com mais ninguém, gostos e interesses que não nos incomodam se mais ninguém os partilhar, momentos que não precisamos de dividir com os outros. Tudo isto faz parte da nossa relação com a nossa companhia e do quão bem estamos resolvidos com a nossa forma de ser, com os nossos interesses e com o tempo que investimos em mais nada a não ser nós (sem culpas, porque a L'Oreal há muito que o diz, e de forma certeira, nós merecemos!) 🙂
Sou como tu, sempre fui uma pessoa que queria ser muito independente. Uma história que a minha família adora contar quando a minha mania de ser independente se manifesta (porque confesso isto até chega a ser um problema, não gosto de depender de pessoas para nada e, às vezes, não sei reconhecer os momentos em que preciso de ajuda) dos primeiros dias do infantário, em que metade das crianças chorava com saudades dos pais, e eu estava ali a dizer que eram malucos.
Compreendo essa sensação de não conseguir fazer algo por estar demasiado associado a outra pessoa e não conseguirmos fazer isso sem ela. Também tenho hábitos que tive que abandonar por causa disso. Mas também já me aconteceu continuar certos hábitos porque me fazem lembrar pessoas queridas e me marcaram imenso.
Mas concordo, acho que é mesmo importante termos hábitos e gostos só nossos e que nos definem, que nos fazem sentir inteiros.
Beijinhos
Blog: Life of Cherry
Já te tinha dito em privado, mas fica agora em público: obrigada! Fico mesmo muito contente por saber que um texto meu inspirou alguém e, por estes comentários, saber que há mais pessoas que percebem a importância de termos os nossos momentos pessoais.:)
Acho que é um equilíbrio difícil. Vive 6 anos sozinha no estrangeiro, onde fui forçada a aprender isso de ser inteira, de gostar da minha própria companhia. Agora que voltei e iniciei uma relação, isso parece-me outra vida. Bom relembrar que, no fundo, é saudável.