O Adeus ao Medo

Acho que é oficial: hoje inauguro uma nova rubrica aqui no blog. Vi alguns vídeos de autoras brasileiras e decidi que talvez fosse interessante roubar-lhes um tipo de rubrica: os diários de escrita.

 

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Sempre lamentei o facto de não manter um diário enquanto escrevia o Teremos Sempre Londres ou o Seja O Que For o Amor, principalmente o primeiro. Acho que seria interessante ler considerações sobre aquilo que ia escrevendo, perceber como trabalhava naquela altura, o que me inspirava, como tinha sido a experiência. Foi por isso que decidi tentar esta rubrica.

Não a vou usar como um diário fiel daquilo em que estou a trabalhar, até porque não faz sentido para mim, mas vou usá-la para abordar temas relacionados com a escrita, principalmente escrita de ficção.

Algo com o qual me debati nos últimos quatro anos, desde que terminei o Seja O Que For O Amor, foi aquela sensação de medo e incapacidade. Já comentei algumas vezes que, nestes anos, comecei a escrever muitas coisas. Na altura em que saiu o livro, estava no segundo semestre do primeiro ano da universidade e uma das minhas cadeiras era Técnicas e Expressão do Português. Uma das avaliações era escrever um conto ou uma recensão crítica. Optei pelo conto. Foi aí que todo o meu medo começou a vir ao de cima.

Tinha ideias, começava-as e não conseguia terminá-las. Cheguei a duvidar da minha capacidade para entregar aquele trabalho. Mas terminei o conto, tive boa nota e recebi elogios do professor. Foi uma das melhores coisas que já escrevi, principalmente por ser diferente de tudo o que já tinha escrito.

Na altura escrevi mais dois contos pequenos, um deles baseado numa história verídica, e depois entrei na fase de começar e não terminar nada. Perdi conta ao número de rascunhos que comecei e que ficaram por ali, mas posso dizer-te que tenho uma pasta onde tenho pelo menos oito ficheiros que poderiam ter sido alguma coisa.

Quando começamos algo e depois de um mês já não gostamos daquilo ou já perdemos o interesse há alguns sentimentos que se apoderam de nós. Acumulamos rascunhos e ideias e começamos a pensar: Será que perdi a capacidade de escrita? Será que nunca mais vou terminar um livro? Como é que eu volto a escrever um livro? Como é que se escreve mesmo um livro? Socorro! 

Uma vez cruzei-me com um artigo sobre escritores que tinham demorado anos (décadas, até) a terminar um livro e fiquei a sentir-me muito melhor. Afinal, havia autores que tinham passado longos períodos sem conseguir escrever livros. Pelo menos não estava sozinha no mundo. Mas continuava sem compreender o porquê de ter tantas ideias e nunca conseguir aprofundar nenhuma.

Na semana passada, enquanto lia o Big Magic, da Elizabeth Gilbert, li algo que fez sentido para mim: às vezes temos ideias, mas se não as tratarmos bem, se não lhes dermos a devida atenção e todo o amor e carinho de que precisam, elas acabam por nos fugir e vão ter com outras pessoas, pessoas essas que vão tratar as ideias muito melhor do que nós tratámos.

Eu acredito nisto. E acho que às vezes não é só não tratarmos bem a ideia, mas também não pararmos para pensar no que nos impede de dar atenção àquela ideia. No meu caso, algumas vezes, o motivo pelo qual não conseguia explorar as ideias que tinha era o medo: medo de a ideia não ser boa, medo de não escrever bem o suficiente, medo de não conseguir terminar, medo de não conseguir publicar. Medo de tudo e medo de nada. Às vezes acreditava que não tinha talento ou que tinha perdido a capacidade para terminar livros. Coloquei muita pressão em mim e acabei sempre por desistir. Até ao dia em que tive uma ideia.

Comecei a pensar muito nessa ideia e a imaginá-la na minha cabeça durante muitas semanas (ou meses, até) até decidir começar a escrever. Não para publicar, não para tentar mostrar que tinha talento, qualidade ou capacidade para o fazer. Nada. Comecei a escrever porque senti que não podia ter medo de o fazer e porque senti que tinha de escrever aquilo só por escrever.

Escrever só por escrever era algo que eu fazia nos anos em que escrevia muita ficção. Escrevia histórias porque queria escrevê-las, nem que só duas ou três pessoas as fossem ler… nem que eu fosse a única a lê-las. E foi assim que voltei a escrever e perdi o medo de escrever sem terminar. Quando começamos a pensar demasiado sobre o que escrevemos acabamos por limitar a nossa escrita e aprender a não o fazer pode levar tempo, mas consegue-se e vale a pena. E às vezes temos de escrever só por escrever, só porque queremos escrever, só porque sim.

3 Replies to “O Adeus ao Medo”

  1. yes! eu sabia que ias pegar nesta ideia 😀 Não tenhas pressa, escreve quando quiseres e o que quiseres 😀

  2. Depois de ler e perceber em que se vai basear esta rubrica, estou ainda mais entusiasmada. Espero que este seja o começo de uma certa motivação para conseguires levar a cabo alguns dos teus trabalhos.
    Porém, sei que, quando tiver de ser, será e vai ser muito bom.
    Beijinhos.

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