SUPERMERCADOS: LOCAIS DE ESTUDOS SOCIOLÓGICOS

lisboa

De todas as coisas que tenho de fazer quando não estou a viver com a minha mãe, ir ao supermercado é a actividade que mais sentimentos mistos me desperta. Eu gosto dos supermercados grandes aqui de Lisboa. Têm tudo e mais um par de botas, como se diz na minha terra, e a variedade de produtos é tanta que consigo encontrar muitas das coisas de que gosto ou de que preciso rapidamente. No entanto, como não vivo perto desses supermercados grandes e não tenho carro cá, vou muito mais aos supermercados aqui do bairro. Felizmente, tenho dois diferentes numa questão de poucos metros. Até aqui tudo bem, não é? As pessoas já vão ao supermercado há tanto tempo que já conhecem os funcionários e até encontram lá pessoas que conhecem e é uma festa, mas… como dizer isto? Algumas dessas pessoas não deviam ter permissão para interagir com outras pessoas.

Aqui há dias, fui ao supermercado ali do lado (cujo nome começa por “Pingo” e acaba em “Doce”). O supermercado é pequeno e costuma encher, por isso tenho sempre de tentar escolher horas estratégicas para lá ir. Entrei, olhei para a lista de compras e decidi começar por um dos primeiros corredores. Estava eu na minha vidinha, a avaliar o preço das três marcas de toalhitas de rosto disponíveis, quando uma mulher de 40 e tal anos se aproxima de mim, do nada, e eis que acontece o seguinte diálogo:

Mulher: Olhe, desculpe, já usou este creme?
Olho para o creme, confusa.
Sofia: Hmmm, não.
Mulher: É que estou um bocado indecisa entre levar este [o que tem na mão] ou este [pega num da prateleira]. São ambos da Nivea: a diferença é um ser para pele seca e outro para pele muito seca.
Continuo a olhar para o creme, ainda confusa.
Sofia [enquanto penso what the f— está a acontecer aqui?]: Pois…
Mulher: Sabe se são bons?
Sofia, quase a rir: Não faço ideia, mas a Nivea costuma ser uma boa marca.
Mulher: Pois, tem razão.
Pensei que a conversa tinha acabado e volto a olhar para as toalhitas. 
Mulher: Se não é indiscrição, qual é que usa?
Sofia, quase a fugir a correr: Hmmm, agora só tenho usado protector solar.
Mulher: Ah, pois…
Pego nas toalhitas, disposta a continuar a minha vidinha. Vou colocá-las no cesto quando a mulher, ainda a tentar decidir qual o creme que ia comprar, me interrompe.
Mulher: Eu costumo usar aquelas [aponta para as da marca da casa].
Sofia, incrédula por alguém estar a dar opinião sem eu ter pedido: Pois. Eu gosto destas.
Consegui continuar as minhas compras descansada. Bem, mais ou menos descansada: estava a passar pela zona dos congelados e uma mulher perguntou a um funcionário o preço de uma caixa de peixe ou marisco (não consegui ver). O funcionário responde-lhe: catorze euros. A mulher tem a reacção mais genuína e engraçada do dia: Catorze euros? Por amor de deus! Tive de me virar para o lado para que não visse que eu estava a rir.

Mas continuando. Quando chego à caixa, estão quatro pessoas à minha frente: uma senhora a pagar, outra senhora, a mulher do creme e uma senhora com uns 60 e tal anos, à espera de poder colocar as coisas no tapete. A primeira senhora paga e a outra começa a ser atendida. Nesse momento, a mulher do creme pega no creme que acabou por escolher e vai trocar por outro. Regressa. Estou a fazer um esforço para não me rir. Segundos depois vem uma mulher, pega numa garrafa de água que estava encostada na parte metálica antes do tapete e encaminha-se para a frente da senhora que está à minha frente. Supostamente, a mulher tinha deixado a garrafa de água a marcar lugar e tinha ido buscar algo de que se tinha esquecido. Mas a senhora achou aquilo inadmissível e começou a discutir. Eis uma versão do que aconteceu, enquanto eu tentava manter a minha poker face, para não rir:

Senhora à minha frente: Olhe, desculpe lá, mas não pode passar à minha frente! Eu já aqui estava!
Mulher da água: Mas eu deixei aqui a garrafa de água…
Senhora à minha frente: E então? Não pode deixar uma garrafa, dar a volta ao supermercado inteiro e voltar e achar que passa à frente de quem cá estava! Quando eu aqui cheguei a senhora não estava cá, portanto este é o meu lugar. À minha frente não passa, nem pense!
Mulher da água: Mas deixei aqui a garrafa de água! [vira-se para a funcionária da caixa] Eu estive aqui, não me viu? [volta para a senhora] São só duas coisas!
Senhora à minha frente: Quero lá saber! À minha frente não passa, à minha frente não passa! [vira-se para a funcionária da caixa] Não a deixe passar à minha frente! Se a deixar passar à minha frente eu deixo as minhas coisas no tapete e vou-me embora! Não a deixe passar à minha frente!
Funcionária da caixa, para a mulher da água: Os produtos não guardam lugar.
Senhora à minha frente: Não passa à minha frente, não passa à minha frente, nem pense!
Mulher da água: Já estou atrasada para o trabalho; são só duas coisas! Tratam-nos sempre assim, não há respeito!
A funcionária da caixa começa a passar os artigos da senhora à minha frente.
Senhora à minha frente: Vê, bem disse que não me passava à frente.

Não sei se foi do calor ou de ser quase hora de almoço e a fome fazer mal às pessoas, mas acho que isto de ir ao supermercado já merecia umas regrazitas e uma polícia que estivesse lá a controlar as pessoas. Nada de especial, só para assegurar ao mundo que toda a gente se portava bem… e que ninguém andava por lá a perguntar às pessoas que creme usam. Ou a fazer escândalos quando alguém espera que uma garrafa de água guarde um lugar na fila da caixa e depois acha que não precisa de dizer nada quando regressa e quase passa à frente das pessoas.

15 Replies to “SUPERMERCADOS: LOCAIS DE ESTUDOS SOCIOLÓGICOS”

  1. Sofia, devo admitir que me ri mesmo muito a ler esta publicação, pois, fiquei incrédula com as caricatas situações que nos contaste. Na primeira, por exemplo, até estava à espera que me dissesses que a Sra te confundiu com uma funcionária do supermercado, porque foi mesmo insistente. Já não é a primeira vez que me acontece alguém pedir-me uma opinião ou outra e dou de bom grado, porém, assim com tanta insistência é de admirar!!!
    Quanto à situação da fila da caixa……… onde está a noção das pessoas? Ou será que é mais correcto perguntar: Porque é que nunca me lembrei disto? A sério, no mínimo as pessoas devem ter dois dedos de testa, nem que sejam só figurativos… pensar um bocadinho não lhes faria mal nenhum!
    Boa sorte nessas compras. Deste lado fico à espera de mais situações «engraçadas». 🙂

    1. No início também pensei que me estava a confundir com uma funcionária, mas depois fez tantas perguntas e eu nem estava vestida como alguém que estivesse a trabalhar ali (calções e havaianas :p). Nunca me tinham feito tantas perguntas ahahahah No máximo, num supermercado maior, perguntaram-me se valia a pena um produto no qual eu tinha acabado de pegar (era algo para o cabelo, nem sei bem), mas não ficaram a conversar comigo ahahahah
      A da caixa… bem, eu achei engraçado, porque a expressão das pessoas estava espectacular. Mas ninguém devia achar que deixar uma garrafa de água ia guardar um lugar sem avisar outras pessoas… e a outra senhora não precisava de fazer uma "fita" para todo o supermercado ver.

      Tenho mais uma para partilhar, mas não é de supermercado! 🙂

  2. LOOOL ai miúda, agora ri a sério xD dou-te valor por te teres aguentado com a do "Por amor de Deus!" ahah e essa da caixa…eu confesso, não faço peixeirada, mas provavelmente mandava uma boca qualquer à mulher da garrafa. Não ia resistir xD acho isso uma falta de respeito tão grande!

    Jiji

  3. Creio que sei de que Pingo Doce falas. Se for o ao pé da tua casa é onde eu costumo ir quando chego do trabalho e não tenho nada para fazer ao jantar. De TODAS as vezes que lá vou me arrependo e juro que é a última. Esta semana troquei-o pelo Minipreço lá perto. Odeio esse Pingo Doce. É com cada cena que eu já lá vi… uma falta de chá geral terrível… Nem sei o que dizer.
    Sempre que lá vou está lá um polícia, mas nunca o vi a intervir em nada…

    Joan of July

    1. Também prefiro o Minipreço, porque basicamente só tenho de atravessar a rua. Mas nestes tempos em que tinha obras mesmo aqui à frente dava mais jeito o Pingo Doce… e aquilo é um autêntico cenário de sitcom, completamente surreal!

  4. Sei bem como isso é AHAH
    Eu não trabalho num supermercado, mas é parecido. Aturo disso dias inteiros, ainda mais porque toda a gente diz "faça-me um desconto", "veja lá se faz uma atençãozinha", "meta o meu desconto" e adoram todos regatear preços. Enfim. Quando saio do trabalho e ainda tenho de ir a um supermercado, há dias em que só tenho vontade de subir paredes. Situações dessas é "chapa batida, chapa lambida", todas as santas vezes -_-"
    let's do nothing today

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