MAIS POR NÓS

agenda mr. wonderful

Se excluirmos o trabalho do demónio que tive de fazer, Abril foi um mês realmente bom. Talvez a forma como começou fosse um presságio para o resto do mês, porque a começar assim tinha tudo para correr bem. Em Abril quis sentir as coisas que fazia, quis fazer coisas, sair e explorar. Já fiz tanta coisa sozinha, mas às vezes continuo a ter receio de fazer coisas sozinha. Como se fosse estranho, como se sempre que vou a algum lado sozinha as pessoas me julgassem por eu estar ali sozinha. Isto é estranho, porque eu faço muitas coisas sozinha, mas quando, na quinta-feira, apanhei um comboio em direcção a Alcântara para ir ver os Snarky Puppy completamente sozinha senti um friozinho na barriga. Já os tinha visto, no Verão do ano passado, mas, apesar de me ter sentido sozinha, estava rodeada de pessoas que conhecia. Agora estava realmente sozinha. E já fui a tantos concertos sozinha.

Uns dias antes, no início do mês, apanhei um autocarro para ir ver ténis, na sequência da Taça Davis. Tinha ido dois dias antes, mas acompanhada. Sozinha voltei a sentir um friozinho na barriga. Uma vez, disseram-me que sou demasiado independente. Disseram-no de uma forma negativa. De acordo com essa pessoa, a minha independência em demasia afasta pessoas, porque as faço sentir desnecessárias. Mas, então, onde estava a minha independência nestes dias?
Não acho que seja demasiado independente. Mas odeio não fazer algo só porque tenho de o fazer sozinha. E continuo a pôr-me à prova e a alargar a minha zona de conforto de cada vez que decido que vou fazer algo, mesmo que vá sozinha. E tenho de o ir fazendo porque aquela coisa de ter um grupo de amigos fixo já passou à história e os meus amigos não são a minha cópia, logo tenho interesses que eles não têm e vice-versa.
Não sou demasiado independente. Mas gosto de fazer coisas por mim, para mim. Já meti muitas vezes a felicidade e o bem-estar dos outros à frente daquilo que era bom para mim. E, sinceramente, já perdi muito por estar sempre a pensar nos outros. Ninguém está ali a pensar por que é que eu estou sozinha em determinado sítio. Ninguém quer saber. Andamos todos tão concentrados em nós próprios que não reparamos nisso. E então decidi que ia começar Maio a fazer algo sozinha. O friozinho na barriga por cá ficou durante dias. Mas às vezes temos de fazer coisas por nós, para nós. Temos de ser felizes connosco, de aceitar a nossa própria companhia e de ganhar confiança para sabermos estar assim. Hoje fui ao Estoril Open sozinha. E vou lá mais três vezes assim. Porque decidi fazer algo por mim, em vez de esperar pelos outros, em vez de temer os outros. E, caraças, que bom que é!

6 Replies to “MAIS POR NÓS”

  1. Não imaginas como ler isto me caiu bem, Sofia. Estou agora a começar um grande passo que quero há muito dar – sozinha – e o julgamento começa a cair-me em cima e eu a sentir-me perdida…precisamos de ânimo, numa sociedade que nos prende por ter cão ou por não ter. E não há "demasiada independência". Há demasiado julgamento, isso sim, e demasiados mimimis que nos impedem de ver que ninguém é cópia de ninguém, como dizes, e que por isso não precisamos de arrastar ninguém connosco!

    Jiji

    1. Fico feliz por teres conseguido transpor este texto para a tua vida! 🙂 E tens toda a razão quando dizes que nos prendem por ter cão e por não o ter. Temos de fazer o que é bom para nós!

  2. Percebo aquilo que estás a dizer. Aliás, não percebo porque não tenho a tua coragem, mas gostaria de ter. Sou incapaz de ir a um concerto sozinha porque tenho medo de parecer a "coitadinha" que não tem companhia, mas isso é porque nunca cheguei a uma situação do género: "Uma das minhas bandas preferidas vem cá e ninguém quer ir ao concerto comigo. Que se lixe, eu vou!". Porque iria, sei disso. Portanto, creio que a coragem também nasce nos momentos inesperados ou extremos e admiro-te por a estares a ganhar aos poucos, porque já és uma lutadora e qualquer dia vais a todo o lado sozinha ;))

    1. Já fui a muitos concertos sozinha e posso dizer-te que ninguém pensa nada disso porque ninguém está atento às pessoas ao lado, estão a curtir o concerto.

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