confissões de véspera de aniversário

Um dos livros que mais vezes li até hoje, a seguir a Uma Aventura no Porto, foi o A Vida é Só Fumaça, do Luís Filipe Borges. Gosto dele como comediante, mas gosto ainda mais dele como escritor. Um dos textos que é possível encontrar neste livro é o texto ideal para hoje, do qual me lembro todos os anos no dia 7 de Novembro: 10 Mandamentos para as Vésperas de Aniversário. Não por ter uma vontade louca de os concretizar mas porque há um que, incrivelmente, não dispenso na véspera do meu aniversário. Costumo sempre sentar-me sossegadinha na minha vida, com a minha música, e gosto de avaliar o meu ano, quase como se fosse véspera de ano novo e eu estivesse a preparar-me para a passagem-de-ano. Converso comigo, tento perceber o que fiz bem, reconheço o que fiz mal, vejo o que falhou. Não é uma tradição original mas não é isso que relevante.

No ano passado passei a minha véspera de aniversário a estudar. Estava cansada: de Lisboa, de pessoas, de rotinas, de estudar, de me sentir perdida, de não saber se estava realmente perdida, de não ter motivos para ficar, de não saber como ir. Comi sushi pela primeira vez nesse dia. Antes disso prometi a mim mesma que os 21 iam ser algo importante e bom. Peguei em promessas e garanti a mim mesma que aquela lista mental que prometera cumprir iria deixar-me orgulhosa a 7 de Novembro de 2016. Não deixou. A vida deu-me novos planos, meteu desafios no caminho e hoje sei que nunca cumpriria metade do que disse querer cumprir porque eu o dizia para tentar fazer ver a mim mesma que tinha um plano, ou vários. Mas não tinha, só queria ter.

Com 21 anos eu apaixonei-me demasiado, magoei-me demasiado, deixei que várias pessoas me partissem o coração… e quem me dera que a maioria dessas pessoas não tivessem sido os meus amigos. Aos 21 eu tive de lidar com coisas que não desejo a ninguém: as crises de ansiedade, os abandonos, o emprego que me consumiu, o desemprego, a depressão de alguém que me é próximo, o cancro da minha cadela (e a morte dela). Saio dos 21 como entrei: cansada, mas desta vez com razões muito mais reais. Lembro-me de ter desejado que os 21 me trouxessem o que me faltava, que fossem um ponto de viragem. Na realidade, foram-no. Mas não foram o que eu queria, o que eu pedi. Comprei menos livros, fui a mais concertos (dos treze, o primeiro e o último foram do grupo que conseguiu marcar este último ano de uma forma inigualável). Ouvi mais música, escrevi mais, saí mais, fotografei mais, abracei mais, arrisquei mais, amei mais. Mas também chorei mais, magoei-me mais, temi mais, perdi mais, perdi-me mais.

Tenho planos para os 22, mas aprendi a não partilhar planos. Amanhã, enquanto estiverem a ler as 21 coisas que aprendi com 21 anos (estejam atentos!), eu estarei a formular desejos e planos, a sentir falta da minha Dama.

Deixem-me partilhar algo que aprendi com 21 anos (na realidade, foi há poucos dias) e que não incluí no texto que sairá amanhã: mesmo quando confiamos nas pessoas erradas, mesmo quando parece que temos péssima pontaria em tudo, mesmo quando parece que está tudo para lá de péssimo, quando há uma pessoa (a pessoa, ou não) a dizer-nos que nada vale a pena se estamos a sentir-nos na merda e a querer realmente dizê-lo, a sentir o que diz, já vale a pena ter essa pessoa na vida. Porque, por mais pessoas que nos abandonem, as pessoas que ficam (porque querem ficar, porque querem saber lidar connosco, querem estar presentes e porque gostam de nós) vão ser sempre (SEMPRE!) mais importantes. São essas as pessoas em quem vale a pena investir o nosso tempo e a nossa amizade. São essas as pessoas que importam. São só essas que importam.

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