nous sommes champions

Os primeiros jogos da seleção que me lembro de ver foram em 2004, no Euro que Portugal organizou. Do primeiro ao último, da primeira derrota com a Grécia à última derrota com a Grécia. O jogo épico com a Inglaterra, a minha mãe a pintar-me a bandeira portuguesa na cara, o Ricardo sem luvas, o Ronaldo a chorar na final (e eu também). Na altura do Euro 2004, eu tinha 9 anos. Chorei com o Ronaldo, sem aceitar o nosso fado de jogarmos tão bem e acabarmos a perder, como começámos, com quem começámos.

Este ano, depois de um ano de desilusão futebolística, em que dei por mim a recusar a ver jogos do meu clube para não sofrer mais, soube que não ia acompanhar este Euro como tenho acompanhado os outros Europeus e Mundiais. Não, não havia cá vontade de ver os jogos todos que apanhava na televisão, não havia vontade de ir conhecer cada equipa, cada jogador. Vi a fase de grupos com muitas reticências, consciente de que não poderia deixar que aqueles rapazes me dessem cabo do coração. Mas, mais do que isso, fui vendo os jogos com calma. A cada empate, maior a calma. 

O primeiro jogo em que me senti realmente eu a ver futebol foi no jogo contra a Croácia: o Ronaldo comete uns erros e eu passo-me, berro com ele, com o árbitro, com toda a gente. Finalmente! E então, nesse jogo, solto um “ainda vamos ser campeões”. Acho que ninguém me levou a sério — nem eu sei se me levei a sério mas, no fundo, acho que acreditava mais do que queria demonstrar. E então sofri e, a partir daí, soube que estava curada e não falhei um único jogo.

Desejei uma final Portugal – Alemanha, porque queria ganhar-lhes. Eu gosto muito da seleção alemã, digo-vos já, mas queria aquela final para poder vencer-lhes. Estávamos nós a passar para a meia-final e eu a dizer à minha mãe que a final ia ter Portugal. Acredita, mãe!

Passei o dia de ontem a dizer que íamos ser campeões. Estava tranquila, pintei as unhas, tirei fotos com a bandeira. Tranquilo, mesmo. Vamos ser campeões, para quê stressar? E então começam os 120 minutos mais longos desta vida. Lesiona-se o Ronaldo, vejo o Ronaldo chorar e só me lembro de 2004, volta ao campo, esforça-se, não aguenta mais. Não, isto não era suposto ser assim. Começo a ficar nervosa. 

Vem o Quaresma e eu confio nele. O Rui Patrício vai fazendo defesas do outro mundo — grande guarda-redes, enorme! Entra o Moutinho. Tudo bem. Entra o Éder. Digo a alguém no Messenger: “Ainda há-de ser ele a safar-nos, não reclames”. Estamos a rir. Eu continuo a achar que vai ser um golo do Quaresma. 90. 100. 105. Eu não aguento penalties! 106. 107. 108. 109. GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO. ÉDER!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Faltam 10 minutos. Faltam 5. Estamos todos de pé. Vamos ser campeões, vamos ser campeões. É a segunda vez este ano que os minutos demoram mais a passar do que o normal. 4. Ai, vamos ser campeões! 3. Mas isto demora muito? 2. Mais 2 de compensação? Porra! 1. E mais 2. Aguenta, aguenta. Passem a bola. 2 minutos de compensação. Está quase, vamos ser campeões. 1 minuto de compensação. Aguenta, coração. Demorem-se, façam passes. Faltam 20 segundos. Vamos! 15. Ser! 10. 9. 8. 7. 6. 5. 4. 3. 2. 1… Campeões!!!!!

Gosto demasiado de futebol. Vejo os nossos jogadores chorar, abraçam-se. Quando Fernando Santos disse que só vinha dia 11 para Portugal achei que ele estava a ter demasiada confiança. Acalma-te, amigo. Mas, pela primeira vez, tive vontade de acreditar numa promessa destas.

Não resta agora mais do que agradecer — e muito! — a esta equipa! Grandes, gigantes, com dez metros de altura! Somos campeões da Europa. Nós. 

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