MELCI: Impressões do Primeiro Semestre

Agora que as avaliações do primeiro semestre estão concluídas, posso finalmente escrever por aqui sobre como foi este semestre. No geral, sinto que foi um semestre um bocadinho duro. Já não estava habituada a estudar e a ter de organizar a vida de acordo com um calendário de trabalhos e leituras necessárias, por isso senti-me muitas vezes assoberbada, com dificuldades em dar conta do recado, atrasada em tudo e sem tempo.

Precisei de me esforçar mais para ser organizada e para criar uma rotina que funcionasse e que me permitisse não estar constantemente em apneia. Nem sempre resultou, nem sempre senti que estivesse a fazer um bom trabalho. Ainda assim, mesmo com uma ou duas notas que não foram tão boas quanto podiam ter sido e com alguns momentos de mais stress, acho que consegui um bom semestre e acabei por conseguir perceber algumas coisas que resultam e não resultam comigo e com a minha rotina.

Como já escrevi anteriormente, estou no ramo de Estudos Comparatistas e Relações Interculturais do Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes (MELCI) por isso, neste primeiro semestre, tive três cadeiras obrigatórias, uma de opção na área da Literatura Comparada e a opção UP. Para falar de cada uma delas, vou dividir a publicação com base na obrigatoriedade da disciplina e depois, dentro de cada uma, vou apresentar três ideias, aprendizagens ou momentos de que mais gostei.

Cadeiras Obrigatórias

Literatura e Estudos Interartes

Esta é a cadeira que, provavelmente, mais justiça faz ao nome do mestrado, porque é aquela onde as outras artes acabam por surgir mais. Neste caso, o foco foi para a banda desenhada e para o cinema, o que não foi o ideal para mim porque já se sabe que não sou grande conhecedora desta última arte… nem da anterior, embora goste de ler banda desenhada. Em vez de leituras obrigatórias, tivemos filmes obrigatórios, o que também dificultou a minha vida.

Para esta disciplina, fiz um ensaio sobre a presença da Literatura no documentário Meeting The Man: James Baldwin in Paris. Foi o primeiro ensaio académico digno desse nome que escrevi e foi difícil. Quando acabei fiquei com a sensação de que não estava bom e de que não tinha conseguido passar aquilo que o documentário me tinha feito sentir. Acabei por ter boa nota e fiquei mesmo feliz porque senti que o professor soube ler as entrelinhas e compreendeu o quanto aquilo mexeu com a minha escrita.

Três aprendizagens/ideias que deram que pensar:

  • o que faz uma boa adaptação
  • como sempre vi adaptações pela questão da fidelidade e não pela adaptação em si
  • os limites da literatura (maior ensinamento do ensaio)

Literatura Portuguesa e Artes Visuais

Esta cadeira parece auto-explicativa, mas, na realidade, acho que não é bem assim. Ao longo do semestre falámos de obras da literatura nacional que têm uma relação próxima às artes visuais: desde poesia visual (não conhecia), livros que incluem também fotografia, poesia com forte inspiração cinematográfica e por aí.

Para esta cadeira, a minha pior nota do semestre, fiz um ensaio sobre a inveja no livro O Meu Irmão, do Afonso Reis Cabral, e na pintura Caim and Abel, de Keith Vaughan.

Três aprendizagens/ideias que deram que pensar:

  • Poesia muito fixe (caso do livro do José Miguel Silva)
  • É muito difícil explicar a visualidade de um texto
  • Há mesmo livros em língua portuguesa para todos os gostos

Literatura Comparada: Questões e Perspectivas

Para o ramo de Estudos Comparatistas, Literatura Comparada é a base de tudo. No início foi difícil para mim compreender de que se tratava realmente a Literatura Comparada, mas, ao longo do semestre, foi a cadeira que me deu melhores leituras e que me fez quase ter vontade de entrar em falência e fazer um doutoramento para seguir investigação.

Nesta cadeira, fiz um projecto de trabalho sobre a representação da mulher na obra musical da Patti Smith, em contexto com a história do movimento feminista. Foi um projecto interessante, que gostava de talvez desenvolver, mas não sei ainda se será a tese ou não.

Três aprendizagens/ideias que deram que pensar:

  • Li textos absolutamente incríveis
  • Descobri que existe uma coisa chamada estudos do som (com um texto que me traumatizou um bocadinho)
  • Ganhei um interesse pelos estudos de tradução, sobre os quais quero ler mais algumas coisas

Cadeira Opcional

Literatura de Viagens: Relações Interculturais

Não quero diminuir as outras cadeiras, mas, dentro da área dos estudos literários, esta foi a minha preferida. Lemos duas obras e vários excertos e tivemos debates muito interessantes em todas as aulas, nem sempre sobre a literatura de viagens, mas com uma visão muito interessante. Fartei-me de participar nas aulas e senti mesmo que, se fizesse a loucura de seguir para doutoramento, a literatura de viagens ia ser uma área bem apetecível.

O trabalho desta cadeira foi um ensaio sobre o livro Em Viagem Pela Europa de Leste, de Gabriel García Márquez, numa perspectiva de contacto entre a literatura de viagens e o jornalismo de viagens. Foi a minha melhor nota e foi um ensaio que gostei muito de escrever.

Três aprendizagens/ideias que deram que pensar:

  • Adoro literatura de viagens, tanto para ler como para estudar
  • Há uma semelhança muito interessante entre literatura de viagem e jornalismo de viagem — ambos renegados
  • Preconceitos, história e política estão mais presentes na literatura de viagens do que muitas vezes pensamos

Opção UP

Português: Práticas de Escrita

Não querendo gabar-me, mas gabando-me: escolhi muito bem esta opção UP. Práticas de Escrita é uma cadeira do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos e mistura partes de Linguística com a escrita de vários géneros e eu adorei. Foi mesmo uma opção bem feita.

A avaliação consistiu em textos de vários géneros (notícia, opinião, manual de procedimentos, abstract, carta) entregues ao longo do semestre, com um portefólio final com as primeiras versões destes textos e as versões corrigidas após feedback da professora, e um teste.

Três aprendizagens/ideias que deram que pensar:

  • Já tinha saudades de linguística e de estudar gramática
  • Piorei o meu nível de grammar nazi
  • Bateu a saudade de escrever notícias

E pronto, estas são as impressões que queria partilhar sobre as cadeiras do primeiro semestre. Deixei algumas pistas ao longo do texto sobre alguns pensamentos que tive sobre doutoramento, pelo que podes esperar, num futuro próximo, uma reflexão maiorzinha sobre esses e outros pensamentos em relação a essa fase académica.

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