- Onde: Super Bock Arena, Porto
- Quando: 20 de maio de 2023
O momento em que as lágrimas mais escorreram pela minha cara foi o momento óbvio: Só Depende de Nós. Naqueles primeiros segundos, senti-me profundamente triste porque será sempre uma injustiça o Angélico não poder viver tudo isto. Depois, fiquei profundamente feliz. A chorar, mas feliz. Se nos visse agora, ia ficar tão orgulhoso. D’ZRT Encore foi isto, mas também foi muito mais do que isto.
Crescer a ver novelas
Quando os Morangos com Açúcar começaram, eu já via Malhação e New Wave. Lembro-me de poucas coisas da primeira temporada de Morangos, mas é uma temporada pela qual terei sempre muito carinho porque a minha bisavó via comigo a série, ao fim da tarde, e para ela o João Catarré ficou sempre a ser o Pipo (nome curioso para uma personagem de série adolescente, deixem-me já dizer). Acho, ainda assim, que a segunda temporada será sempre a mais marcante — foi a temporada que nos trouxe os D’ZRT.
Os D’ZRT foram a minha banda da pré-adolescência. Tinha dez anos quando saiu o primeiro álbum, onze quando saiu o segundo, estava entre os treze e os catorze quando acabaram, prestes a fazer quinze quando quase voltaram. Tive a sorte de a minha mãe sempre ter alimentado o meu gosto pela banda. Vimo-los ao vivo em 2005 e em 2006. Lá por casa há CDs, um livro, fotografias autografadas e um baralho de cartas da já extinta revista Super Pop. Pensámos que nunca mais iríamos voltar. Mas todos queríamos voltar.
@asofiaworld sobre voltar. 💙 #dzrt #dzrtencoretour ♬ Verão Azul - D'ZRT
D’ZRT Encore no Super Bock Arena
Assim que anunciaram que voltariam para um concerto (ou mais) de celebração, torci para que o Porto também os recebesse. Depois anunciaram as datas do Porto e lá fui eu comprar bilhetes. Dois. Desta vez ia ser eu a levar a minha mãe.
Parecia que faltava uma eternidade, mas lá veio maio e de repente já era dia 20 e as filas não andavam e o Porto não marcava golos e lá estávamos nós à espera, bem mais à frente do que contávamos. Percebi que ia ser um concerto muito especial quando, minutos antes de começar, os altifalantes tocaram Querer Voltar e todo o Super Bock Arena decidiu cantar, abafando a música. Foi um belo prelúdio para duas horas de concerto. Talvez tenha ficado de lágrimas nos olhos só com este momento entre fãs.
E que dizer destas duas horas? Era preciso estar lá. É absolutamente mágico ter uma sala de espetáculos cheia para ver uma banda que acabou há mais de uma década e que ouvíamos na pré-adolescência ou na adolescência. É absolutamente mágico ouvir centenas de pessoas cantar uma música de 2005 tão alto que a banda mal precisa de cantar. Será sempre mágico tentar assimilar o facto de que uma banda portuguesa vinda de uma série de adolescentes (ambos terminados há anos) consiga juntar milhares de pessoas tantos anos depois. Não sei se é a nostalgia, mas é bonito, é muito bonito.
Também é emotivo. Muito emotivo. É impossível encarar esta tour sem uma ponta de tristeza, mesmo que o objetivo seja celebrar. A verdade é que todos sentimos falta do Angélico ali. Mas talvez todos o tenhamos sentido ali também. E não me refiro ao momento [acho que já não é spoiler] em que há um holograma do Angélico ou ao vídeo que o antecede. Refiro-me àqueles pequenos momentos em que nas músicas devia entrar o rap ou àqueles momentos em que o Vintém, o Cifrão e o Edmundo paravam para olhar para o público e nós estávamos a viver o momento das nossas vidas.
A setlist foi muito completa e o espetáculo teve um ritmo muito próprio, com muita energia, momentos mais calminhos (e emotivos) e ainda pausas porque o Cifrão é um homem do caraças e estava sempre atento ao pessoal do público que precisava de uma garrafinha de água. No fundo, foi uma festa completa: juntos sorrimos, cantámos, dançámos e até os momentos tristes partilhámos.
É de uma beleza inacreditável que todos nos tenhamos juntado para celebrar os D’ZRT e recordar uma época completamente diferente, quando esperávamos pelas sete da tarde para ver uma série, precisávamos de CDs para ouvir aquelas músicas e muitos nem podiam ir aos concertos porque eram longe ou porque os nossos pais não podiam pagar bilhetes e viagens. Não veria um reboot de Morangos com Açúcar, porque, por muito fixe que tenha sido acompanhar cinco temporadas, já não é algo que faça o meu género. Mas nunca perderia a oportunidade de celebrar música desta forma, de celebrar os D’ZRT desta forma. Obrigada por nos terem dado a festa que sempre quisemos fazer.
Um dia, hei-de ter palavras para este momento. E para eles! Repita já tudo outra vez *-*
🫶
Arrepiei-me ao ler o teu texto porque fui transportada ao 29 de abril na Altice Arena… Que noite, que magia! É impossível de explicar. Se pudesse, ia outra vez.
🫶