Tenho lido muitos livros destinados ao público young adult. E quanto mais leio mais percebo o quanto o mundo precisa de boa literatura para públicos mais jovens, desde a literatura infantil, infanto-juvenil e jovem adulto. Mas deixem-me falar-vos do último livro que terminei, o The Upside of Unrequited, ou, em português, Os Altos e Baixos do Meu Coração, da Becky Albertalli. Lembram-se do Love, Simon? Este livro passa-se, a nível temporal, logo a seguir aos acontecimentos desse livro e algumas das personagens têm pequenas participações nesta história.
O Upside of Unrequited é contado pela Molly Peskin-Suso. A Molly é uma miúda bem humorada que já teve 26 paixonetas ao longo da vida… mas nunca beijou um rapaz. Ela e a irmã gémea, Cassie, são muito diferentes, mas sempre foram melhores amigas. No entando, a Cassie arranja uma namorada, Mina, e rapidamente começa a tentar juntar Molly a Will, um dos amigos de Mina. Mas Molly, embora ache que Will é bonito e interessante, tem alguns receios porque nunca beijou ninguém e não sente que se vá apaixonar por Will. Ao mesmo tempo, conhece Reid, o seu colega de trabalho, que é uma espécie de nerd, um bocadinho deslocado, de quem ela se torna amiga. O ponto de contacto com o mundo do Simon é que a Molly e a Cassie são primas da Abby Suso. A Abby até tem algum destaque na história, porque sempre foi próxima das primas, e o Simon e o Nick também dão um ar de sua graça. O livro é maravilhoso. Adorei a Molly e o papel dela enquanto narradora e achei o livro muito ao nível do Simon vs. the Homo Sapiens Agenda, com temas importantes e uma história fofinha. Enquanto o lia, como seria de esperar, não consegui parar de pensar o quanto a literatura para jovens adultos é importante.
Neste livro em específico, a representatividade social é incrível: a Molly é gorda, a Cassie é lésbica e ambas são filhas de um casal composto por uma lésbica e uma bissexual, em que uma delas é negra. Elas nasceram através de dador de esperma e inseminação artificial na mãe branca. Têm um meio-irmão que nasceu no mesmo modo, mas na mãe negra. A família da Molly é judia. A Mina, que namora com a Cassie, é pansexual. Há homofobia, gordofobia e uma série de pensamentos em relação a minorias. A certo ponto até parece que há demasiada representatividade. Mas é exactamente por isso que a literatura para jovens adultos é importante.
Ler abre-nos a mente, faz-nos ter contacto com outras histórias, outras perspectivas, outras sociedades. E ter contacto com histórias que focam vários temas sociais é uma forma muito boa de começar a educar, desde cedo, as mentalidades. Felizmente, os escritores e as editoras têm feito bons trabalhos em escrever e publicar livros assim, com representatividade, com temas sociais importantes, com responsabilidade em relação ao mundo. Em Portugal, de autores portugueses, que eu tenha conhecimento, não têm saído tantos e os que saíram não têm o destaque dos internacionais. É pena. Até porque, apesar de ser literatura para jovens adultos, há que dizer que é facilmente adequada a idades mais velhas (a idades mais novas vai sempre depender um bocadinho do tema). Com as lições que quase sempre nos ensinam e com os temas que focam, os livros para jovens adultos (e para idades mais novas) têm um poder grande e importante para quem os lê.
Quando estava no secundário, por exemplo, lia livros com cujas personagens não criava grande empatia porque não me identificava: ou eram demasiado adultas, ou eram demasiado infantis, ou eram demasiado perfeitas. Não sentia que houvesse livros (traduzindo: eu não conhecia, não havia na biblioteca e não eram tão falados) que conseguissem representar o meio em que eu vivia e estudava, nem uma parte dele. Agora já não é assim. Sinto que há mais escolha, mais conversas sobre livros, mais representatividade.
Um livro pode não mudar o mundo, mas pode mudar ou ajudar a moldar o mundo de alguém, uma pessoa que seja. Esse poder é tão importante que me chateio sempre que alguém descredibiliza os livros para estes públicos. Está na hora de perceberem que um livro, por mais ficcional que seja, tem sempre poder. Por algum motivo tem também havido tantas adaptações cinematográficas de muitos livros para jovens adultos.
«Está na hora de perceberem que um livro, por mais ficcional que seja, tem sempre poder», nem mais! E isso adequa-se a qualquer tipo de narrativa/público. É importante investir em qualidade, até porque há muitas situações que podem ser desconstruídas se tiverem essa representação. Além disso, consegue chegar a mais pessoas, de uma forma muito mais intencional e adequada à idade (ainda que, depois, essa questão possa ser adaptada)
Acho que é mesmo importante ler este tipo de livros! Faz-nos pensar em assuntos atuais, que por vezes são tabus, mas que são fundamentais para o nosso desenvolvimento como é o casso da sexualidade e isso.
Siiiiim!!! Livros são uma ponte magnífica para a compreensão do mundo e o facto de hoje em dia haver tanta diversidade, apenas acrescenta ao facto de já não haver desculpas para não explorarmos imensos temas, trabalhando não só a empatia, quanto a resiliência!!
LYNE, IMPERIUM