heartbreak is the national anthem [rob sheffield]

Será que ser sobre a Taylor é critério suficiente para ler um livro? Hum…

Por princípio, sou um bocadinho avessa a livros sobre a Taylor. Não me deixam curiosa, acho sempre que terão qualidade duvidosa, parecem ter como único objetivo real fazer dinheiro às custas da popularidade. Porque é que achei, então, que podia apostar em Heartbreak is The National Anthem? Porque o Rob Sheffield é jornalista da The Rolling Stone e já conhecia o trabalho dele como jornalista. Se devia ter apostado? Bem…

Heartbreak is the national anthem promete dar um olhar íntimo sobre a vida e música da Taylor pelas palavras daquele que — diz a sinopse — é o jornalista musical “preferido e em quem a Taylor mais confia”. Se não tivesse lido o livro até podia achar que era verdade. Depois de ter lido tenho sérias dúvidas. Em primeiro lugar, o livro é completamente desorganizado e não segue qualquer linha temporal ou outro fio condutor do género. Em segundo lugar, eu sei que qualquer fã adoraria escrever sobre a Taylor de uma perspetiva pessoal, mas dispensava tanta experiência pessoal — parecia o My Week With Marylin, mas em chato.

Honestamente tive pena de não achar o livro consistente e interessante. A falta de fio condutor, as histórias constantes do autor em concertos da Taylor não acrescentam valor, as histórias de fofocas e teorias da internet não me parecem assim tão relevantes para estarem expostas num livro da forma que estão…

Embora ache que é cedo para isso, gostava muito de ver uma boa biografia da Taylor, com um bom trabalho de investigação e entrevistas. Este não é um desses livros. Tão aleatório quanto um feed de TikTok de um swiftie, menos importado no trabalho e no impacto da artista do que alguns perfis dedicados a teorias rebuscadas. Não o diria muitas vezes, mas metade do livro parece realmente ser apenas o resultado quase-jornalístico de falar de teorias do TikTok e a outra metade precisava de um melhor sentido de orientação.

Título original: Heartbreak is the National Anthem
Autor: Rob Sheffield
Ano: 2024
Lido entre: 14 e 20 de novembro de 2024

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falar piano e tocar francês [martim sousa tavares]

A beleza que há na arte (ou não), no primeiro livro do Martim Sousa Tavares.

Tenho para mim que o Martim Sousa Tavares podia ser perfeitamente um nepo baby que vive disso e ninguém ficaria chocado. No entanto, calha que decidiu ser maestro e dono de uma enorme cultura geral, o que o torna uma das pessoas abaixo dos 40 anos mais interessantes de ouvir. Tinha curiosidade sobre se também seria uma das mais interessantes de ler.

Falar Piano e Tocar Francês, primeiro livro do Martim, apresenta-se como um ensaio que pretende obrigar à reflexão sobre o modo como nos relacionamos com a arte. Orientando-nos para os seus gostos sem nunca nos obrigar a concordar, debate a forma como vemos a arte e a beleza que dela tiramos.

Acredito que a função primordial da arte é a melhoria do homem em sentido individual e colectivo. Para além de poder ser agradável, o seu efeito desencadeia mecanismos de raciocínio, reflexão, curiosidade e sensibilidade que se traduzem naquilo a que podemos chamar «educação pela arte» e produzem em nós um crescimento como o que se alcança através do exercício da filosofia ou da matemática, mas também da socialização e do debate de ideias.

Como disse, acho o Martim uma das pessoas mais interessantes de ouvir (abaixo dos 40 e não só) e foi muito bom constatar que é, também, uma das mais interessantes de ler. A escrita do Martim parece capaz de levar até o menos interessado em arte a querer lê-lo. Com capítulos curtos, uma escrita fluída e simples, mas não simplista, dei por mim a pensar que adorava ter tido este livro durante o mestrado, porque ia adorar citá-lo em ensaios em que fingia perceber algo sobre alguma coisa.

Ao contrário de mim, o Martim não precisa de fingir perceber algo sobre alguma coisa e, por isso, esta leitura torna-se muito fluída e rica culturalmente. Não há sobrancerias ou lições de moral (ou de gosto), mas há, sim, uma enorme partilha enriquecedora de perspetivas. Não deixes que a música clássica ou alguma vertente da arte te demova — o único pré-requisito necessário para compreender o que o autor nos diz é compreender a língua portuguesa. Conheças ou não as peças de arte de que nos fala, não há nenhum momento em que isso prejudique aquilo que daqui retiramos. Espero que seja o primeiro de muitos livros.

Título original: Falar Piano e Tocar Francês
Autor: Martim Sousa Tavares
Ano: 2024
Lido entre: 11 e 14 de novembro de 2024

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aquário [capicua]

Mais uma voltinha, mais um livro de crónicas — e um pedido para considerarmos a Capicua uma das melhores a trabalhar com palavras.

Este ano reaproximei-me da música da Capicua e consegui descobrir uma ligação muito mais próxima com a rapper e escritora portuense. Madrepérola, álbum de 2020, será um dos mais ouvidos do meu ano e Aquário, o primeiro livro, publicado em 2022, tem uma grande possibilidade de ser um dos meus favoritos do ano. Estando agora muito familiarizada com as crónicas da Capicua, Aquário, que reune crónicas e poemas, permitiu-me ir um bocadinho mais além e descobrir os textos que ainda não conhecia e que tanto me disseram.

Já se sabe que tenho um amor especial por crónicas, mas realmente é difícil não o ter quando estou constantemente a cruzar-me com cronistas que conseguem, em poucos parágrafos, brincar com as palavras com tanta simplicidade e engenho. Não importa o tema, a crónica consegue captar a essência de quem a escreve e abre pequenas janelas para aquelas realidades que nos são apresentadas.

A escrita tem a dupla função de ser lúdica e eminentemente confessional. De ser oficio, filigrana, engenho e técnica, para ser vómito, catarse, digestão. Essa perfeita alquimia que transforma merda em ouro, as dores da existência em pequenas vitórias pessoais e estéticas, os grãos de areia em pérolas, como as ostras, e todas essas metáforas que resumem a criação. Essa capacidade de sobreviver apesar da mortalidade, ensaiar a imortalidade, brincar a Deus, ser livre, como tentam os artistas e alguns têm a ilusão de conseguir.

A escrita tem sido isso tudo e um lugar no mundo, um espaço de acolhimento e desafio, um conforto desconfortável. Simultaneamente insuficiente para conter todas as ideias e ambições, e assoberbante precisamente por isso, mas também por todas as folhas em branco a encarar. (Esperemos que de frente.)

Está na altura de dizermos que a Capicua é uma das melhores que temos a trabalhar com palavras em Portugal — nas letras de músicas e nas crónicas. Quase me atrevo a dizer que será uma das melhores em tudo o que decidir escrever. Fale de maternidade, política, feminismo ou música, a Capicua ensina o seu ritmo às palavras, certa de que a escrita é um instrumento que se afina a si próprio.

Aquário é uma bela forma de chegar à Capicua para lá da música, sem que esta deixe de estar presente. Entre diários de quarentena, balões de São João e histórias familiares, acho que fiquei a gostar ainda mais da escrita da Capicua aqui. Sei que a pergunta é ingrata, mas para quando o próximo?

Título original: Aquário
Autora: Capicua
Ano: 2022
Lido entre: 7 e 10 de novembro de 2024

aquário capicua

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lisboa, chão sagrado [ana bárbara pedrosa]

Novembro trouxe participação em dose dupla no Alma Lusitana: a oportunidade para conhecer a escrita da Ana Bárbara Pedrosa.

Há algum tempo que tinha curiosidade em descobrir a escrita da Ana Bárbara Pedrosa, no entanto fui sempre deixando para trás. Como ela era uma das autoras do mês do Alma Lusitana encontrei a oportunidade certa para a ler e pedi à Andreia que me emprestasse Lisboa, Chão Sagrado, o primeiro livro da autora.

Lisboa, Chão Sagrado traz cinco personagens: Eduarda, Mariana, Noé, Matias e Dulcineia. Inicialmente, parece que Eduarda e Mariana serão o foco da história, um amor entre duas mulheres com uma grande diferença de idades, mas rapidamente Noé se envolve, e depois Matias e ainda Dulcineia, mostrando que as ligações entre si são mais fortes do que podia parecer. Entre Portugal e o Brasil — e um saltinho à Palestina —, é um livro em que estas personagens navegam entre o amor e o desamor, a tristeza, o luto e até a decadência.

— Em Lisboa, você pode decidir ficar um dia em casa lendo, assistindo tevê. No Rio, não dá. A cidade te puxa para fora, a vida é voltada para a rua. Você dorme e quase sente culpa disso, parece que tá virando as costas à vida.

É um livro cru, arrojado, com uma certa animalidade que parece ultrapassar até as cenas mais sexuais de todo o livro e as tão comuns dificuldades de comunicação — umas vezes vindas pela língua, outras pelo facto de serem humanos. No entanto é também um livro em que temos a simplicidade do desejo de quem tenta encontrar-se nos outros sem saber onde mais se procurar.

Confesso que, apesar do feedback que a Andreia partilhou, não contava com um livro com tanto conteúdo sexual. Não me incomodou, mas surpreendeu-me: é realmente arrojado uma autora portuguesa se estrear assim. Não acho que este vá ser um daqueles livros que me vai marcar durante muito tempo, mas abriu-me as portas à obra da Ana Bárbara, onde acredito que regressarei no futuro.

Título original: Lisboa, Chão Sagrado
Autora: Ana Bárbara Pedrosa
Ano: 2019
Lido em: 17 de novembro de 2024
Gatilhos: conteúdo sexual explícito

lisboa chão sagrado Ana bárbara pedrosa

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a célula adormecida [nuno nepomuceno]

Um dos autores de novembro do Alma Lusitana é o Nuno Nepomuceno, a desculpa ideal para finalmente o ler…

Não leio muitos thrillers e policiais, mas, dentro do género, aqueles de que mais gosto são os que pertencem ao subgénero dos capítulos curtos e ritmo frenético. Se a isso juntarem o professor-universitário-vira-assistente-de-investigação e temas-religiosos-políticos-atuais então eu estou lá. Que é como quem diz: ainda tenciono terminar a saga do Dan Brown e li vários do José Rodrigues dos Santos. O suficiente para andar de olho no Nuno Nepomuceno há vários anos. Quando a Andreia o escolheu como autor de novembro do Alma Lusitana decidi que esperaria por essa altura para o ler e aproveitei o facto de vários livros estarem disponíveis no Kobo Plus. Escolhi começar a série Afonso Catalão e parti para A Célula Adormecida.

Este livro segue a receita supra-citada: Afonso Catalão é um professor universitário solitário da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Especialista em Política, é chamado a falar sobre os acontecimentos mais recentes de Lisboa: um miúdo fez-se explodir num autocarro no Marquês de Pombal e o autoproclamado Estado Islâmico assumiu autoria dos ataques. Passado durante o mês do Ramadão, a história liga Afonso Catalão a Diana, jornalista destemida que o entrevista e que pretende investigar o alegado suicídio do homem que tinha acabado de vencer as eleições legislativas, inclui a família de refugiados que fugiu da Síria e perdeu a mãe no Mediterrâneo e não deixa de lado o imã da mesquita lisboeta.

No início estava a gostar do livro e da escrita, mas o livro acabou por não funcionar totalmente para mim. A estrutura é exatamente como eu gosto de ler neste tipo de livros e achei positivo não haver tantos comentários machistas como muitas vezes acontece neste género, no entanto em certos momentos senti que a escrita precisava de ser mais limada em vários pontos. Por um lado, gostei do contexto político e gosto mesmo de livros com este tipo de estrutura. Também é fácil criar empatia com as personagens e a atualidade dos temas cativa logo. Por outro lado, acho que faltava uma edição melhor, houve várias cenas que não funcionaram para mim e que acho que podiam estar mais bem escritas — ou não acrescentam qualquer relevância à história ou criam estereótipos ou fazem cair por terra alguns detalhes da personalidade das personagens. Sinto que passei as últimas 150 páginas irritada com as escolhas do autor e acho que só depois de me esquecer dessa sensação poderei pensar em voltar a ler algo dele. Não fui tudo mau, mas aquelas cenas conseguiram estragar aquilo de que tinha gostado.

Título original: A Célula Adormecida
Autor: Nuno Nepomuceno
Ano: 2016 (edição Cultura: 2020)
Lido entre: 1 e 6 de novembro de 2024
Gatilhos: racismo e discriminação, saúde mental, luto, violência, violação, guerra, machismo, autoflagelação, discriminação religiosa, terrorismo

a célula adormecida Nuno Nepomuceno

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o meu treinador [joana bértholo]

O que é que o desporto de alta competição e a escrita têm em comum? Mais do que o esperado, pelo menos é o que a Joana Bértholo conta…

Estava para ler *Augusta B.* quando comprei O Meu Treinador. Podia ler depois, mas pelo menos já estaria à minha espera na biblioteca do kindle. Não teve de esperar muito, é certo. A escrita da Joana Bértholo parece deixar-nos a pedir mais e, por isso, fui para um género diferente da sua escrita: o ensaio.

O Meu Treinador é um ensaio sobre o dia-a-dia de um atleta de alta competição, relatado na primeira pessoa por Joana, que foi nadadora e triatleta. Impulsionada pelos Jogos Olímpicos, Joana conta como era o seu quotidiano de treinos, reflete sobre o que a fez desistir e ainda dá um passo naquilo que mais me fascina: a relação entre o desporto e a escrita.

Pego no telemóvel, penso que o mais fácil será escrever-lhe, perguntar como correu, felicitá-lo, mas pouso-o de seguida. Afinal, escolhi não pertencer a esse mundo, esse mundo que é dele. Em lugar de enviar telegramas para vidas passadas, decido ir dormir. Desligo o televisor e vejo o meu reflexo no ecrã negro. Pergunto à silhueta plasmada na madrugada: os caminhos que não tomamos continuam lá?

O mais perto que tive de ser desportista foi ter feito parte do grupo de dança na escola secundária. Não sei nadar, era terrível em educação física e só sou realmente boa a assistir a jogos, no entanto sou dada a caminhadas e tive uma fase na universidade em que tentei correr. Apesar de tudo isto, sou constantemente apanhada a comparar o exercício físico ao exercício da escrita.

Estava longe de conhecer a realidade do desporto de alta competição português, muito menos em modalidades como a natação ou o triatlo. Não sendo sequer modalidades que acompanho, confesso que parti para o livro com algum receio — infundado, claro. Este ensaio não é um relatório técnico e a Joana envolve-nos facilmente nas suas palavras.

O Meu Treinador acaba por ser uma reflexão interessante sobre o desporto, a competição, a rotina e o que fica (e o que podia ter sido) de algo que fez parte da nossa vida de uma forma tão intensa e exigente como a competição. Achei-o particularmente interessante porque não há assim tantos relatos ou reflexões em primeira pessoa sobre desportos de alto rendimento em Portugal, principalmente em exemplos jovens, e, se calhar, faziam falta.

Título original: O Meu Treinador
Autora: Joana Bértholo
Ano: 2023
Lido entre: 31 de outubro e 1 de novembro de 2024
Gatilhos: saúde mental, distúrbios alimentares, abusos

o meu treinador Joana Bértholo

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intermezzo [sally rooney]

Finalmente, livro novo da Sally! Finalmente, Intermezzo!

Tinha saudades. Não há outra forma de o dizer — foi mesmo assim que me senti quando peguei no kindle na manhã de 24 de setembro. Tinham sido três longos anos sem um livro novo da Sally Rooney e Intermezzo veio finalmente trazer algo novo da escritora irlandesa. Aguardei setembro com muitas expectativa e, apesar de ter receado que o cansaço e trabalho extra me impedissem de entrar na história, aproveitei este livro com uma calma meio imposta, mas agradável. Li-o devagar, muito mais do que queria, mas o Peter e o Ivan entraram na minha vida e não me parece que vão sair tão cedo.

Intermezzo traz-nos dois irmãos que parecem ter pouco em comum. Peter, advogado, 30 e poucos anos, rico, aparentemente com uma vida quase perfeita e com uma postura quase imperturbável. Depois da morte do pai começa a automedicar-se e vê-se na difícil tarefa de tentar gerir duas relações — com Sylvia, a ex-namorada que ama desde sempre, e com Naomi, a estudante universitária despreocupada que parece usá-lo apenas para sexo e dinheior.

Ivan, por sua vez, tem 22 anos, é jogador de xadrez, solitário e desajeitado socialmente. Após participar num evento de xadrez conhece Margaret, uma mulher mais velha, com passado complicado.

Other people might experience these feelings all the time, whatever they are. Strong, powerful feelings of happiness, satisfaction, protectiveness. It could all be very ordinary, in the aftermath of mutually pleasant episodes like just now. Or even if it’s rare, to have a few times in life and no more, still worth living for, he thinks. To have met her like this: beautiful, perfect. A life worth living, yes.

Comecemos por expectativas. Tinha curiosidade em ver como a Sally escreveria do ponto de vista masculino e como seriam estes dois irmãos, no entanto não sabia bem o que esperar além de personagens complexas — e estas foram muito complexas mesmo.

Intermezzo é um livro muito mais lento do que esperava e, por isso, é também um pouco pesado, até porque nos mostra com detalhe aquilo que se vai passando na cabeça de cada um. Por mostrar isto há uma diferença notória nos capítulos do Peter e nos capítulos do Ivan. O Peter mal deixa respirar, constantemente numa espiral louca de pensamentos, e o Ivan um pouco mais contido, mais meditativo.

A primeira sensação que tive foi a de que não parecia um livro da Sally, como se ela estivesse a entrar numa nova era ou estivesse a testar novas formas de contar histórias. No entanto os pormenores estão lá.

Como disse, achei este livro mais pesado e muito triste. Talvez tenha vertido algumas lágrimas. Não sei se seria o livro que recomendaria a quem nunca leu a autora, mas, ao mesmo tempo, não consigo deixar de pensar nas camadas que o livro oferece e que, no final, assentam na perfeição umas nas outras. Obrigada, Sally, tinha saudades.

Título original: Intermezzo
Autora: Sally Rooney
Ano: 2024
Lido entre: 24 de setembro e 30 de outubro de 2024
Gatilhos: luto, saúde mental, abuso de substâncias

intermezzo Sally rooney

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poesia [eugénio de andrade]

Pronto, se calhar dois calhamaços de poesia por ano é demasiado.

Pronto, se calhar para este ano já chega de calhamaços de poesia, não é? Comecei o ano com a Obra Poética da Sophia e agora venho falar de outra antologia poética, desta vez Poesia, de Eugénio de Andrade. 672 páginas de poesia. Não sei, amigos, não sei. Quer dizer, até sei. Agora que tenho lido mais poesia começo cada vez mais a pensar que a forma como nos incutem a poesia na escola pode estragar tudo. Cada vez mais acredito que, para gostarmos de poesia, temos primeiro de nos deixar envolver por ela e só depois pensar nas entrelinhas. Se não tivermos de estar primeiro a tentar decifrar os significados escondidos dos versos que lemos vamos certamente tornar-nos mais disponíveis para os poemas. Digo isto com o conhecimento de quem leu três livros de poesia este ano.

Eugénio de Andrade não fazia parte da minha lista de poetas a descobrir, mas decidi que o facto de ele ser o autor homenageado da Feira do Livro do Porto de 2024 era um pretexto interessante para o conhecer e, também, para criar uma ligação diferente à Feira. Sem saber muito bem para onde me virar, escolhi Poesia e, por sorte, uns dias antes de a Feira começar uma promoção jeitosinha permitiu-me comprar o livro a um preço muito simpático.

Tu já tinhas um nome, e eu não sei
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.

Há na poesia de Eugénio de Andrade uma simplicidade e beleza nas quais não tinha reparado quando era obrigada a analisá-lo. Muitos dos seus poemas falam sobre natureza e sobre amor — por vezes sobre ambos —, mas parece-me mesmo que muitos deles não pretendem ser muito mais do que são: pequenos repositórios de sentimentos.

Mantenho aquilo que já disse várias vezes: para mim, a poesia tem sido um belo reencontro, sem me sentir obrigada a analisá-la como se a minha média de fim de ano dependesse disso. Agora não tenho nenhum calhamaço poético em vista, mas é ficar atento. Nunca se sabe o que me apetece ler a seguir.

Título original: Poesia
Autor: Eugénio de Andrade
Ano: 2000
Lido entre: 21 de agosto e 8 de setembro de 2024

poesia Eugénio de andrade

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