As histórias começadas e por acabar acumulam-se em pastas no meu computador. Quando eu digo que não é o acto de publicar um livro ou dois que faz um escritor acho que as pessoas não me percebem. Eu farto-me de escrever: no blog, para trabalhos da faculdade, para as actividades extra-curriculares da faculdade. Mas não escrevo ficção a sério há meses, não termino uma história (um livro) há mais de dois anos, não sou escritora. Mas escrevo. Há uns dias abri a pasta onde guardo aquilo que vou escrevendo e dei por mim a pensar como raio é que se escreve um livro? Parece tão difícil, tão abstracto. E eu escrevi quatro e publiquei dois.
Um dos últimos livros que li em 2015 foi o Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão, do Mário de Carvalho. Não sei se conhecem mas este livro é uma espécie de guia prático da escrita de ficção. Na verdade, pensei que seria mais prático. Mas não deixa de ser um bom ensaio sobre escrita de ficção. Achei que me ia dar um novo alento para escrever ficção novamente, como antes, mas não deu. Provavelmente porque nada é como antes, eu não sou como era antes.
O problema de tentar pegar em coisas escritas em idades mais imaturas está nisso mesmo: a forma como víamos o mundo, como o escrevíamos, como o queríamos retratar é diferente. Se fosse escrito hoje, o Teremos Sempre Londres teria menos erros e mais páginas da relação do Miguel e da Carol e o Seja O Que For O Amor iria, certamente, mostrar-vos o lado que ficou por mostrar, porque eu não queria vilões no livro. Mas não foram escritos hoje e não pretendo re-escrevê-los. Tal como a continuação do Teremos Sempre Londres ficou perdida, algures, entre ideias e capítulos que faltava escrever no meio.
Sempre que me tento forçar a escrever um livro acabo por deixá-lo perdido no meio de outras ideias começadas. Escrevo muito mas ficção, que é bonita e eu amo, nem vê-la. E isto acontece porque não escrevemos quando queremos. Nem sempre as ideias e as palavras andam juntas e nós não podemos escrever quando queremos. Escrevemos, sim, quando nos deixamos. É isso. Temos de nos deixar mergulhar num universo paralelo, temos de nos permitir sonhar um bocadinho, tirar os pés do chão e perceber que estamos prontos para dar parte da nossa vida à vida das personagens que decidirmos criar. E eu estou pronta para voltar a escrever assim.
Toda a gente tem as suas fases na vida. Tu é com a escrita, eu é com a dança. Sempre fui uma apaixonada por dança, mas acabei por adormecer uns bons anos sobre o assunto. Há relativamente um ano, voltou-me a dar o bichinho e agora cá ando eu outra vez a dançar quase todos os dias 🙂
É verdade: é de fases. Vamos ver se esta fase traz mais escrita para mim e mais dança para ti 🙂