Estava desejosa de vos falar deste livro desde que ia na página trinta e tal. Metade das pessoas que vão ler este texto nunca ouviram falar deste livro nem do Daniel Joana; a outra metade deve conhecê-lo bem. Afinal, o Daniel é de cá e, por isso, hoje o blog tem um bocadinho mais de Trancoso para dar.
O Daniel é professor, actualmente na Escola Profissional de Trancoso. Desde que começou a dar aulas, em 2008, passou por várias escolas, por vários locais, e ensinou (ou tentou ensinar) dezenas de alunos. Enquanto o fazia, ia escrevendo sobre o que se ia passando nas suas aulas, com os seus alunos. Cobrindo um período de sete anos, este livro não é um mero livro de crónicas. Ao longo de pouco mais de duzentas páginas, percorremos os caminhos que o Daniel percorreu, conhecemos as turmas que ele conheceu, sentimos as dificuldades que ele sentiu e admiramos os métodos que usou para tentar sempre tornar as suas aulas melhores e mais cativantes.
Muitas vezes, durante a leitura, dei por mim a pensar que gostava de ter tido um professor assim. Depois percebi que até tive um professor assim porque, na realidade, o Daniel conseguiu ensinar-me algo com este livro. Ao lermos as histórias que o Daniel nos conta, aprendemos algo, conhecemos algo, o que só mostra que até a escrever o Daniel consegue ensinar sem ter de o fazer.
No fim, para ser sincera, fiquei a pensar nos professores que tive. Já não me recordo do nome de muitos deles, porque já foi há muito tempo ou porque, sinceramente, não gostei deles. Claro que vou lembrar-me sempre da professora Fernanda, que me ensinou do primeiro ao quarto ano, mas a partir daí há professores que são uma memória desfocada. Depois, claro, há aqueles professores que nunca poderei esquecer e deixo-lhes o final deste texto.
A professora Cristina Sá, de Educação Física. Odiei esta disciplina toda a minha vida de estudante. A professora Cristina chegou a dar-me negativa, logo no primeiro período do primeiro ano em que me deu aulas. Isto poderia ter sido o início de uma bela história de inimizade, mas não foi. A professora Cristina foi a única professora que me mostrou sempre que acreditava em mim, mesmo quando eu não acreditava. Foi minha professora durante dois anos e, por mim, poderia ter sido em muitos mais. Quando me disse que me ia dar um 2, algo que ia manchar os meus 4 e 5 do período, fez-me prometer algo. Disse-me que se eu cumprisse a promessa me daria o 3 sem problemas nos períodos seguintes. Passei a levar as promessas muito a sério a partir daí. Tive o 3. E lembrar-me-ei sempre da professora Cristina, que acreditou em mim, que me fez acreditar em mim e que dificultou a vida a todos os professores de Educação Física que tive depois dela: nunca lhe chegaram aos calcanhares.
O professor Aleixo Simões, de Geografia. Foi o meu professor de Geografia nos três anos de Secundário e foi o professor que, até hoje, mais me ensinou. Não, não sou um génio da Geografia nem me recordo de metade da matéria dada pelo professor Aleixo. E até me chateei em algumas ocasiões em que achei que era mais importante dar a matéria que calhava em testes e no exame e o professor ficava horas a falar de algo totalmente não relacionado. Só depois percebi que, na realidade, aprendi mais quando o professor mostrava fotografias das suas viagens, quando nos mostrava filmes e documentários (professor, tive aulas com a Joana Pontes, a realizadora daqueles documentários que vimos vezes sem conta!), quando nos falava da vida e da morte. Nos primeiros meses de faculdade, lembro-me de ter pensado muitas vezes nas coisas que o professor Aleixo nos dizia e de lhe ter confessado que queria ter escrito tudo o que ele nos ensinou e que nada tinha a ver com o programa: é que foram essas as coisas que fizeram aquelas aulas valer a pena, foram essas coisas que moldaram um bocadinho do que sou hoje.
O professor Jorge Trindade, de LEP e TEP. Precisei de umas três semanas para recuperar do trauma da primeira aula: eu não sei escrever, socorro! Aprendi mais sobre escrita e sobre Língua Portuguesa num ano de aulas com o professor Trindade do que em treze anos de escola. Só eu sei o quanto continuo a desejar que toda a gente nesta blogosfera tivesse aulas com ele. O professor Trindade tirou-me o chão na primeira aula e desejei nunca mais ter de escrever na vida. No primeiro mês eu relia cada frase que escrevia mais de duas vezes, só para ter a certeza de que estava tudo bem. Depois de começar a perceber cada vez melhor as regras, o professor Trindade deu-me o chão que me tirou e senti-me uma melhor aprendiz de escritora. Sempre que escrevo um texto e sei que usei bem as regências, agradeço aquelas aulas. De todas as vezes em que penso que nunca serei jornalista, sei que a ESCS valeu a pena por tudo o que aprendi com em LEP e em TEP. Obrigada [vírgula] professor!
Sem esquecer também: a professora
Dulce Monteiro, a quem demos cabo da paciência nas aulas de Inglês de 10.º e 11.º; a professora
Isabel Fonseca e
a professora
Ana Rente, que nunca me deram aulas, mas a quem devo muito mais do que podem imaginar.
Que professores mais vos marcaram no vosso percurso escolar? Vamos partilhar histórias!
Sobre o livro
Título: Desassossego de Ensinar – Novas Vivências de um Velho Ofício
Autor: Daniel Joana
Editora: Esfera do Caos
Ano: 2016
Nota ASW: 10/10
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Fiquei com curiosidade em conhecer mais sobre o livro. Tive uma professora de história, no terceiro ciclo, que me marcou pela dedicação à disciplina que leccionava e, sobretudo, aos alunos. É daqueles professores que sabemos que farão tudo por nós e que podemos sempre contar com eles. Há poucos assim.
Fiquei curiosa com este livro, sempre tive curiosidade em ouvir a perspectiva dos professores :p
Despertaste-me a curiosidade para este livro… Talvez porque comecei imediatamente a lembrar os professores que me marcaram, e por terem sido muitos (felizmente) e ainda os ter guardados num cantinho especial da memória
Que interessante, Sofia! O meu irmão é professor e conta-me muitas vezes algumas peripécias do ensino e das aulas que dá. Acho que este livro pode ser um bom presente para lhe oferecer e eu mesma fiquei curiosa para ler! 🙂
Um beijinho,
Sofia | Monochromatic Wave
Não sei se alguma vez viste a TED talk do Sir Ken Robinson sobre a educação e a criatividade? Acho que ias gostar…
Beijinhos,
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Obrigada pela sugestão; vou espreitar!