Às vezes acho que fechamos os olhos e fingimos que não há mundo além da nossa rua. Reparem que estou a escrever no plural: eu também finjo que não há mundo além da minha rua. Quando, algures em 2015, nos começaram a chegar notícias e reportagens de mortes no Mediterrâneo, de pessoas vindas de África, principalmente migrantes e refugiados, muitos reagiram com surpresa. Não faziam ideia de que isso acontecia, de que milhares e milhares de pessoas atravessavam o mar Mediterrâneo em barcos sem capacidade para tanta gente. Não deixa de ser curioso eu ter terminado, na semana passada, um livro que fala exactamente sobre a imigração na Europa. A questão é que isto foi escrito em 2005! 2005! Já passaram mais de dez anos!
O livro a que me refiro é o Passaporte para o Céu, do jornalista Paulo Moura. Lembram-se de vos ter falado do Longe do Mar? A Bárbara emprestou-me outros livros e este foi um deles. Li-o numa tarde, quase sem fazer pausas. Arrepiei-me de cada vez que lia um testemunho e pensava porra, passaram mais de onze anos e não parece haver uma solução? Depois, claro, fiquei realmente irritada comigo e com o mundo: como é que um problema destes se arrasta durante tanto tempo e, ainda assim, reagem com surpresa quando sabem que um barco com imigrantes naufragou? Pior: como é que ignoram algo só porque acontece há tanto tempo?
Bem, depois de me acalmar com a leitura, lá consegui ler o livro. É, mais uma vez, um livro jornalístico, em que os vários capítulos contam histórias reais das várias personagens, que às vezes se cruzam. As histórias, essas, passam-se entre a praça do Intendente, em Lisboa, e Tânger, Missnana, Marbella ou a Andaluzia. Acho que o livro me deu mais material para pensar do que material para escrever, sinceramente. Por isso, para terem um ideia melhor do tema do livro, vejam a sinopse:
Passei dias com os imigrantes sub-saarianos nas furtivas pensões de Tânger, dormi na aldeia de Rah Rah, na floresta de Missnana, visitei o bosque de Ben Yunes, na fronteira de Ceuta.
Assisti à missa de domingo, numa clareira de Missnana, ouvi os que ficaram doentes ou feridos, os que foram assaltados ou deportados dez vezes e voltaram a pé.
Entrevistei os pastores evangélicos, os líders africanos e os mafiosos marroquinos.Segui até à estrada de Marbella, na Andaluzia, até à praça do Intendente, em Lisboa, as nigerianas condenadas à prostituição pelos seus contratos com a máfia.
O dossier de notícias e estatísticas transformou-se, para mim, na história dos “camarades”. A história que não consigo acabar.
Título Original: Passaporte para o Céu
Autor: Paulo Moura
Autor: Paulo Moura
Editora: Publicações Dom Quixote
Ano: 2006
Nota ASW: 7/10
Nota ASW: 7/10
Isto é um tema que me deixa particularmente sensibilizada. Tenho a certeza de que, se ler o livro, chorarei. É inevitável. As pessoas que têm poder neste mundo preocupam-se demasiado com aquilo que é delas, e acho muito bem, mas esquecerem-se de que estas pessoas não são só um número deixa-me irritada. Há pessoas a viver em campos de refugiados, em pleno inverno, com pouca roupa e numa tenda que deve ser tão fria como o ar que a envolve. É desumano. Tanta coisa que precisa de ser tratada para, de uma vez por todas, dar um lar a estas pessoas sem culpa alguma e os nossos governantes, muitas vezes, preocupados com mesquinhices.
Eu, chorona profissional :p, não chorei, mas fiquei realmente irritada (caso não tenha sido totalmente explícito no texto ahahah). É um livro bom, principalmente para pensar.
É um tema inquietante, que me choca muito. Não conheço o livro, mas gostava de lê-lo. Boa sugestão, Sofia 🙂
Esse tema divide muito as opiniões…
É muito tocante.
Acho que esse livro vai para a minha lista de Leitura Obrigatória.
Beijinhos 🙂
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