Lembro-me perfeitamente daquilo que pensei no primeiro dia de aulas da licenciatura, quando saí da residência em direcção à estação do metro. Estava nervosa, claro que sim. Mas estava entusiasmada porque sentia que tinha milhões de possibilidades à minha frente e podia fazer o que quisesse da minha vida. No entanto, com o passar das semanas e dos semestres, sentia que esse milhão se começava a dissipar. Já não restavam milhões de possibilidades.
No dia em que fiquei licenciada saí de casa e fui até à ESCS. Estava calor e eu só queria passar um bocado de tempo, enquanto esperava que me respondessem aos e-mails que andava a enviar há uns dias. Estava na ESCS quando a última nota saiu e, no momento em que entrei no portal, senti que tinha entrado num portal a sério, que nos leva a outra realidade. Senti aqueles milhões de possibilidades a escapar. Já não podia ser tudo. Já não ia ser tudo. De repente, era como se só houvesse uma possibilidade… e até essa parecia estar a fugir.
Até ao 7.º ou 8.º ano, quis ser muita coisa. Umas a sério, outras só mesmo no gozo. Aquilo que eu queria mesmo ser, antes de descobrir a escrita, era actriz. Nunca fiz teatro nem nada do género. Não tenho cara para ser actriz nem sei se daria uma boa actriz. Mas era aquilo que queria ter sido. Sempre que brincava a algo eu nunca queria ter uma profissão específica. Queria ser algo que me permitisse ser muitas coisas: podia ser uma actriz que virava escritora que acabava por arranjar um programa numa rádio. Podia ter um negócio que acabava por originar outro negócio e ainda outro. Sentia que a vida devia ser assim: não termos de ser só uma coisa. Para mim só fazia sentido assim.
Foi talvez por isso que sentir que só tinha uma possibilidade na vida foi algo que me deixou inquieta. Eu não queria só ter uma possibilidade. Eu não queria que toda a minha vida estivesse destinada a uma possibilidade. Hoje, no dia em que começo a minha Pós-Graduação, sei que nunca tive só uma possibilidade e que nunca terei só uma possibilidade. Talvez às vezes nos esqueçamos disso, talvez às vezes nos pareça tudo tão turvo que não conseguimos ver as nossas hipóteses.
Não sei se algum dia voltarei ao Jornalismo. Não sei, sequer, se esta vai ser a minha vida. Mas vi esta possibilidade e agarrei-a. Pode parecer difícil, pode parecer despropositado, pode, até, parecer estúpido mas quem disse que só podemos ser uma coisa? Quem disse que não podemos voltar atrás e construir um caminho diferente do anterior? Ainda acredito que temos milhões de possibilidades. Às vezes só nos falta ter coragem de as procurar e enfrentar.
Somos muito parecidas. Também já quis muito ser atriz. Talvez porque sendo atrizes podemos ser mil e uma coisas. Sempre fui um espírito muito livre, e com medo da rotina.
Entendo-te muito bem… Tirei Ciências da Comunicação na FCSH e se fosse hoje não teria escolhido a vertente de jornalismo. Apesar de gostar daquilo que faço, sinto-me muito limitada, ainda para mais estando a trabalhar num jornal local. Muito boa sorte para este (re)começo 🙂
Não sei em Portugal, mas na Europa do Norte e Central há muita mas mesmo muita procura na área de Digital Marketing. É todo um mundo e a taxa de empregabilidade ronda os 100%.
Boa sorte para esta nova fase 🙂
Gostei mesmo de te ler, talvez porque me revejo imenso no que escreveste. Nunca quis ser nada, e sempre quis ser tudo. E confesso que me sinto um bocado presa profissionalmente, mas parece que o medo me gela…em compensação, dou largas à minha veia de actriz em palco e à minha criatividade através do blog e da fotografia. Haja sempre escapes. E haja sempre esperança e coragem para mudar! Boa sorte!
Jiji
Boa sorte Sofia 🙂
Tu podes tudo! Força e boa sorte
Sinto-me uma compreendida depois de ler este texto. E a única coisa que te posso dizer é que tens toda a razão, e que tal como tu, encaro a vida desta forma. Decidirmos por sermos apenas uma coisa, só porque sim, acaba por ser triste. Embora a vida seja curta, quem é que nos impede que vivê-la de diversas formas??
Muito bom texto, como sempre!! Estás que parabéns!
LYNE