Há uma música que demorou a entrar na minha vida. Conheci-a porque era impossível não a conhecer. Toda a gente a ouvia e tinha um amigo para quem aquela música era importante, o que motivou a minha proximidade com a música em questão. Gostava da música, mas não era nada de extraordinário. À medida que a ia ouvindo sentia, com todas as forças, que aquela música tinha tudo para me agradar. Não que eu tenha um tipo de música, mas há músicas que eu vou conhecendo e que me fazem perceber que têm tudo a ver comigo. Foi assim com esta música.
Demorei mais de um ano a perceber o que achava da música. Era gira, agradava a muita gente, mas não a tinha ouvido vezes suficientes para perceber se gostava dela ou não. Sei que às vezes complico, mas esta música era especial. Um dia, assim do nada, fui para casa com a música na cabeça. Agora, ouvia-a todos os dias, várias vezes por dia, por isso era normal ficar com ela na cabeça. Mas foram meses disto: ouvia a música várias vezes por dia e, inevitavelmente, ficava a pensar nela durante o resto do dia. Sabia que aquela música tinha tudo a ver comigo e que era óbvio que ia gostar dela, mas não queria. Tenho a mania de querer ser diferente e, por isso, não queria o óbvio, não queria gostar do óbvio.
Mas depois há a altura em que se torna impossível evitar o óbvio quando todos os dias vais para casa a cantar a mesma música. E percebes que adoras aquela música. E não há nada melhor do que ouvir aquela música porque aquela música te compreende a um nível espectacular, aquela música diz-te tudo. Passei meses sem ouvir aquela música e quando voltei a ouvi-la senti aquela felicidade de quem reencontra alguém de quem gostou muito e sente que não perdeu essa pessoa, contra todas as hipóteses. Aquela felicidade de quem sabe que tem ali uma música para a vida.
Porque, na verdade, aquela música entrou na minha vida quando eu não queria mais música na minha vida; fez-me apaixonar por ela quando eu estava cansada das outras músicas; acompanhou-me quando eu não sabia a que música recorrer; fez-me ser mais feliz… aquela música ficou na minha vida quando nada fazia prever que assim fosse. Se calhar já não gosto da música da forma que gostava, mas sei que aquela música vai ser sempre especial para mim. É como aquela história dos livros, lembram-se? O livro que nos entra pela vida dentro como se soubesse que o lugar dele é ali. Foi o mesmo com esta música. É que, sabem, talvez ninguém estivesse a falar de música.