Passaram-me muitas coisas pela cabeça enquanto saía do metro e descia a rua em direcção ao meu destino. E se ficamos sem tema de conversa ao fim de 5 minutos? E se isto se torna insuportavelmente awkward? E a estupidez que é estar a sentir-me nervosa? Sofia, vá lá, estás a ser parva. Virei para a rua certa, orgulhosa por não precisar de dar uso ao Google Maps ou ao Meo Drive, tirei duas ou três fotografias, porque o vício da fotografia anda cada vez pior (ou melhor), e coloquei-me estrategicamente perto da porta de onde a pessoa por quem esperava ia sair.
Regressei oficialmente a Lisboa há menos de um mês. Em Agosto, o último mês em que passei mais de dois dias cá, não tive propriamente vida além de ir a entrevistas de emprego
e ser rejeitada, pelo que a maior parte das pessoas que conheço cá não me viam desde Junho ou Julho. Quando soube que ia regressar fiz questão de informar algumas delas e combinei os típicos lanches e jantares de regresso. Neste dia ia ter um desses encontros.
Fui tomar café com alguém que não via há, sei lá, oito, nove meses. Acho que até foi um bocadinho mais de nove meses. A certo ponto, acho que pensei que não lhe voltava a pôr a vista em cima. Eu sei, que dramática! Nestes meses, no entanto, fiz um esforço para me manter a par daquilo que acontecia na vida dele. Não havia nenhum motivo óbvio, mas senti realmente que valia a pena. E tem valido. Há pessoas que eu acho que vão ser grandes para o mundo, que vão conquistar tudo aquilo a que têm direito: ele é uma dessas pessoas. Daquelas pessoas que me fazem sentir inútil porque tudo o que tenho feito é estudar e escrever livros e blogs. Mas, então, porquê tanto nervosismo? Bem, na realidade, era só medo de ficar sem tema de conversa ou de as nossas vidas terem mudado ao ponto de ser como estar frente a frente com um estanho. Ridículo. Não nos faltou tema de conversa e foi tão bom estar com uma das minhas pessoas preferidas!
Quando o deixei na vidinha dele e fui encontrar a paragem do autocarro que tinha de apanhar, dei por mim a pensar em todos os cafés não concretizados e nos motivos pelos quais não se concretizaram: agora não tenho tempo; quando tiver mais tempo; tenho muito trabalho; etc. E percebi que nunca fizeram sentido, que não fazem sentido.
Quando convidei esta pessoa para um café não sabia qual seria a resposta. Convidei-o para um café e ele respondeu-me na manhã desse dia. Eu tinha coisas combinadas nesse dia, mais tarde. Ele estava a trabalhar, mas conseguia sair um bocadinho. No dia seguinte era impossível. Estive quase a adiar e a lamentar. Então ele diz-me algo e eu só pensei: olha que porra, então tenho tempo até ao que tenho combinado e não aproveito? Mas estou a ficar parva? Afinal, ele ia fazer tempo para mim.
Conversámos durante mais de meia hora porque o meu amigo arranjou tempo para mim. E a partir daquele momento eu soube que há pessoas que sabem arranjar tempo. Gosto de pessoas que não têm tempo mas arranjam forma de o criar. Eu sei o que me vão dizer: às vezes não é fácil criar tempo. Mas… será que não temos tempo ou não queremos ter tempo? Acho que, muitas vezes, não queremos. E, sinceramente, será assim tão difícil fazer tempo?
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Ohhh, o que eu gostei de ler este texto! Revi-me bastante nele, por diversas razões mas, sobretudo, porque passo a vida a queixar-me de que não tenho tempo para nada, mas apesar disso nunca deixei de dedicar tempo de qualidade a tudo aquilo a que realmente me proponho. Nunca deixei nada nem ninguém para trás porque me obrigo a esticar o tempo e só tenho pena de não o conseguir esticar mais! 🙂
Muito bom texto, adorei!
Revi-me imenso.
Beijinhos 🙂
https://dailyvlife.blogspot.pt/
gostei tanto de ler este texto!!
cOMO ESCREVES BEM!
Obrigada!!!! 😀
Fazer tempo é mais que possível! As pessoas é que colocaram na cabeça que não! Mas que texto fantástico, mulher!!! *0*
LYNE