Dear Chester,

Quando eu tinha 11 anos, aconteceram muitas coisas na minha vida e na minha família. Acho que cresci um bocadinho mais depressa por causa disso. Queria ser criança, mas não podia ser sempre criança. Na altura, a música de que gostava era a música que dava nos Morangos com Açúcar, uma série de adolescentes cá de Portugal. Como deves imaginar, a música não era grande coisa. Claro que ouvia outras coisas. Na rádio davam outras coisas e eu sempre gostei de ouvir música dos anos 80. O meu vizinho, mais velho do que eu, tinha no quarto um poster de uma banda que eu conhecia mal. A primeira música que ouvi dessa banda chama-se In The End. Deve ter sido em 2002 ou 2003. Também me lembro de ouvir a Numb na rádio. Mas, por muito que gostasse, era música mais pesada em relação à música pop da televisão.

Em 2006, no entanto, a minha vida estava pesada e a música começou a ser mais pesada. No Natal desse ano, umas semanas depois de ter feito 12 anos, o meu tio ofereceu-me um mp3, o meu primeiro mp3. Lá dentro tinha Nirvana, Faith No More, David Bowie, Black Eyed Peas e Gorilazz. Devia ter mais coisas, mas não me recordo. Em poucos dias passou a ter Linkin Park. A vossa música tocava-me de uma forma estranha. Sentia-me compreendida por alguém, quando nenhum dos meus amigos poderia compreender aquilo por que passava na minha família. A partir daquele ano, soube que sempre que precisasse de ajuda ia encontrá-la ali, na tua voz, nas vossas músicas.

Não o vou contar detalhadamente, mas os últimos onze anos tiveram tantas coisas más que nem sempre percebia o porquê de ter de ser assim. No entanto, mesmo quando achava que não podia contar com quem quer que fosse, podia contar com Linkin Park. Sempre. Encontrava-me na música. Procurava perceber-vos, saber de que eram feitos. Sempre te admirei e acho que na maior parte das vezes não era por seres dono de uma das minhas vozes preferidas ou por seres da minha banda preferida.

Nunca vou compreender aquilo por que passaste porque nunca passei pelo mesmo. Mas sei o que é viver com uma depressão, embora não o saiba na primeira pessoa. E garanto que sei o que é ter uma mente que nos atraiçoa e nos faz sentir num bad neighbourhood. Mas, sabendo tudo o que sabia sobre a tua vida, sempre te vi como uma pessoa incrível, forte, lutadora e especial. Ainda vejo.

Nas últimas quase 48 horas dei por mim a tentar perceber, mesmo sabendo que não há forma de perceber. Tenho saudades tuas e nunca te conheci pessoalmente. Mas eras parte da família. E na quinta-feira a minha família ficou novamente mais pobre. Tenho passado muito tempo a pensar no Mike, no Rob, no Joe, no Brad e no Phoenix. O quanto gostava de poder abraçá-los neste momento. Mas também tenho pensado na Talinda, na Lila, na Lily, no Tyler, no Isaiah, no Jaime e no Draven. Também gostava de poder abraçá-los. Se o meu coração está despedaçado e sinto um vazio tão grande, não imagino como é que eles estarão.

Não te acho cobarde. Não condeno suicídios, porque só cada um sabe a dor que traz em si. Não dou palpites sobre doenças mentais, porque não sou das pessoas que só se lembram delas quando alguém conhecido da praça pública fala sobre elas. Mas sinto a tua falta. Até esta semana o One More Light era um álbum que, para mim, significava seguir em frente, vencer os nossos demónios, perdoar-nos e perdoar os outros. Agora soa a despedida, a dor, a lutar contra demónios mais fortes do que nós… agora tudo soa a despedida, tudo soa tão triste. Dou por mim a pensar no que realmente importará na vida que temos. Será sempre tão difícil libertar-nos de demónios? Estamos a viver em função de algo que vale a pena ou estamos só a agarrar-nos a porcarias que não prestam?

Tenho uma pequena colecção de revistas em que o Kurt Cobain fez capa ou foi alvo de artigos. Não gosto tanto de Nirvana como gosto de Linkin Park, mas no top 3 de bandas preferidas eles estão lá. Sempre quis tentar conhecer melhor a banda e o Kurt, porque nasci depois do Kurt se ter suicidado. Algumas vezes dei por mim a pensar como teria reagido à morte do Kurt se já fosse crescida na altura. Era uma curiosidade mórbida, que nunca quis realmente satisfazer. Nunca quis saber como seria ver o nosso ídolo desaparecer. Agora sei. E dói. Muito.

Vivemos num mundo em que temos de aparentar. Em que copiamos os outros à descarada e já nem nos importamos em disfarçar. Em que temos de ser todos mega inspiradores e boas pessoas e ter vidas perfeitas. Em que sermos realmente nós parece ser impossível. Mas tu e os Linkin Park sempre estiveram à parte disso e por isso sempre foram uma inspiração para mim. É por isso que hoje, mesmo sem me conseguir despedir, quero agradecer-te. Obrigada por teres partilhado a tua voz, o teu talento e um bocadinho do teu mundo. Obrigada pelos Linkin Park e pelos Dead By Sunrise, assim como por todas as vezes em que cantaste, seja com quem fosse. Obrigada por tudo o que nos ensinaste sobre a vida. Obrigada por teres estado lá sempre que precisei, mesmo sem saberes. Obrigada pelo Rock in Rio de 2012. Obrigada por todas as causas pelas quais lutaste. Obrigada por teres existido.

O meu mundo desmoronou por completo na quinta-feira. Espero que encontres paz agora. Talvez já tenhas encontrado o Chris. Se, no que quer que exista depois da morte, os humanos e os cães se encontrarem, procura a Dama. Ela sempre adorou dormir ao som dos teus gritos. Acredita: ela ressonava a ouvir a No More Sorrow ou a One Step Closer. Se a encontrares tenho a certeza de que ela terá uma lambidela para ti. Eu teria um abraço. Um abraço por todas as vezes que a tua música me abraçou também. Remember you’re loved and you always will be.

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