THE HANDMAID’S TALE É A SÉRIE MAIS FORTE QUE JÁ VI

O texto que se segue inclui spoilers das temporadas 1 e 2 de The Handmaid’s Tale.

the handmaid's tale - hulu
Não deve haver muitos casos em que uma adaptação literária seja melhor do que o livro que a inspirou. Eu, pelo menos, nunca espero que seja. Ainda por cima quando o livro é excelente. Acho impossível que a adaptação consiga estar à altura. Não foi o que aconteceu com The Handmaid’s Tale. O livro é muito bom, poderoso e um dos melhores que já li, como, aliás, referi aqui. Mas a série… o adjectivo poderoso não chega para definir. Muitas vezes metia pausa nos episódios para me conseguir lembrar de que aquilo era ficção. Mas será que é?
Há várias diferenças entre o livro e a série. Os acontecimentos do livro estão maioritariamente na primeira temporada e não acontecem na mesma ordem. Tudo o resto acaba por ser um prolongamento e uma adaptação daquilo que achavam que teria acontecido. Talvez por ser mais visual, a série torna-se muito mais forte e choca mais. Mas também nos deixa a pensar numa realidade distópica que talvez não seja assim tão distópica.

Em The Handmaid’s Tale, os Estados Unidos deixaram de existir depois de um grupo religioso ter organizado um ataque. Restam o Hawai e o Alasca. Tudo o resto é Gilead. E em Gilead as mulheres são tratadas de forma diferente: se são férteis então são handmaids, cujo o único propósito é serem violadas para engravidarem e darem filhos aos casais inférteis, que são muitos (algo que terá acontecido por causa da elevada poluição). Apesar de os homens poderosos (os comandantes) serem supostamente inférteis, a culpa é dada às mulheres. Mas há muito mais em Gilead. Uma espécie de campo de concentração, as colónias, para mulheres que, de alguma forma, fizeram algo grave. Homossexualidade é algo que não pode existir em Gilead, sob pena de serem considerados traidores de género. Vejam o que aconteceu à Emily, também conhecida como Ofglen. Aliás, as handmaids perdem a identidade anterior e ganham nomes de acordo com as famílias em que estão. A Offred, por exemplo, chama-se assim graças à junção de “Of” com “Fred”, o comandante da casa onde está. Do Fred. Como se lhe pertencesse.

As mulheres, todas, não importa o estatuto, não estão autorizadas a escrever ou ler. Se forem apanhadas a fazê-lo o castigo é ficarem sem um dedo. Quando o Fred deixou que fizessem isso à Serena fiquei em choque. Na verdade, tenho sempre muita vontade de espancar o Fred. Ao contrário do que acontece com a Serena, que considero uma personagem muito complexa, que nos desperta sentimentos complexos e, por vezes, contraditórios. Mas o episódio mais forte, para mim, foi o 10.º, da 2.ª temporada. Por violarem a June, por a levarem a ver a filha… quando acabei o episódio fiquei em silêncio durante vários minutos.
Mas, se é ficção distópica, como é que dá tanto que pensar? Grupos religiosos que querem dominar o mundo? Discriminação de género? Discriminação de raça? Discriminação por orientação sexual? Colónias para castigar pessoas? Não me parece assim tão distópico. Quando conseguia respirar por me lembrar de que estou a salvo também me lembrava de que há muitas culturas no mundo que têm ideais semelhantes. Gilead nasceu porque, nos Estados Unidos, as mudanças foram implementadas aos poucos e as pessoas não se fizeram ouvir, não deram a devida importância, não souberam ler os acontecimentos. Será que, no mundo real, saberiam? Será este um mundo assim tão distópico?
A terceira temporada de The Handmaid’s Tale chega em breve. O teaser saiu no fim-de-semana.

10 Replies to “THE HANDMAID’S TALE É A SÉRIE MAIS FORTE QUE JÁ VI”

  1. Sou da mesma opinião que tu, é um dos raros casos em que a série é tão boa (se não melhor) que o livro.
    É mesmo forte e revoltante, mas acho que quem tiver estômago deveria ver para ficar mais atento às semelhanças entre a realidade e a ficção.

    Beijinhos!

  2. Eu sou uma grande fã desta série, bebo cada episódio com uma grande intensidade e adoro a capacidade de cada temporada conseguir ser melhor do que anterior. E a verdade é que há ali muita coisa que não está assim tão longe da realidade que vivemos hoje em dia.

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