It takes a village: a importância da comunidade

Eu já fui super stressadinha com as horas a que colocava fotografias no Instagram. Sabia de cor o horário em que havia mais gente activa e publicava sempre a essas horas. Também já tive mais de mil seguidores lá e depois apaguei todas as contas de fãs, de spam e inactivas que me seguiam. Acho que foi o ponto de viragem. O único número que verifico hoje em dia é o das pessoas que vêem as minhas histórias.

Às vezes ainda reparo num ou outro nome que coloca gosto nas fotografias e é óbvio que continuo a ter um feed mais ou menos programado ou, pelo menos, organizado (gosto de o ter bonito, I ain’t sorry). Mas deixei de me preocupar com as horas a que publico e com os gostos que as fotografias geram. Sei lá se a última foto teve 10, 20, 30 ou 50 gostos. E honestamente… who cares?

A importância da comunidade

Há duas semanas fui convidada do #TwitterChatPT. O tema era blogging e comunidades. A Joana enviou-me as perguntas com antecedência e, enquanto as lia e pensava em respostas, dei por mim a analisar esta minha mudança de pensamento e todas as outras que já tive desde que, em 2008, criei o meu primeiro blog. De forma inconsciente, acho que já tinha pensado no conceito de comunidade muito antes, mas foi ao preparar as respostas que realmente perdi algum tempo a pensar em comunidade… na minha nossa comunidade.

Eu também já quis ter milhares de seguidores, que me adorassem mesmo que o meu conteúdo fosse uma merda. Mas eu não me adorava quando fazia conteúdo aquém do que considerava minimamente bom. É por isso que estou constantemente a querer alterar as coisas que partilho. A perder horas a preparar uma publicação. A erradicar rubricas sem aviso prévio. A experimentar rubricas promissoras que não passam da primeira ou segunda publicação. Mas porquê?

Views, comentários, interacção e relações

Uma das questões do #TwitterChatPT era: “Quais os dados que nos podem indicar que criámos uma comunidade à volta do nosso blog?”. Deixou-me a pensar durante algum tempo. Como saber? É bom ver o número de visualizações, é verdade, mas as minhas têm andado mais baixas do que o habitual (culpa da falta de publicações, eu sei).

Os comentários também dão uma boa ideia e eu adoro já saber quem são as pessoas que vão comentar, no matter what. Mas as comunidades não se ficam pelo blog propriamente dito. Cada vez mais extravasam para as outras redes sociais: o Twitter, o Instagram, o Facebook… Toda a interacção que antes existia só dentro do blog agora pode estar em tantos outros sítios.

Mas e a comunidade?

Para mim, os números significam menos quando penso na comunidade que criei, nas relações interpessoais que só existem porque este blog existe também. Foi isso que disse na minha resposta. Cada vez mais sinto que a importância da comunidade é maior para mim.

Há um ditado, de origem africana, penso eu, que diz: it takes a village to raise a child*. Acho que conseguimos aplicá-lo aos blogs. Talvez não seja necessária uma aldeia para criar um blog. Mas é necessária uma aldeia para o manter, para lhe acrescentar valor. Até para sentir que não estou aqui sozinha, a escrever só para mim.

A aposta cada vez maior na comunidade

Tal como já disse, tenho esta necessidade de sentir que estou a fazer algo com conteúdo, com valor. Tenho de sentir que estou a ajudar a criar laços com as pessoas que me seguem. Nem sempre sinto, nem sempre acho que me compreendem totalmente, mas sinto realmente que estão aqui para me acompanhar.

Mesmo agora, em que tem sido difícil publicar regularmente, sinto que continuam por aí à espera das publicações… venham elas quando vierem. Elas estão a ser pensadas, preparadas, mas tem demorado mais. Tenho tentado pensar cada vez mais em conteúdo que solidifique esta relação com a comunidade. Andar a adaptar as publicações ao WordPress tem sido um bom exercício para meditar sobre de onde venho e para onde quero ir. Acima de tudo, o que quero que me acompanhe no percurso.

Conteúdo ainda é rei, mesmo que não queiram viver nesta monarquia

Às vezes ainda dou por mim a pensar se a importância da comunidade e do conteúdo ainda conseguem ganhar à popularidade, aos likes, aos instagram-famous. Não faço ideia. Mas acredito, isso sim, que vale mais fazer bom conteúdo e chegar a quem se importa realmente do que fazer conteúdo supérfluo e chegar a muita gente.

No fundo, acho que, mesmo não sendo demasiado perfeccionista, esta vontade de fazer melhor conteúdo às vezes me faz tender para o perfeccionismo. Para apontar ideias em grande número. Por exigir mais. É por isso que muitas publicações às vezes demoram a sair. E é também por isso que às vezes não sei como obrigar o meu cérebro a parar de ter ideias. Ou obrigá-lo a parar de querer mudar coisas na forma como crio conteúdo para chegar melhor a quem me lê, à comunidade.

Se quiserem saber de que se falou no #TwitterChatPT e, quem sabe, meditar sobre a importância que a comunidade tem para vocês, passem pelo blog da Joana Rita Sousa.


*Tradução: É preciso uma aldeia para criar (ou educar) uma criança.

6 Replies to “It takes a village: a importância da comunidade”

  1. Posso fazer mega clap back a este post? Resumiste bem o que para mim é isto dos blogs e das comunidades e que não é assim tão simples como parece. É por isso que és a máiore!

  2. É fascinante como o nosso foco consegue mudar à medida que compreendemos aquilo que, de facto, faz a diferença! Sinto que todos nós, em algum momento, consideramos a questão dos números, quanto mais não seja pela noção de que estamos a crescer, mas a verdade é que este fator sempre teve pouco impacto na minha dinâmica em rede. E percebi isso quando, por exemplo, passei do Parte do que sou para As gavetas da minha casa encantada. Porque tinha um número de seguidores confortável [na altura, considerava eu], mas a interação já era pouca. No entanto, ver que algumas pessoas fizeram questão de acompanhar a minha travessia valeu por tudo. É mesmo essa sensação de comunidade, que torna tudo especial.
    «e eu adoro já saber quem são as pessoas que vão comentar, no matter what», isso dá um conforto gigante. Porque sabes que as pessoas estão mesmo contigo e fazem questão de marcar presença na tua caminhada!
    É por isto que, para mim, as pessoas serão sempre o melhor da blogosfera [e das redes sociais]!

  3. Faço uma vénia a esta reflexão. Concordo plenamente com o que que escreveste, as comunidades e os conteúdos são, mesmo, o mais importante, os números são acessórios.

  4. Acabaste de dizer tudo. Um blog não é só despejar, não é só números. Existem relações de amizades e as pessoas esquecem-se que 1000 likes não nos levam a lado nenhum,
    Obrigada Sofia

  5. Não podia concordar mais contigo. Mais do métricas, aquilo que nos traz alento e motivação é a ideia de termos criado uma comunidade em redor do nosso blog e que, possivelmente, se extrapola para outras redes. Sabermos que, de alguma forma, ajudámos os outros com o nosso conteúdo (ou porque demos uma sugestão fabulosa, entretemos ou até porque partilhámos algo sobre nós e a nossa fase de vida que trouxe algum conforto a quem está a passar pelo mesmo) e que essa comunidade retribui igualmente com sugestões e carinho é o melhor propósito de se ter um blog, creio eu. Dá uma verdadeira sensação de missão cumprida ?

  6. O melhor de criar conteúdo são as relações que vamos acrescentando à nossa existência e que nos proporcionam momentos de crescimento e evolução! Quantas não foram as vezes em que tal se me sucedeu, ler um post ou ver um vídeo, e sentir que ali, naquele instante, algo me foi acrescido? Maior e mais grandioso do que o número de likes e seguidores, é a qualidade das pessoas e o genuíno apreço ao qual nos dedicam e que, mesmo nós, dedicamos aos demais!! Belíssimo texto, Sofia!

partilha a tua teoria...