A minha primeira escolha para o Uma Dúzia de Livros de Maio não era No Passado e no Futuro estamos todos mortos. Inicialmente, ia ler um livro do Mário Zambujal, da lista para 2020. No entanto, quando o livro do Miguel Esteves Cardoso chegou cá a casa fiquei numa inquietação de quem quer ler os livros novos que chegaram a casa e lá mudei de ideias.
O tema de Maio era um livro português.
No passado e no futuro... somos todos saudosistas?
No Passado e no Futuro Estamos todos Mortos é um livro de crónicas e se há género em que o Miguel Esteves Cardoso atinge todo o seu potencial é na crónica. Neste caso não foi excepção, embora não tenha gostado tanto deste livro como gostei de anteriores.
A primeira parte e a última são muito saudosistas e melancólicas, quase a justificar o título do livro. Confesso que temi que todo o livro fosse assim e achei que não ia conseguir lê-lo caso esse receio se confirmasse. Para ficar em baixo não precisava de um livro. No entanto, as restantes crónicas já não assentam tanto naquelas linhas, o que foi quase um alívio. Não ia ficar triste com aquele livro.
No geral, todas as crónicas, independentemente do tema, mostram o poder de observação excelente que só o MEC parece ter e é isso que me apaixona nas crónicas dele. Esteja a falar de hábitos portugueses ou ingleses, de crianças ou de velhos, ele consegue cativar-nos com poucas linhas.
Separar a obra do autor
Quando falava deste livro no Instagram (@asofiaworld) apercebi-me de que nunca falei sobre um facto curioso na minha relação com a escrita do MEC. O MEC é, como muitos sabem, um dos meus escritores nacionais preferidos. No entanto, eu não concordo com muitas ideias que ele defende. Então se estivermos a falar de política é possível que eu simplesmente não me identifique com ele.
Curiosamente, há dias falei disto com o meu tio. O meu tio não suporta o MEC e falámos da filiação política dele e de separar a obra do autor. Muitas vezes, consigo fazê-lo e facilmente separo a obra do autor, no entanto também há casos em que não consigo fazê-lo. Por exemplo, nos últimos dois anos comecei a chatear-me tanto com a J.K. Rowling que isso influenciou o quanto gosto de Harry Potter e deixei de gostar tanto.
Mas voltando ao MEC. É curioso o quanto discordo dele e como isso não influencia o que acho das crónicas dele (excepto quando ele fala de Deus. Ou de política). Tradicionalmente gostamos mais de autores com os quais também nos identificamos fora da ficção, mas e quando adoramos o que escrevem, mas defendemos ideias opostas? Nem sempre é fácil separar a obra do autor. Às vezes exige um esforço hercúleo, às vezes é impossível, outras vezes é relativamente simples. Neste caso é simples porque gostei das crónicas antes de saber como tinha sido a vida do autor.
Título original: No Passado e no Futuro Estamos Todos Mortos
Autor: Miguel Esteves Cardoso
Ano: 2019
Comprar*: Wook
*ao comprares através destes links eu ganho uns cêntimos, que poderei usar para comprar mais livros.
Ia ler este livro ainda em maio, mas já o reservei para um dos temas do The Bibliophile Club 😀
Honestamente, fiquei rendida a esse lado mais saudosista e emocional de MEC, quando li Como é Linda a Puta da Vida, vamos lá ver como corre com este.
Tento sempre separar a obra do autor, já para evitar situações como as que referes. Mas é claro que nem sempre é fácil
É mesmo isso! Não concordo nada com as coisas que ele defende mas os livros… adoro!