Nos últimos dias tenho andado menos produtiva e mais pensativa. Algo em que tenho pensado muito é nas áreas cinzentas. Não é a primeira vez que este assunto me faz pensar, mas é a primeira vez que me faz escrever. Desta vez, surgiu em conversa com o meu tio.
Há uns anos, numa discussão, disse a alguém que o mundo não era cor-de-rosa, que tinha muitos tons escuros e que muitas vezes era demasiado preto. Na vida, a verdade é que as coisas não são só pretas nem só brancas. Muito menos são apenas pretas e brancas. Era mais simples se assim fosse, se tudo se dividisse entre bom e mau, preto e branco, bonito e feio. Mas e as áreas cinzentas?
As áreas cinzentas fazem-nos pensar naquilo que estamos a fazer, a defender. As coisas não são verdades universais, apenas de uma cor. Há tantos tons de cinzento pelo meio. Não acho que pensar nas áreas cinzentas nos torne melhores ou piores, mas acho que o facto de não pensarmos nelas nos tira uma parte substancial do nosso campo de visão.
Vamos por um exemplo: assumimos, quase falaciosamente, que todas as pessoas que roubam são más e que todas as pessoas que não roubam são boas. Mas e se alguém roubar uma maçã porque está numa situação tão miserável que não tem dinheiro para comida? Será que essa pessoa é má? Sim, roubou, logo cometeu um crime, mas será que é condenável que ela o tenha feito?
As áreas cinzentas perturbam-nos porque temos receio de que nos façam parecer egoístas, racistas, xenófobos, mas é graças a elas que conseguimos estar seguros de que ser bom ou mau não é característica da nossa classe social, do nosso país de origem, da nossa cor de pele. E é também graças a elas que sabemos que ninguém consegue ser totalmente bom nem totalmente mau.
As áreas cinzentas tornam-nos mais curiosos, mais acessíveis. Fazem-nos perceber os vários lados da equação e às vezes fazem-nos sentir que estamos a ir contra aquilo em que acreditamos, mas temos de aceitar que nem sempre é uma incompatibilidade defender que roubar é mau, mas que aquela pessoa que roubou para comer não é má.
O grande problema das áreas cinzentas é que nos deixam muitas vezes no limbo, a questionar se estamos a ser corretos ou a assumir dois pesos e duas medidas. E, por um lado, por mais que nos deixem desconfortáveis, ainda bem que existe. Porque assim obrigam-nos a pensar e a compreender que cada caso é um caso e que não podemos ser tão céleres a julgar
Gostei muito deste texto, Sofia. As zonas cinzentas fazem-nos pensar. Acredito que todos temos “luz e trevas dentro de nós” (já dizia Sirius Black). Todos somos capazes de coisas boas e más. Vamos fazendo escolhas conforme as situações e é isso que nos vai definindo. A zona cinzenta é mais ou menos onde fica essa decisão que tomamos. Não será assim?
Acho que é exactamente isso: é onde fica a decisão que tomamos.