Estás a par da polémica da semana? Não? Ui! Deixa-me contar-te tudo! A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recebeu várias queixas sobre uma série de animação que a RTP 2 estava a transmitir no espaço Zig Zag. Esta série de animação, criada em França, dedica cada episódio a uma mulher que tenha mudado o rumo da História. Houve quem não tenha gostado.
Inicialmente, a RTP retirou o episódio do ar, mas a série voltou agora a estar disponível no serviço RTP Play e o episódio 19, que tinha gerado mais polémica, teve nova dobragem para a linguagem se adequar ao público-alvo, que ronda os 10-13 anos. Ora, com toda a polémica confesso que fiquei intrigada. Não conhecia a série, mas quis logo ver. E foi isso que fiz ao longo do dia de ontem.
Os episódios são curtinhos, com mais ou menos três minutos de duração, e as histórias são realmente inspiradoras. Ainda não vi tudo, mas fiz questão de ver o tal episódio, sobre Thérèse Clerc, que levou à polémica. Sabes porquê? Porque Thérèse Clerc defendia que as mulheres deviam ter liberdade de escolha sobre o seu corpo e, portanto, deviam ser livres de abortar e porque há uma cena em que Clerc beija outra mulher.
Precisamos de mais séries como "Destemidas"
Aquilo que me conquistou em Destemidas foi o objectivo bem executado de mostrar as histórias de várias mulheres lutadoras, inspiradoras e que marcaram a História. Acho que é muito bom para as crianças e pré-adolescentes haver a hipótese de conhecerem pessoas com vidas diferentes, que podem inspirá-las e dar-lhes algo com que se identificarem ou mesmo algo que as possa inspirar.
Enquanto crescia nunca consegui identificar-me totalmente com aquilo que via porque não era assim tão comum encontrar algo em que houvesse famílias monoparentais. Se calhar nunca pensaste nisso, mas há tantas famílias assim e tão poucas a aparecer em histórias.
As crianças precisam de variedade naquilo que vêem. Precisam de se sentir representadas, através de famílias, de formas de agir e de pensar ou de personagens LGBT+. Precisam de ganhar mundo, de ver realidades e histórias diferentes daquelas a que têm acesso diariamente.
Nisso, Destemidas faz o seu papel. Não só porque apresenta trinta mulheres que, contra todas as expectativas, conseguiram dar a volta a dificuldades e se tornaram símbolos de algo maior, mas também porque mostra a quem vê (menino, menina, não-binário) que não importa o que nos dizem que temos de ser: podemos ser o que quisermos. Não é isso que queremos para as crianças? Que cresçam a acreditar que podem mudar (um bocadinho d)o mundo?
Aliás, talvez nem seja só para as crianças. Eu, a caminho dos 26, senti-me inspirada por aquelas histórias e fiquei muito entusiasmada com a série. Aquelas mulheres lutaram por aquilo em que acreditavam. Também é isso que quero fazer para o resto da vida. Lutar por aquilo em que acredito. E isso ninguém pode mudar, nem uma queixa de pessoas que se recusam a ver além do mundo pequenino e fechado onde vivem.
Título original: Culotées
Título em português: Destemidas
Narrado por: Joana Ribeiro (versão portuguesa)
Criador: Pénélope Bagieu
Anos: 2020
Já tinha ouvido falar da série, mas ainda não tive a oportunidade de a ver. Tenho mesmo que me dedicar, porque sinto [depois de ler esta publicação ainda mais] que estou a perder conteúdo de enorme qualidade.
A polémica só veio corroborar o quanto ainda somos uma sociedade com muitos preconceitos e pouca aceitação
Tens de ver! Acho que vais gostar muito da série! Eu entretanto já vi tudo o que a RTP Play tem disponível e adoro tudo. ?