Guest Post: Blogues e Organização

A Pertinência de uma Presença Blogosférica Organizada
Andreia Morais
Blogger

 

Este texto foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico. Foi escrito para este projecto e é reproduzido aqui com autorização da autora.

 

O meu percurso académico mostrou-me mundos que, até então, nunca tinham tido força dentro de mim para se manifestarem. Porque faltava-me maturidade e pertinência para compreender a sua importância. Logo, não representavam o centro de possíveis reflexões. Mas como todo o crescimento é passível de metamorfoses, tornei-me mais consciente de determinadas dinâmicas e do quanto fazem genuína diferença no nosso quotidiano e na maneira como nos relacionamos com as pessoas e com os objetos.

Permite-me, primeiro, contextualizar o porquê desta associação. Ela surge em consequência de uma questão que transitou do meu mestrado para a vida deste lado da margem, atendendo a que ponderei e escrevi bastante acerca de um dos pilares do ambiente educativo: o espaço e a sua organização. Porque somos confrontados com a noção de que o espaço pedagógico é «muito mais que um amontoado de materiais, mesas e cadeiras» (Cunha, 2013, p:5). Aliás, Reggio Emilia (modelo pedagógico) atribui ao espaço a função de terceiro educador, pela sua importância no processo de aprendizagem da criança (Gandini, 1999). Nós, em princípio, já não somos crianças. Portanto, qual é a relevância deste conteúdo teórico? É que eu acredito mesmo que, independentemente de ter uma estrutura física ou virtual, temos imenso a aprender com as áreas em que nos movimentamos e com aquelas que gerimos/desenvolvemos.

Um espaço à medida

As nossas plataformas expressam as nossas intenções. As nossas preferências. Os nossos sonhos. E a nossa vida. Podem ser um retrato fiel dos passos que damos no exterior. Ou, pelo contrário, distanciar-se dessa premissa. E, tal como uma casa, vamos decorando-as com detalhes que nos façam sentir que lhe pertencemos. É por essa razão que creio que definir um espaço à nossa medida é essencial em qualquer projeto que abracemos. Porque é nosso. E porque é gratificante sentirmo-nos representados. Isso não implica um fechar de portas a potenciais alterações. De todo. Concede-nos é a oportunidade de irmos descobrindo o que funciona connosco. E de mantermos algum controlo neste presente sempre incerto.

No entanto, todos estes apontamentos só resultam se um dos nossos pilares for a organização. Porque é a forma mais fidedigna – e, talvez, intuitiva – de garantirmos que não abandonamos os nossos princípios e as nossas ideias. Além disso, é o que nos permite manter o foco. Não com o intuito de sermos intransigentes nas rotinas, mas com o cuidado de não largarmos a mão de iniciativas que nos complementam.

Uma questão de organização

O método que utilizamos para corresponder aos nossos objetivos é bastante pessoal, até porque aquilo que funciona com uma pessoa não significa que resulte com as demais. E é importante compreendermos isso mesmo, sobretudo porque nos retirará frustrações desnecessárias e manter-nos-á afastados de eventuais comparações.

Quando iniciei a minha aventura pela blogosfera, não tinha propriamente uma linha de organização definida. Encarei sempre as minhas plataformas com o maior compromisso, mas ia um pouco ao sabor do vento, dependendo da resposta da minha inspiração. Aquilo que ainda não tinha aprendido é que o investimento temporal/emocional também a proporciona. E que termos um plano é uma ferramenta poderosa, visto que também impede uma sobreposição de tarefas, enquanto fomenta algo que considero essencial: o estar presente.

Portanto, de modo a usufruir desta experiência da melhor maneira, fui reunindo passos que podem auxiliar na organização do nosso blogue. Para que a consistência seja uma das consequências bonitas do trabalho que partilhamos em rede.

A tua motivação

Será uma dica de organização? Talvez não. Mas é fundamental que penses no motivo que te impulsionou a criar um blogue. Porque é ele que te irá guiar nesta jornada. É o que definirá o teu nível de compromisso. E, caso não esteja claro no teu coração, é provável que tudo o resto, por melhor articulado que seja, falhe. Sabes porquê? Porque falta-te um propósito; falta-te o estímulo certo para avançares.

Periodicidade

Não tem de ser uma componente fixa, porque dependerá sempre da tua predisposição. Contudo, ter este dado presente ajuda a que sejas capaz de definir o tempo de que necessitarás para trabalhar naquele conteúdo. Se, numa semana, quiseres publicar todos os dias, é ótimo. Mas se, na semana seguinte, só conseguires ter uma publicação, não é motivo de alarme, desde que estejas confortável com isso; desde que percebas que o objetivo não passa por criar mais uma fonte de ansiedade. Assim, mantém o plano o mais credível possível e ajustado à tua realidade, para que também te divirtas no processo.

Incluir o blogue na agenda

Criar conteúdo demora. E exige tempo. Mas como é que o potenciamos, se não o incluímos nas nossas agendas? Há alturas em que temos de priorizar outras tarefas, mas incluir o blogue na rotina torna-o visível. E é um excelente lembrete para que não nos esqueçamos do nosso espaço, quando estamos mais exaustos ou assoberbados. Criar tempo para os projetos que nos fascinam não é só uma lufada de ar fresco. É, igualmente, uma maneira de alimentarmos a nossa paixão.

Escrever em avanço

Esta foi, provavelmente, a melhor descoberta de sempre. E, ainda assim, é das adaptações mais simples que podemos abraçar. Porquê? Porque implica aproveitarmos o tempo em que estamos mais inspirados e/ou com maior disponibilidade para escrevermos. Não importa se tiveste uma ideia para um texto que só fazes questão que saia um mês depois. Se ela surgiu, aproveita-a e redigi-a. De coração, sinto que este método fez toda a diferença na forma como me organizo no blogue, porque consigo tratar das publicações com antecedência, sem interferir com outras tarefas, e sentir que os meus pensamentos e a minha imaginação estão a ser valorizados.

Aponta todas as ideias

Vivemos a correr, com infinitas divagações por segundo. Portanto, não podemos estar à espera de nos recordarmos de tudo. Para nos precavermos, e evitarmos a frustração de nos esquecermos de uma excelente ideia, nada como anotarmos cada informação. Podemos, depois, nem a utilizar, mas, pelo menos, temos esse recurso.

Criar um mapa mensal

Um pouco no sentido do tópico anterior, considero importante criarmos um mapa mensal [em papel ou em versão digital], porque isso facilita a disposição e estruturação das publicações que pensaste para o blogue. Além disso, tens mais um estímulo visual para te orientares e para poderes brincar com as partilhas. Porque há alturas em que compreendes que, tendo em conta o panorama geral, determinado texto não faz sentido naquele dia/semana/mês, deixando a ideia de reserva. Assim, nada se perde. Apenas se reorganiza.

Cria o teu nicho, mas não te limites

É tentador, quando começamos, seguir temáticas que se destacam. Seja porque se procura visibilidade, seja porque acreditamos que temos algo a acrescentar sobre o assunto. Mas é importante descobrirmos qual é a nossa voz, até porque nem todos os temas nos interessam. Portanto, perceberes quais são os que mais te entusiasmam é meio caminho andado para que te sintas motivado a criar conteúdo e para que a própria organização aconteça de um modo mais fluído, porque nunca a encararás como uma obrigação. No entanto, também é fundamental saberes que tens toda a legitimidade para incluíres temas que não costumas abordar, desde que te sintas confortável a fazê-lo. Termos o nosso nicho é bom, porque nos dá outra propriedade. Mas assumi-lo não tem de te limitar a explorar novas realidades.

Respeita o teu ritmo e a tua vontade

A plataforma é tua. E tu, melhor do que ninguém, sabes qual é o seu objetivo, qual a linha editorial que pretendes manter e, sobretudo, qual é a tua predisposição mental/emocional/temporal. Sem comparações, organiza o teu espaço como sentes que te faz mais sentido. Porque não há respostas erradas. Tem é de existir um compromisso honesto.

Trivialidades

Usa as tuas qualidades a teu favor. Ou seja, és mais rápido a organizar as ideias quando as escreves no computador? Aposta nessa vertente. No meu caso, sinto que o texto flui muito melhor se, primeiro, o escrever à mão. Embora tenha o dobro do trabalho, no final, compensa. Para além da componente escrita, também sou a autora das minhas fotografias.

À semelhança de tudo o que foi referido anteriormente, anoto os elementos que faço questão de incluir na imagem, organizando-os pelos dias da semana. Desta forma, quando for fotografar, já tenho uma ideia do que pretendo. O que me poupa algum tempo. Contudo, se achas que a fotografia não é o teu forte, mas és bom em design ou ilustrações, esse pode ser o teu caminho – ou podes sempre apostar em bancos de imagens.

Definires um horário de publicação não é crucial, mas pode ajudar a que tenhas tudo mais estruturado, dando-te espaço para que, de seguida, te dediques a outros programas – que incluam o blogue ou não. Em simultâneo, este tipo de organização acaba por criar uma certa fidelidade nos teus leitores, porque já associam que, a partir de determinada hora, há novo conteúdo na tua plataforma.

Considerações Finais

A partilha já vai extensa, mas quero só deixar mais um pensamento: todas as particularidades supracitadas são dicas, não verdades absolutas. Porque somos todos diferentes. Portanto, o segredo é saber adaptar sempre ao nosso contexto.
Visto desta perspetiva, parece que criar e manter um blogue exige imenso trabalho, o que não deixa de ser verdade. Mas torna-se tudo mais intuitivo à medida que descobrimos o nosso caminho e percebemos a dinâmica que resulta connosco. Acima de tudo, divirtam-se. Não se cobrem em demasia. E deixem a imaginação voar, encontrando um porto de abrigo digital.

Referências

Cunha, L. (2013). O enriquecimento do espaço pedagógico à luz de uma nova abordagem ativa. Relatório de Estágio, Mestrado em Educação Pré-Escolar. Universidade do Minho, Portugal.

Gandini, L. (1999). Espaços educacionais e de envolvimento pessoal. In C. Edwards, L. Gandini & G. Forman (org.), As cem linguagens da criança: A abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância (pp. 145-157). Porto Alegre: Artmed.

Sobre a autora
Andreia Morais
Blogger

Andreia Morais. 28 anos. Educadora de Infância de formação. Escritora de paixão. As palavras são a minha melhor definição, porque é através da sua essência que exteriorizo tudo [ou quase tudo] aquilo que me palpita no peito. E, por falar nisso, o meu coração é de Gaia, mas também pertence ao Porto – cidade e clube. Sou feita de livros. Quero conhecer Portugal de Norte a Sul, ao volante de uma Pão de Forma. Faço coleção de dedais. E vivo dentro de um Moleskine, que regista todos os meus pensamentos periclitantes.

É n’ As gavetas da minha casa encantada que habito. E as portas estarão sempre abertas para vos receber.

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Porquê a Andreia e porquê falar sobre blogs?

Assim que percebi que o último guest post de Agosto coincidia com o dia 31, o Dia do Blog, soube imediatamente quem queria a escrever nesse dia: a Andreia. Sigo o blog da Andreia há uns dois anos, penso eu, e logo de início percebi que aquele não era um blog como outro qualquer. Nestes dois anos o blog da Andreia passou a ser aquele que mais visito, seja porque tem publicações diárias seja porque quero só uma dose de inspiração.

À medida que o tempo avança e que vou falando mais com a Andreia vejo-lhe uma paixão e uma dedicação tão grandes que seria impossível falar de blogs sem falar da Andreia. Foi por isso que soube logo que a Andreia ia ser a minha escolha para este tema. Nem precisei de pensar duas vezes ou de pensar em alternativas. A Andreia, a portista que escreve poemas tão bonitos, tinha de ser a minha escolha.

2 Replies to “Guest Post: Blogues e Organização”

  1. Muito obrigada, Andreia, pela inspiração diária ?
    Muito obrigada, Sofia, por teres escolhido a Andreia, para este dia tão especial ???

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