Costuma dizer-se que somos aquilo que comemos, mas será que também somos aquilo que lemos? Dei por mim a pensar nisto não tanto enquanto leitora, mas mais como pessoa que escreve. Que influência têm os livros que lemos? Quando nos aconselham a ler muito para escrever melhor a que tipo de livros se referem? Será que os livros que lemos fazem de nós quem somos?
A importância da leitura para a escrita
Imagina que queres aprender a jogar ténis. Precisas de aprender as regras do jogo, precisas de material e de um local para treinar, precisas de treinar e também convém veres algumas partidas de ténis para perceberes como os outros jogadores se comportam e como jogam. Por um lado, estás a ver o que a tua possível concorrência faz, claro. Por outro lado estás também a estudar formas de melhorar o teu jogo.
Na escrita é a mesma coisa. As regras do jogo serão as da ortografia e as da gramática. O material é o papel e a caneta e o lápis ou o computador. O treino são todas as páginas que vais escrevendo. E a leitura é o equivalente a ver partidas de ténis de outros jogadores.
A leitura é fundamental para a escrita porque te dá uma noção daquilo que faz um livro, de como os outros escritores escrevem, de que tipos de linguagem são usados e, acima de tudo, porque te ajuda a começar a imaginar histórias de outros antes de começares a imaginar as tuas próprias histórias.
Tendo isto em conta, é claro que aquilo que lemos vai ter algum tipo de influência na nossa escrita ou na forma como a encaramos. Mas, então, que livros devemos ler para escrevermos melhor?
Que livros devemos ler?
Já tive muitas opiniões sobre este tema, mas acabei por concluir que os livros que devemos ler para escrever melhor são… todos.
De ficção e de não ficção. Do género que escrevemos e do género que não escrevemos. Livros bons e livros maus. Livros inesquecíveis e livros totalmente esquecíveis. Ninguém melhora na escrita a ler um só tipo de livros. Aliás, a vida de leitor é bastante pobre se só lermos um tipo de livros.
O lado bom dos livros maus
Mas como é que ler livros maus me vai ajudar a escrever melhor? É um erro achar que os livros maus não têm qualquer tipo de efeito em nós. Ninguém quer ler uma sucessão de livros maus, mas um ou outro livro mau pode ser exactamente aquilo de que precisamos para perceber a forma como não queremos escrever.
Voltando ao exemplo do ténis. Se queres ser melhor no ténis vais querer ver os teus erros e os erros de outros jogadores para perceberes o que deves evitar e para teres uma noção melhor do que precisas de fazer para melhorar. Muitas vezes é confrontando os erros que consegues melhorar o teu jogo e, garantidamente, também é a confrontar os erros que consegues melhorar na escrita.
Somos aquilo que lemos?
Em jeito de conclusão, concluo que sim, somos aquilo que lemos. Não somos exclusivamente aquilo que lemos, mas o que lemos molda-nos, dá-nos mundo e perspectiva e também ajuda a formar a nossa voz, a nossa identidade enquanto pessoa que escreve.
Já li muitos livros maus e espero continuar a cruzar-me com eles. Aprendo muito mais com livros bons, mas os livros maus ensinam-me sempre o caminho que não quero seguir. Acima de tudo, ninguém consegue ser grande coisa na escrita se não ler. Não importa o que se quer escrever: a leitura é um passo fundamental para escrever.
A fotografia que ilustra este texto foi inspirada num vídeo do @jordi.koalitic. O livro destacado é Contos da Sétima Esfera, do Mário de Carvalho.
Somos tudo o que vivemos. E se os livros já nos moldam e nos fazem crescer apenas como leitores, quando escrevemos ainda são mais importantes.
Durante muito tempo, achei que a leitura e a escrita eram dissociáveis, até porque são áreas – e artes – com representações autónomas. Depois compreendi o quanto estava errada. E, hoje, sei que escrevo muito melhor porque leio; porque os livros que me acompanham me abrem portas que nunca achei que existissem.
Partilho da opinião de que somos aquilo que lemos