wasted like all my potential

They told me all of my cages were mental
So I got wasted like all my potential
And my words shoot to kill when I’m mad
I have a lot of regrets about that

Cá estou eu, sentada em frente ao computador, a debater-me mentalmente com o facto de não saber como dizer o que quero dizer sem parecer que só o estou a dizer por dizer. Por isso, deixa-me começar por te falar sobre uma música da Taylor Swift. Sim, outra vez.

this is me trying...

Já sabemos que o folklore é um álbum absolutamente genial, cheio de músicas tão bem escritas que parece impossível que a Taylor não receba o Prémio Nobel da Literatura. Entre músicas extraordinárias, há várias que me dizem algo mais, mas há uma que me diz tudo: this is me trying.

Acredito que a minha relação com esta música se acentuou à conta de dois versos: They told me all of my cages were mental / So I got wasted like all my potential. Porquê estes versos? Bem, aqui estamos novamente na parte difícil do texto. Portanto vou partir do ponto de uma história que habita no meu computador há uns anos.

Na pasta onde guardo tudo o que é de escrita, há uma outra pasta com histórias que nunca evoluíram, que ficaram meio perdidas. Uma dessas histórias chama-se King’s Bench Walk e nunca passou das 20 páginas de escrita. No entanto a ideia está lá e volta a mim várias vezes: um rapaz perde a paixão pela música depois de viver uma carreira de êxito mundial numa banda rock alternativo. Quando a banda decide separar-se, o rapaz escolhe uma cidade europeia aleatória para viver (em Portugal) e descobre, por um número de acontecimentos que agora não importam, que, afinal, não perdeu a paixão pela música… só perdeu a paixão pela música que estava a fazer anteriormente.

No fundo, esta história pretendia ser uma história sobre paixão e amizade (esta parte deixei de fora da minha explicação, não vá eu escrever isto tudo um dia) e tornou-se mais pessoal do que eu imaginaria por um motivo: às vezes também eu penso que perdi a paixão pela escrita.

There. I said it.

Pronto, aqui está: às vezes penso que perdi a paixão pela escrita. Não acredito que a tenha perdido realmente, mas não deixo de pensar que sim.

A verdade é que ando nisto há metade da minha vida. Em Maio fará catorze anos desde o dia em que, por causa de uma aula de Estudo Acompanhado, escrevi a minha primeira história de ficção. Nos dez anos que se seguiram escrevi contos, livros, entrevistas, blogs, reportagens, notícias, artigos de opinião, crónicas. Milhares e milhares de palavras.

Apesar de o momento de entrada na universidade ter sido um ponto dominante na mudança da minha escrita, acredito que o momento de saída foi mais marcante porque foi quando comecei a perceber que nas milhares de palavras que estava a escrever estava a perder o rumo da ficção. Senti que o recuperei pouco mais de um ano e meio depois, quando me dediquei ao Vinte e Um e, em meses, tinha um livro feito. Mas nestes três anos desde que escrevi aquelas palavras finais voltei a sentir-me sem rumo.

All of my cages are mental...

Quando escrevia para projectos de Jornalismo e, mais tarde, para o trabalho (tanto na Bertrand como na Arrow Plus) era-me mais fácil escrever, mesmo que houvesse artigos sem alma. O segredo aí era mesmo a falta de alma. Sem sentimento, eu escrevo mecanicamente. Não há alma, mas há palavras.

No entanto, eu sempre fui de escrita com alma, com sentimento, com emoção. É assim que me bloqueio, que penso perder a paixão. Sinto-me presa. É quando o verso they told me all of my cages were mental faz mais sentido. Está tudo a acontecer na minha cabeça, incluindo dezenas de histórias e textos que podiam ver a luz do dia se eu os conseguisse escrever. Se não me sinto com disposição nem sequer tento arranjá-la porque já sei que não vou gostar do resultado.

E, claro, não ajuda o facto de ter horas limitadas para escrever. Desde que entrei no mercado de trabalho e passei a conjugar quarenta (ou mais) horas semanais com escrita, algum exercício físico e outras coisas da vida também me apercebi de que não tem sido fácil conseguir uma rotina que me permita, de facto, escrever e ser feliz a fazê-lo, sem dramas, sem problemas, sem stresses.

wasted like all my potential

Depois de ter publicado dois livros com uma editora vanity decidi que só voltaria a publicar quando tivesse uma história realmente boa e que fosse algo mais, que concretizasse a profecia do vais ser grande para o mundo.

Este peso que coloquei a mim mesma, embora as palavras não sejam minhas, limitou-me durante uns anos, mas libertou-me quando cumpri o que queria: tinha uma história que era algo mais. O problema veio depois. Quando acumulas histórias não publicadas em gavetas vais questionando o teu valor, a tua qualidade, o teu talento. Eu acredito que o talento só funciona se houver trabalho, mas será possível perder o talento mesmo trabalhando para ele? É possível perder talento?

É assim que, nas fases más, me sinto totalmente como na música: wasted like all my potential, mesmo estando sóbria. Quando sinto que estou a perder a escrita sinto também que desperdicei todo o possível potencial que tinha, que deixei morrer o talento.

Acho que é um problema de escritor: até pode haver alguma necessidade de afagar o ego, mas, no final, o que se passa entre nós e as palavras é muito maior e só quem consegue ultrapassar esta luta mental consegue sobreviver e cumprir as metas de êxito que sonhou para si.

E claro que, como podes ver, a escrita ainda não fugiu por completo. Estas mil palavras são prova disso. Quanto ao talento, ao potencial e ao resto… quem sabe? Às vezes parece andar por cá, outras vezes é preciso lutar, lutar, lutar.

A única garantia que sinto ter é a da luta. É que, teimosa como sou, nunca desisti sem lutar. Em alguns dias sofro para escrever meia dúzia de palavras, mas o objectivo é sempre lutar para que escrever seja tão simples quanto respirar (quando respirar é simples e não sofremos de problemas respiratórios, claro).

Moral da História

O que quero dizer-te com este texto meio confuso e justificativo das minhas crises de identidade é que nos últimos meses estou a tentar lutar contra a tendência de acreditar nas maldades que a minha mente diz da minha escrita. Estou a tentar reacender a paixão e deixá-la ser amor. Mas, acima de tudo, estou a tentar redescobrir como trabalhar o talento sem sentir que me estou a cobrar demasiado.

Portanto, é isto que vai acontecendo pela minha vida nos dias em que não consigo escrever por aqui… tento escrever mais do que as vezes em que penso que devia estar a escrever e quando penso que devia estar a escrever não consigo escrever porque fico ansiosa por não estar a escrever.

Honestamente, compreendo muito bem os escritores que sofrem ou sofreram de problemas de alcoolismo. Com tanta dúvida e confusão na nossa cabeça, misturadas no meio de mil e uma histórias, quem é que consegue enfrentar o mundo com sobriedade?

Bem… eu vou tentando. Porque não quero perder o talento, não me imagino a viver sem a paixão e ainda acredito que tenho algum potencial. Bear with me, ainda tenho mais algumas milhares e milhares e milhares de palavras para escrever.

4 Replies to “wasted like all my potential”

  1. Acredito que o amor às palavras será sempre mais forte e que o talento não se perde. Pode parecer meio adormecido, pela cobrança que causa pressão ou por ser necessário priorizar outras tarefas, mas, no fundo, estará sempre aí dentro.
    Um passo de cada vez <3

    Como escreveu a Inês, cá estarei para as ler a todas!

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