Quero muito partilhar no blog a minha experiência de mestrado, para ficar com um registo como, em tempos, tive da licenciatura e da pós-graduação. Queria tê-lo feito antes, mas não sabia muito bem por onde começar. Nos últimos anos, pensei muito sobre o valor de um curso superior e, ainda mais, sobre avançar para outros graus académicos. Se, quando tinha uns dez ou onze anos, dizia à minha bisavó que um dia ia ser doutora (as in ter um doutoramento), essa ideia dissipou-se muito depressa. Nem sei de onde vinha. Só queria conseguir fazer uma licenciatura e estudar Jornalismo.
Durante a licenciatura vi sempre estes caminhos possíveis para o depois: trabalho ou desemprego ou mestrado ou pós-graduação. Também percebi que não queria sair dali para um mestrado. Ia fazer um mestrado em quê? Não me fazia sentido um mestrado em Jornalismo ou Comunicação e não havia nenhuma área que sentisse que me ia ser útil naquele momento. Foi aí que se firmou a minha ideia de que, para fazer um mestrado, precisava de pelo menos uma de duas condições: ou porque era relevante para o mundo profissional onde estivesse ou porque era uma paixão e curiosidade.
Durante todos estes anos, mesmo durante a pós-graduação, pensei muitas vezes no mestrado. Pesquisei vários, maioritariamente em Marketing, alguns em Relações Internacionais, muitos outros em áreas da comunicação. Quando estava a trabalhar no departamento de Marketing da Bertrand cheguei a ponderar candidatar-me ao mestrado de Marketing da ESCS. Não o fiz porque a ganhar o ordenado mínimo e a pagar 300€ de renda não tinha condições financeiras para tal e porque nunca na vida iria querer estar mais dois anos em Lisboa.
Então decidi que não ia fazer mestrado. Nunca.
É desesperante ver pessoas com mestrado ganhar o ordenado mínimo numa área em que são mestres. É ainda mais desesperante sentir que não valeu de nada fazer uma licenciatura porque se fazes um estágio do IEFP numa área que não é directamente a tua levas com o subsídio correspondente… a teres o 12.º ano. Então será que vale a pena investir em cursos superiores? Será que vale a pena poupar para gastar tudo em dois anos de estudo, de stress, de esperança-prestes-a-ser-destruída?
Vale a pena fazer mestrado?
Talvez devesse ter dito no início que este texto não tem respostas universais. Nunca poderia ter. Aquela velha máxima de cada caso é um caso aplica-se aqui. No entanto, quero partilhar a minha perspectiva e, quem sabe, ajudar alguém a pensar no futuro (ou no presente).
Excluindo áreas profissionais em que é realmente obrigatório ter um mestrado para conseguir progredir, aquilo que disse em cima é aquilo em que acredito no geral: vale a pena fazer um mestrado se é uma área relevante para a tua profissão (atual ou futura) ou se é algo que te apaixona profundamente.
Hoje em dia, cursos superiores não são garantia de nada (alguma vez foram?), por isso mais vale garantir que, se os fazemos, os estamos a fazer por bons motivos. Portanto, aí está a resposta mais sincera possível: se te apaixona ou se é absolutamente relevante para a tua profissão, então vale a pena.
Por que motivo vale a pena para mim?
Em 2020, entre algum pânico de vida num mundo em pandemia, dei por mim no site da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Não estava à procura de algo em específico, estava só a fazer aquilo que faço quando entro em lojas de roupa: ver se gosto de alguma coisa que me sirva e que possa pagar.
Nunca tinha olhado com grande atenção para cursos mais académicos. Todos os mestrados que tinha visto até então tinham aplicação prática ou serviam de complemento à prática da licenciatura e da pós-graduação. Mas decidi dar uma oportunidade quando vi um curso de Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes.
Irei falar do curso propriamente dito mais à frente, com pormenores, mas aquilo que importa aqui é que vi o plano de estudos do ramo de Especialização em Estudos Comparatistas e Relações Interculturais e apaixonei-me. Vi ali uma série de temas que me interessam e que queria estudar porque, lá está, me interessam e porque a minha visão da escrita tem incluído cada vez mais ter mundo literário e cultural para escrever cada vez melhor.
Não é uma área diretamente ligada ao jornalismo, embora ainda exista jornalismo cultural, e certamente só se liga ao marketing digital se trabalhar nesse departamento, mas é algo que me interessa e apaixona. Depois, mesmo sem nunca ter pensado no assunto, até tenho gostado de escrever alguns ensaios e de fazer alguma investigação.
Ainda assim, não posso deixar de dizer o quanto foi importante para mim ter outras experiências antes de partir para mestrado. Nem toda a gente pensará o mesmo, mas para mim foi mesmo uma mais-valia fazer muitas coisas diferentes para acabar aqui.
E assim damos início a esta série de publicações sobre o mestrado. Vem um bocadinho mais tarde do que aquilo que eu tinha pensado, mas vem, por isso agora é seguir! Para próximas publicações gostava de explicar melhor qual é o meu mestrado, falar do percurso desde a escolha à inscrição e partilhar as leituras do primeiro semestre. Se houver algum assunto ou alguma questão que aches que vale a pena abordar ou na qual tens curiosidade, é só dizeres, a caixa de comentários é toda tua.
Estou muito alinhada com a tua visão sobre o mestrado. Sinto que, em muitos casos, o mestrado funciona como um escape para o recém-licenciado que nunca conheceu outra realidade na sua vida que não os estudos e sente-se incerto com a realidade do mercado de trabalho. O mestrado é mais um passo que ajuda a absorver com mais calma esta transição. Não faço esta observação com malícia, acho até que é um bom ponto de partida para se avaliar como é que certos programas académicos deveriam preparar melhor os estudantes para essa realidade laboral (tirando os que já são trabalhadores-estudantes e estão carecas de conhecer a realidade ou os que têm muitos estágios ao longo da licenciatura, por exemplo).
Na altura em que me licenciei, não fazia sentido dourar a pílula académica sem ter a certeza de que o mestrado que estava a escolher realmente agregava alguma coisa. No caso da nutrição, poucos dos meus colegas que seguiram mestrado (praticamente todos) disseram que retiraram algo extra aos conhecimentos da licenciatura. Os mestrados são um grande investimento e esta observação (que vem de um grupo tão heterogéneo que será difícil ser ‘falsa’ ou resultado de ‘gazeta’) parece-me inadmissível; como é que um mestrado não está orientado para agregar mais ao corpo estudantil?
Ainda tentei procurar mestrados que fossem mais exploratórios (o marketing alimentar, por exemplo, está em ascensão ‘lá fora’), mas por aqui, tudo muito quadrado. Optei pela vertente de cursos (e, enfim, acabei por mudar de carreira), mas sinto que me enriqueceu muito mais (pessoal e profissionalmente).
Em suma, concordo plenamente contigo, acho que os mestrados devem ser relevantes para o contexto profissional ou pessoal do candidato, e que talvez devêssemos refletir sobre a forma como os mestrados são encarados hoje em dia para muitos estudantes (voluntária ou involuntariamente): uma extensão do período académico para amadurecer e entrar mais devagar no mercado de trabalho, uma manutenção do status quo académico que nunca mais foi revisto ao fim de tantos anos, uma oportunidade (quase sempre, a única) para ter financiamento para investigação. À luz de tantos mestres e do novo panorama de obtenção de conhecimento (que não é, de todo, o mesmo a que os nossos pais tinham acesso, por exemplo), a reforma no conceito de mestrado poderia ser benéfica para se manter uma graduação relevante (pelo menos, no mercado).
Ufa, que tese (pun intended). Sorry 😀
Inês, depois desta defesa, concedo-te o grau de mestre em ciência dos comentários!!!
Curiosamente, quando estava no último ano da licenciatura, vi vários mestrados na área do jornalismo e comunicação e sentia mesmo que não eram uma mais-valia, que não acrescentavam nada à minha licenciatura e sei que, na altura, falei com pessoas de outras áreas que também sentiam o mesmo.
Concordo plenamente com tudo o que disseste no comentário, nem vale a pena dizer mais nada, só assinar por baixo!
Estava a ler a pergunta do título e a responder, mentalmente, isto que referiste: «se te apaixona ou se é absolutamente relevante para a tua profissão, então vale a pena». Sinto que é mesmo fundamental, caso contrário, o percurso não será minimamente gratificante.
A sintonia, a sintonia!
Esta publicação vem mesmo a calhar porque a) estou a concluir a licenciatura b) as candidaturas a mestrado estão aí à porta. Estou de olho num mestrado que é muito muito caro e este texto fez-me refletir seriamente sobre o assunto, provavelmente terei de retirar das minhas poupanças e tornar-me trabalhadora-estudante, porque, de facto, olho para as UC e são tudo aquilo que sempre quis estudar – ou que me apercebi nos últimos semestres que quero que seja o meu caminho. Mas ainda vou refletir mais se é algo que faz sentido na minha vida no momento, well stay tuned for the next chapters x)
Vou mandar-te uma mensagem para conversarmos melhor, mas fica aqui também: não é uma decisão fácil, principalmente a nível monetário, mas acredito que é sempre importante pesar todos os prós e contras.