É preciso retroceder até 2017 para encontrar um texto meu que fale de amor ou de relações extra-amizade. Eu, que escrevi um livro chamado Seja O Que For o Amor, deixei de acreditar que o amor existia. Ou, pelo menos, que podia existir para todos. Quando leio os meus textos tenho dificuldade em perceber que foram escritos por mim — não me lembro daquela pessoa que era absurdamente idealista naquilo que pensava sobre amor, sobre sexo, sobre relações. Para mim estas três coisas tinham de estar ligadas. Claro que não estão ou, melhor dizendo, não têm de estar. É estranho dizê-lo, mas a miúda do Seja O Que For o Amor já não espera que tudo seja amor.
Seja o que for...
Lembro-me de uma das últimas sessões de terapia. Falávamos sobre relações e eu expliquei à minha psicoterapeuta que não me sentia preparada para me permitir a ter o coração partido outra vez. Na altura, ela disse-me apenas que, a certo ponto, ia simplesmente ter de aceitar que só porque acabar de coração partido era uma hipótese não significava que fosse acontecer… e que não devia deixar que isso regulasse a minha vida.
O que nos leva… às relações casuais. Com tantas certezas sobre amor, deves questionar-te sobre o que é que eu achava sobre relações casuais. Não achava, na verdade. Quando via Sex & The City ficava só maravilhada com o girl power da Samantha e sabia que cenas casuais não eram nem seriam a minha cena. Acontece que os 27 dão para avaliar a vida de uma forma diferente e, embora continue a achar que não são a minha cena, as minhas certezas sobre o mundo e, em particular, sobre relações casuais e não casuais dissiparam-se.
... o amor
Por mais incrível que pareça, eu ainda acredito no amor. Acredito que o amor existe, que tem de ser trabalhado e que, por vezes, acaba. E também acredito que nem tudo tem de ser amor. Não sei se o vou encontrar no Tinder ou no meio da rua. Mas sei, isso sim, que já não o vejo como via e já não quero vê-lo como via. Nem todas as relações precisam de amor além do amor-próprio. Nem todas as relações têm de ser sérias, cheias de compromissos, de uma certa responsabilidade e de uma dependência mútua. Nem todas as relações têm amor. Algumas têm só paixão… ou só tesão.
Por vezes, é preciso uma relação sem compromissos, independente, com o objectivo apenas de passar um bom bocado (ou vários) com alguém. Eu nem sempre compreendi isto. Qual a necessidade de começar algo descontraído com alguém se já se sabe, à partida, que é algo de curta duração porque, caso contrário, acabam sempre por surgir sentimentos (ou confusão de sentimentos)? Isto não me fazia sentido. Mas onde raio estava o amor?
Bem, o amor não tem de estar em todo o lado. Nem tudo tem de ser para sempre, nem tudo tem de ser sério e exclusivo. A miúda do Seja O Que For O Amor já não espera que tudo seja amor. O que não significa que não o queira. Só que às vezes dá vontade de experimentar algo divertido, sem responsabilidades e sem chatices. Uma cena casual. Seja o que for uma cena casual.
Crescer e termos uma consciência maior de quem somos permite-nos explorar outras perceções da realidade. E isso é maravilhoso. Também sempre achei que cenas casuais não era para mim, mas, vai na volta, amanhã há algo que o proporciona e até percebo que a minha predisposição segue esse sentido.
Pode demorar, mas acho que vamos acabar por descobrir que, lá está, nem tudo tem de ser sério, dependerá sempre do estado em que estivermos
Estou deliciada porque me identifico com cada palavra deste texto. Sempre me foi muito conflituoso dividir o desejo de querer viver uma história de amor e ter algo com alguém que não tivesse essa intenção… Seria impensável curtir com alguém, caso não fosse para casar… Felizmente, conhecer pessoas diferentes, novas, fazer terapia, estar exposta a situações que jamais imaginei ajuda-me muito a aproveitar mais, a curtir mais, a divertir-me… Porque só assim, entendi eu, é que hei de chegar a algum lado! E é tão bom dar-me a esse prazer.
Fico contente por saber que também te estás a soltar, a divertir! Quem sabe o que estará reservado heheh
Beijocas,
Lyne, Imperium Blog • Congresso Botânico – Podcast • Livro DQNT