Quando comecei a escrever fi-lo por amor. Ou por aquilo que, a caminho dos 13 anos, me parecia amor. Desde o início, tudo aquilo que podia ser algum tipo de amor conseguia trazer-me palavras. Desde o início, tudo o que mexia com os meus sentimentos mexia com as minhas palavras.
Escrever sobre sentimentos e sobre relações interpessoais tornou-se, desde início, uma das minhas formas preferidas de dar lugar às palavras. Nem sempre correu bem, nem sempre foi bem interpretado ou bem recebido, mas escrever sobre amor, qualquer tipo de amor, sempre me permitiu usar as palavras da melhor maneira possível. Pelo menos, da melhor maneira possível para mim.
Brincávamos às vezes sobre isso. Mini-Carrie Bradshaw, dizíamos, mesmo quando ainda não tínhamos terminado as temporadas de Sex and The City. Mini-A Pipoca Mais Doce em início de blog, dizíamos, mesmo quando ela tinha mais piada e mais histórias do que eu. Mini-qualquer coisa, dizia, quando percebi que não me apetecia escrever mais sobre isso, que não tinha mais o que escrever sobre isso.
De vez em quando lá vinham algumas palavras para falar sobre amizade, mas tudo o resto? Tinha desaparecido. Foi um exílio auto-imposto. Tudo aquilo que eu achava que sabia sobre aqueles quase amores ruiu um dia e deixou-me com milhares de pedaços por juntar e com a certeza de que nada daquilo era amor, fora amor, seria amor. O que é o amor?, podias perguntar-me. Não faço ideia. Reconheço-o, mas não sei bem defini-lo, não sei de onde vem, para onde vai.
Tenho percebido, nas últimas semanas, que sinto mesmo falta de usar os sentimentos para a escrita. Aos poucos, quebrei o exílio. Claro que está tudo diferente. Eu mudei, as palavras mudaram, os sentimentos mudaram. Mas tirei estas partes do exílio e tenho-as sentido gravitar à minha volta, meio perdidas, meio a encontrarem-se.
Algumas pessoas estranham textos sobre relações. Não me seguem há mais de cinco anos and it shows. Mas eu sinto as palavras a juntarem-se para falar de relações entre pessoas e não as quero ignorar. Quero escrever enquanto sinto. Quero escrever sobre sentir. Quero sentir enquanto escrevo.
Quando continuei a escrever fi-lo por amor. Pelo amor que me unia às palavras. Pelo amor que parecia quase conseguir criar pelas palavras. Pelo amor que quase conseguiam sentir através das palavras. E agora que quero continuar a escrever quero fazê-lo por amor. Pelo amor que ainda me une às palavras. Porque no final, mesmo quando todos os sentimentos desaparecerem, as palavras vão ficar.
Ao continuar a escrever, sempre notei a falta que os sentimentos faziam. Se os sentimentos iam, as palavras não vinham. Torna-se tão mais fácil escrever sobre algo que nos deixa apaixonados, sobre algo pelo qual somos apaixonados, sobre alguém pelo qual podíamos ser apaixonados.
Agora é tudo diferente, já ninguém quer ler textos sobre amor, seja qual for o tipo de amor. Ninguém tem tempo para ler sobre amor. Poucos têm tempo para pensar no amor. Então por que raio insistem as palavras em sair agora, prontas a dizer tudo sobre o que é amor e o que não é amor?
Quando comecei a escrever fi-lo por amor. E que amor este! Mas não quero continuar para ser uma mini-Carrie Bradshaw, uma mini-A Pipoca Mais Doce em início de blog. Não quero ser mini-alguém. Nem sei, sequer, como quero continuar a escrever sobre amor, só sei que quero escrever por amor. E escrever por amor já diz muito sobre o amor.
Uma versão deste texto foi enviada na newsletter deste domingo.
Encantada com este texto. Porque sente-se todo esse amor <3
💙
Adorei ler este texto na newsletter e, uma vez mais, adorei lê-lo aqui, porque, de certo modo, me identifico muito com algumas das coisas que escreveste.
Obrigada por escreveres com e por amor!
Obrigada, Inês! 💙😭