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O condutor do carro atrás de mim buzina-me segundos depois de o semáforo ficar verde, para aí dez segundos depois de o carro à minha frente arrancar. Assusto-me e deixo o carro ir abaixo. Estava outra vez a pensar em ti. Estava outra vez perdida entre questões e memórias. Eu sei que o semáforo pede que eu avance, mas para onde? Para um lado tenho a história, para o outro tenho o que ficou por dizer. Não posso voltar atrás e não sei se consigo seguir em frente.
Acelero pela rua que conheço, sem saber para onde me vai levar. Lembro-me de quando passaste aqui. Penso naquilo que queria ter perguntado. E aquela vez em que toda a gente te pôde ver genuinamente feliz por cruzares olhares comigo?
Desculpa, tenho de perguntar: quando decidiste fugir como soubeste qual era o caminho por onde querias correr? Quando começaste a correr o que te fez correr em direção a ela? O que te fez achar que podias quebrar as promessas durante a fuga?
Desculpa, mas tenho mesmo de perguntar: quando caminhavas por aquelas ruas e vias as estações mudar não vias que estavas a mudar também, que me estavas a mudar também? Quando caminhavas por aquelas ruas não sentias, não pensavas, não lembravas? É que eu passava por lá e via-te em todo o lado, sentia-te em todo o lado, sonhava-te em todo o lado. Mas eu não passava a fugir de mim mesma.
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