‘tis the damn thesis: o (des)equilíbrio trabalhador-estudante

Fazer um mestrado é um investimento de tempo e dinheiro. O retorno pode ser variável, mas o investimento é obrigatório. Quando decidi que queria fazer um mestrado numa área de estudos teórica sabia que ia precisar de fazer este investimento de forma muito ponderada e cuidadosa. Já falei sobre esta questão anteriormente, mas investi um ano de salários neste mestrado. Durante um ano, entre 80 a 90% do que ganhava na clínica veterinária onde trabalhava ia para uma conta-poupança a que chamei “PPP – Plano Poupança Porto”.

O meu objetivo de poupança era simples e focado: ter dinheiro suficiente para pagar dois anos de propinas (cada ano custa 1250€) e ter pelo menos seis meses de gastos assegurados (renda, passe, comida e pelo menos uma visita mensal a casa). Tudo o resto seria um acréscimo. Torcia para ter bolsa de estudo, mas precisava de segurança financeira para o caso de não ter. No primeiro ano tive uma bolsa de pouco mais de 210€ por mês, que ajudou muito; neste segundo ano estou com a bolsa mínima, de 125€ por mês, que não ajuda tanto, mas já é qualquer coisa.

Procurar trabalho para conjugar com o mestrado

Quando comecei o mestrado tinha o primeiro ano com contas equilibrados e dinheiro para as propinas do segundo ano. Mas sabia — sempre soube — que teria de procurar trabalho para o segundo ano porque seria impensável conseguir pagar contas de outra forma e recusava-me a pôr estas despesas em cima da minha mãe. Como ia trabalhar, tive aqui alguns momentos de ponderação: trabalhar em quê? Decidi, meio naquele pânico de estou a ficar atrasada, que queria mesmo voltar ao Marketing e, por isso, ia procurar opções dentro dessa área durante uns tempos. Se não desse, procurava outra coisa. Se calhar, tinha sido uma decisão mais inteligente procurar um part-time, mas fui sempre para escolhas a tempo inteiro. Se era para ser desafiante então era desafiante a tempo inteiro.

Em todas as entrevistas fiz questão de garantir que o trabalho era prioridade, mas iria precisar, principalmente numa fase posterior, de garantia de a empresa poder dar algum apoio ou facilitar idas à faculdade e situações do género. Fica o conselho: deixa isso por escrito. Assinado por ambas as partes.

Legalmente, o estatuto trabalhador-estudante garante um melhor equilíbrio quando tens aulas, mas quando se trata de ano de dissertação a única dispensa que a empresa é obrigada a dar-te é em dias de avaliação (e no dia anterior), por isso as reuniões não estão contempladas. Se a empresa tiver disponibilidade para trabalho remoto, banco de horas que possas descontar e coisas do género é bom para ajudar nestes casos. Se não… é ir na fé.

Conjugar trabalho e mestrado está a ser um desafio mais complicado do que eu antecipei

Vou ser sincera e despejar tudo sem paninhos quentes: está a ser difícil conjugar tudo e quero deixar aqui o meu reconhecimento público a todas as pessoas que fizeram cursos inteiros com trabalhos a tempo inteiro e até com trabalhos a tempo parcial! Já tive vontade de desistir: umas vezes da tese, a maior parte das vezes do trabalho.

A minha orientadora diz que não estou atrasada no processo, mas eu continuo a sentir que sim porque há muitos dias em que não consigo trabalhar na tese. Ainda assim, neste momento tem sido um bocadinho mais simples. Se recuarmos até novembro e dezembro posso dizer-te que passaram semanas em que acontecia uma das seguintes situações:

  1. Chegava a casa tão esgotada (principalmente a nível mental) que ia dormir às 21h;
  2. Abria o documento da tese ou os textos que tinha de ler e não conseguia ler nem escrever porque o meu cérebro não respondia;
  3. Quando sentia que tinha um bocadinho de energia… estava em horário de trabalho.

Depois as coisas começaram a mudar. Não no trabalho, mas em mim. Decidida a ser mestre até ao verão e a ter a tese como prioridade, honestamente tenho-me esforçado. Há dias em que continuo sem trabalhar na tese, mas tenho feito o esforço para, ao fim do dia, chegar a casa e fazer alguma coisa. No entanto, continua a não ser fácil conjugar com o trabalho.

Primeiro porque muitas vezes o dia de trabalho até pode ser leve mas causar um cansaço mental terrível; depois porque o meu pico de energia acontece durante o dia, enquanto estou no trabalho; e, claro, porque não tenho vida facilitada para reuniões de orientação. Tenho de as ter e tenho, mas não há qualquer tipo de ajuda em conjugação de horários. Tenho de ir? Eu que me oriente. Se esgotar o banco de horas (que aqui funciona de forma diferente em relação ao que eu estava habituada)? Esgotei e é descontado no ordenado. É o que é.

Queria falar sobre esta questão de conjugar trabalho e tese porque é algo que, inevitavelmente, é condicionante e não é um mar de rosas. Há empresas que ajudam mais e outras que não oferecem qualquer ajuda. Escolher trabalhar e fazer um mestrado ao mesmo tempo exige também esta ponderação — não há volta a dar. Neste momento está a ir… é torcer para continuar.

Progresso

Neste momento, estamos assim:

Tema
100%
Título
50%
Orientador
100%
Estrutura
80%
Referências Bibliográficas
75%
Escrita
20%
reunião por zoom
0
reuniões presenciais
0
e-mails trocados
0
artigos lidos
0
páginas escritas
0

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