MELCI: O Mestrado Que Escolhi, Como Escolhi e Processo de Admissão

Eu não estava a procurar um mestrado em particular quando encontrei o Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes (MELCI). Acredito que foi algo que jogou a meu favor: pude simplesmente ter a surpresa de encontrar um mestrado com um plano de estudos que me fascinou desde o primeiro momento. Ainda assim, não me deixei levar exclusivamente pelo plano de estudos e fui um bocadinho mais além. É sobre esse mais além que quero falar-te hoje.

Procurar um mestrado

Apesar de não estar a procurar um mestrado em particular, eu estava a procurar mestrados. Não foi a primeira nem terá sido a última vez que o fiz, por isso tinha alguns critérios de procura em mente:

  • localização;
  • área de estudos;
  • plano de estudos;
  • preços.

Como a procura era meramente especulativa, visto que estava numa fase em que não só não podia pagar um mestrado e estava a entrar numa espiral negativa depois de meses em casa, não fui muito rígida nos critérios. Era só uma pesquisa para passar o tempo. No entanto, acho que estes critérios, não necessariamente pela ordem em que os apresento, são muito importantes para procurar um mestrado ou outro tipo de formação.

Localização
No meu caso, sabia que queria procurar algo no Porto. Obviamente, isto diminui as opções porque, convenhamos, não há assim tanta oferta formativa que funcione remotamente. Logo, se tens restrições geográficas, seja porque motivo for, isso vai refletir-se na quantidade de opções que vais ter. Mas não é necessariamente apenas negativo: é uma forma de teres uma pesquisa mais focada.

Quando, anos antes, no fim da licenciatura, procurei mestrados não restringi tanto a localização, mas, ainda assim, havia cidades para as quais sabia que não queria ir. Acho que, de uma forma ou de outra, há sempre alguma exclusão de partes.

Área de Estudos // Plano de Estudos
Este critério é muitas vezes pré-definido por aquilo que estudaste antes ou por aquilo que fazes profissionalmente. No meu caso, uma licenciatura em jornalismo dá-me uma certa liberdade de áreas de especialização e, a nível profissional, não tinha restrições, pelo que aquilo que aconteceu foi apenas uma decisão de áreas para nas quais não tenho interesse suficiente para querer estudá-las assim.

Dentro de cada área de estudos vão surgir muitas opções, claro. Se vires a oferta de uma faculdade de letras vais ter uma lista longa de cursos. Uns podem interessar-te, outros nem tanto. O critério de desempate dos que interessam? O plano de estudos.

Aquilo que vais, efetivamente, estudar é importante para compreenderes se a ideia do curso corresponde àquilo que vais estudar e, claro, se acrescenta algo à formação que já possas ter.

Preços
Vamos falar de dinheiro, shall we? Sei que já disse que investi um ano de salários neste mestrado, mas acho que o preço de um mestrado ou de qualquer outra formação determina por completo a capacidade para concorrer ou não. Neste caso, as propinas anuais são 1250€. Ainda é qualquer coisa.

E, claro, nunca podemos apenas considerar os gastos de estudos com propinas. No meu caso é preciso acrescentar renda, passe de transportes públicos, comida, bilhetes para vir a casa, e material para as aulas. Se calhar, se consegues estar em casa enquanto estudas tens aqui uma margem um bocadinho maior, mas podes ter outros gastos além destes.

Se com propinas a um valor mais ou menos normal tens de contar com outros gastos, imagina com propinas assim dos 2000€. Obviamente, aquilo que cada um está disposto a pagar varia, mas é um fator muitas vezes decisivo, até porque nem sempre se pode contar com bolsas de estudo (cujos resultados às vezes demoram meses).

Os critérios que pesaram na minha escolha

Quando estava a navegar pelo site da Faculdade de Letras da Universidade do Porto cruzei-me com alguns cursos que pareciam interessantes. Fui abrindo novos separadores. Li cada informação cuidadosamente, mas havia sempre um mas, algo que me fazia perceber que não queria mesmo aquilo. Depois vi o MELCI. Localização: ok; Preço: possível; Área de Estudos: ok; Plano de Estudos: ai-sim-quero-por-favor.

Sabendo o preço das propinas consegui logo saber quanto precisaria de juntar para um ano de mestrado, o que me fez começar o trabalho umas semanas depois com um objetivo muito claro em mente. Para mim, foi também uma espécie de motivação nos dias mais difíceis: no final vai valer a pena porque vou fazer aquele mestrado que tanto me interessa.

Outros fatores importantes a ter em conta quando queres decidir que mestrado fazer

  • Funcionamento diurno ou pós-laboral (pode ser importante caso sejas trabalhador-estudante, por exemplo);
  • Papelada de que precisas para te candidatares;
  • Prazos e regulamentos da candidatura.

MELCI: o mestrado que escolhi

O Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes tem dois ramos de especialização e eu só me apaixonei por um deles. As hipóteses são:

  • Estudos Românicos e Clássicos;
  • Estudos Comparatistas e Relações Interculturais.

Como talvez percebas facilmente, o ramo que escolhi foi o dos Estudos Comparatistas e Relações Interculturais. Os dois ramos têm algumas unidades curriculares comuns e ambos têm o segundo ano dedicado à tese. O resto do plano é o que muda.

1.º ano, 1.º semestre
Cada semestre tem cinco unidades curriculares. No primeiro semestre, há três obrigatórias:

  • Literatura e Estudos Interartes
  • Literatura Comparada – Questões e Perspetivas
  • Literatura Portuguesa e Artes Visuais

Depois tens de escolher uma das duas opções da área da Literatura Comparada:

  • Literatura de Viagens – Relações Interculturais
  • Literatura Feminina em Portugal (séc. XVI-XVIII)

Por fim, sobre a minha parte preferida dos planos de estudos da Universidade do Porto:

  • Opção UP

A Opção UP permite-se escolher qualquer unidade curricular de qualquer curso de qualquer faculdade da Universidade do Porto, desde que esteja no ciclo de estudos que estejas a frequentas. Ou seja, podes escolher uma disciplina de qualquer mestrado da UPorto. Não é fabuloso?

1.º ano, 2.º semestre
No segundo semestre, só há uma obrigatória:

  • Teoria da Literatura – Modos e Modelos

Depois, tens de escolher quatro de cinco opções:

  • Estética Literária
  • Estudos Feministas e Estudos Queer
  • Literatura Portuguesa e Hibridismo dos Géneros
  • Poéticas Comparadas
  • Tópicos em Comparatismo

2.º ano
Como já disse, o segundo ano inclui apenas seminário de orientação da tese e a tese, nada que exija elaboração aqui.

Vou alongar-me sobre cada unidade curricular em breve, quando falar sobre o primeiro semestre, mas queria deixar-te uma ideia daquilo que me fez apaixonar pelo plano de estudos. Se quiseres saber mais sobre o mestrado ou sobre o outro plano de estudos, visita o site da FLUP.

Processo de candidatura

Pelo que sei, os processos de candidatura a mestrado são muito semelhantes de instituição para instituição, no entanto esta foi a minha experiência. Neste caso, sei que a FLUP tem três fases de candidaturas, com prazos definidos que podes consultar facilmente no site da faculdade. Coloquei um lembrete no Google Calendar para saber quando estava a começar o prazo de candidatura.

Para me candidatar precisei de:

  • Informações pessoais (nome, morada, nome dos pais, NIF, contatos, número do cartão do cidadão);
  • Informações académicas e profissionais (número de anos em que se esteve inscrito no ensino superior, país de conclusão do ensino secundário e do curso anterior, habilitações académicas).

Além disto, é preciso entregar documentação digitalizada: currículo, documento de identificação e certidão de conclusão de licenciatura/mestrado, com as disciplinas realizadas, o regime (semestral ou anual) e o número de UC/ECTS.

A carta de motivação é opcional e não entreguei e podes submeter outros documentos que consideres relevantes. Eu submeti o certificado da pós-graduação.

Juntamente com a candidatura é necessário pagar um emolumento, que é uma palavra que considero feia e um preço que ainda não percebi bem para que raio serve. Ainda assim, foram 55€. Só depois de pago é que a candidatura é válida.

A primeira fase durou dois meses. Depois foi a vez de fazer uma entrevista, com a diretora do curso e outros professores da direção. Foi uma entrevista feita por Zoom, em que falámos sobre livros, sobre o que me interessava no mestrado e sobre a motivação para este percurso.

Uns dias depois foi publicada a lista de colocações provisória, confirmada duas semanas depois. Assim que soube que tinha entrado foi-me dada a informação para fazer a matrícula, embora a escolha das unidades curriculares seja feita posteriormente, neste caso em agosto.

E pronto, foi isto. Alguma burocracia, mas um processo bastante simples e fácil de acompanhar online.

Sei que esta publicação ficou muito longa, mas espero que seja útil para esclarecer eventuais dúvidas sobre o processo de escolha de um mestrado e candidatura ao mesmo.

Gostaste deste mini-guia de mestrado?

4 Replies to “MELCI: O Mestrado Que Escolhi, Como Escolhi e Processo de Admissão”

  1. Creio que esta publicação será extremamente útil para quem estiver a pensar candidatar-se, até porque exploras várias vertentes e de uma forma bastante clara!

  2. Adorei este guia porque é mesmo interessante ver as diferenças de instituição para instituição. O mestrado que quero fazer custa €2000/ano e tem sido uma luta para mim juntar dinheiro para ele tendo em conta que tenho outras obrigações (ainda dizem que ser adulto é divertido…). Já (uma das) pós-graduações que quero fazer custa €1750.

    Chateia-me que em Portugal para estudarmos mais e termos uma formação mais diferenciada na área que nos interesse temos de escolher entre comer ou não. Mas isso são outras conversas!

    Estou a adorar esta série sobre o mestrado!

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