Era uma tentativa de engate de Tinder. Estávamos a falar sobre amor e romance. Disse-lhe que sabia perfeitamente que ele estava ali pelo casual e que aceitava isso, mas que eu, no fundo, era hipócrita porque a verdade é que ainda era (sou) um bocadinho uma romântica incurável. Passaram meses desde essa conversa e só o vi uma vez, mas lembro-me da conversa. Tinha o coração partido há semanas e ainda havia de o partir mais umas semanas depois, sempre pelas mãos da mesma pessoa, mas sentia realmente aquilo. Com todos estes meses passados, já de coração tranquilo e mesmo depois de me ter magoado brutalmente, acho que não há outra forma de o dizer: eu ainda acredito no amor, no romance. Serei realmente uma hopeless romantic? Serei uma hopeless romantic para todo o sempre? Não sei, não sei nada disso. O que sei é que assim que soube que The Pound Project ia reeditar de forma limitada o ensaio Hopeless Romantic, da Dolly Alderton, eu soube também que precisava de ter este ensaio — apostava todas as fichas em como me ia rever. Aposta ganha.
Trigger warning:
acreditar no amor
É possível ser uma Hopeless Romantic quando o amor já nos tirou mais do que deu?
Hopeless Romantic é um ensaio muito curto, com menos de 50 páginas, da Dolly Alderton. Quem lê a Dolly conhece as histórias loucas dela e também sabe que, feliz ou infelizmente, o amor não lhe parece correr muito bem (qualquer semelhança com a minha realidade é pura coincidência). No entanto, ela também parece continuar a ser das poucas pessoas que, mesmo assim, mesmo a errar constantemente, continuam a acreditar no amor. Bem, somos duas.
Apesar de ser um ensaio pequenino, revi-me nele e gostei muito de ler a Dolly neste formato — que é, aliás, o meu género preferido para a ler. No ensaio, a Dolly fala exatamente sobre como, apesar de tudo, continua a acreditar no amor e adorar histórias de amor — considerando-se uma hopeless romantic. Ela tem muitas histórias de amor à volta dela, incluindo dos pais, o que talvez seja aquilo que a torna mais crente. Eu não tenho assim tantas, para aí duas ou três, e, mesmo assim, ainda quero acreditar que duas pessoas conseguirão encontrar-se nesta confusão e construir uma bonita história de amor. Porquê? Não sei, não faço ideia. Parece-me tão estranho ainda acreditar nisto, mas talvez fosse ainda mais estranho já não acreditar nisto.
Às quatro da tarde ninguém quer estar apaixonado…
Voltemos a uma conversa com um match do Tinder, muito antes da primeira conversa. Era junho, numa daquelas noites que fazia lembrar os Glass Animals, com poucas horas de sono e muitos dias de ansiedade. Nessa altura este match ainda me parecia uma pessoa decente. Eram quatro e tal da manhã, eu não conseguia dormir e pela primeira vez tive coragem de dizer a alguém que estava apaixonada por quem não devia. Foi a forma de admitir a mim própria, claro. Saiu-me uma série de mensagens marcantes: Já viste que de madrugada as pessoas estão mais dispostas a sentir coisas? Tipo às quatro da tarde ninguém quer estar apaixonado. Mas se for às quatro da manhã já aceitam. Bem diz o Alex Turner que as noites foram feitas para dizer o que não podemos no dia seguinte.
A verdade é que muito do ano passado me deixou despedaçada, mas também me fez perceber que nunca deixei de acreditar no amor, que ainda não acredito no amor e que as histórias de amor continuam as ser as minhas preferidas de contar. Não sei se serei totalmente uma hopeless romantic, porque tenho muitos momentos em que não consigo acreditar num final feliz para todas as histórias, mas, ainda assim, procuro-o constantemente. Tenho dezenas de razões para não acreditar no amor, mas, ainda assim, acredito que ele existe. Não sei onde está, como é, como o encontrar, onde o encontrar, se o vou encontrar, mas acredito nele. Às vezes acho que mais valia acreditar em Deus. Devia partir menos o coração.
Outros livros do autor
Numa onda semelhante, podes ler o Tudo O Que Sei Sobre o Amor ou o Dear Dolly, além do romance Ghosts (em português: Estás Aí?).
Se gostaste deste, vais gostar de...
Tudo O Que Sei Sobre o Amor.
Comprei o “Tudo o que sei sobre o amor” da autora á dois dias atrás e mal posso esperar para começar a lê-lo!
Sempre ouvi maravilhas desta autora e vai ser a minha primeira experiência com ela, mas sinto que não vou ficar apenas por este livro :))
Que continues a acreditar sempre no amor!
«Tenho dezenas de razões para não acreditar no amor, mas, ainda assim, acredito que ele existe. Não sei onde está, como é, como o encontrar, onde o encontrar, se o vou encontrar, mas acredito nele. Às vezes acho que mais valia acreditar em Deus», dá para emoldurar?
Queria muito ler mas já não está disponivel, como conseguiu ?
Eu comprei na impressão que The Pound Project (a editora) fez no ano passado. Não sei se haverá novas impressões no futuro.