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é final de março. sábado à noite. chove lá fora e sinto a tua falta como nunca senti. como posso sentir a tua falta se não partilhámos mais do que quatro meses e pouco de existência e não falamos há semanas?
está frio. cruzo os braços enquanto olho pela janela. talvez seja o álbum da lana del rey que me faz sentir a tua falta. passa uma mulher na rua. passo apressado, guarda-chuva aberto, e um conjunto saia-saltos altos nada propícios para este tempo e esta calçada.
fantasio com o teu regresso. como seria bonito se hoje fosse a noite em que decidias voltar. cabelo molhado pela chuva, uma mensagem a pedir para te abrir a porta, correr para te receber ao cimo das escadas.
não faz sentido sentir a tua falta quando durante a maior parte do tempo tu nem eras a minha primeira escolha. mas faz todo o sentido sentir a tua falta quando foi encostada no teu peito que encontrei a paz.
não serve de nada sentir a tua falta quando tu não vais voltar. não serve de nada sentir a tua falta quando tu não sentes a minha. sei que não vais voltar do reino dos fantasmas. mesmo que, por vezes, ainda sinta a tua mão fazer festinhas nas minhas costas e puxar-me para junto de ti.
fecho a persiana, apago as velas e volto para a cama. sinto a falta, mas vou dormir outra vez na diagonal e fingir que não houve uma altura em que dissemos que aquele podia ser o teu lado da cama. não me admira que não tenhas ficado, não percebo como não ficaste.
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