desengatados: the greatest dates of all time were never made

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Beeeeeeem, os dates… ai, os dates. Logicamente, são o grande objetivo de estar uma aplicação de encontros. Aliás: chamam-se aplicações de encontros por algum motivo, não é? Pelo menos é o que parece… Para passar aos encontros já houve uma triagem antes. Primeiro distribuíste gostos, depois conversaste e finalmente o objetivo foi cumprido: vais ter um encontro, wooohooo!

Tal como nem todos os gostos vão dar match e nem todos os matches vão dar conversa, também nem todas as conversas vão dar encontro. Ou a conversa não flui, ou é alguém que gosta de experiências platónicas, ou a conversa mostra que querem coisas diferentes, ou simplesmente entras naquele loop que acontece com os amigos: temos de combinar, temos de combinar, temos de combinar Mas depois nunca combinamos.

É bom estar consciente deste facto: por mais que uma dating app seja, em bom português, uma aplicação de encontros, é muito possível que muitos dos matches não se transformem em encontro. É a lei da vida, não há muito a fazer. Vamos preocupar-nos apenas com aqueles que se transformam realmente em encontros e deixar os outros seguir os seus rumos para outros encontros.

Planear encontros não é para qualquer um

Vamos assumir que, até agora, está tudo a correr direito: a conversa flui, já verificaste que é uma pessoa real e há curiosidade para ver como será frente a frente. Está na hora de sugerires um encontro… ou de te sugerirem um encontro.

Os primeiros dates a que fui foram sugestão deles. Eles sugeriram onde e quando e eu limitei-me a trabalhar a agenda para que os encontros se proporcionassem. Honestamente… organizar primeiros dates não é o meu forte, por isso até agradecia quando eles tinham sugestões de algo para fazer. Estas sugestões variavam, claro. Umas eram personalizadas, outras eram simples e generalistas.

Voltamos ao Carlitos. O Carlitos foi um dos generalistas. O convite dele foi simples: vamos tomar um café? Ele sugeriu o lugar, porque ficava perto do trabalho dele, e a hora, para dar para conjugar com o horário de trabalho. E eu, que nem bebo café, bebi mesmo um, num cafézinho aleatório na Trindade.

Se isto é um date memorável? Nem por isso. Mas se é para conversar, para conhecer alguém… então é só isso que é preciso fazer. Conversámos sobre o meu mestrado, sobre o trabalho dele, sobre a guerra na Ucrânia — que tinha começado no dia anterior — e não foi muito mais do que isso. Ele pagou os cafés. Deve ter sido o momento mais altruísta dele para comigo.

Tendo em conta que, normalmente, os dates servem para conhecermos melhor a outra pessoa eu acho fixe que sejam momentos em que dê para conversar. Mas atenção: como diz a Bárbara Tinoco, uma conversa não é um monólogo. Não é para estar duas horas a ouvir o Ruizinho falar sobre si mesmo e mal ter espaço para dizer umas palavrinhas. O Ruizinho é um exemplo típico e real: aconteceu mesmo. Descobrimos um ponto em comum. Acabámos perdidos na conversa… ou ele acabou perdido na conversa. Ele falou tanto que eu estava a ficar com sono. Acho que em duas horas só meia hora foi minha. Não sejam Ruizinhos. Conversem, façam perguntas, falem e deixem falar. Ninguém gosta daquela pessoa que só quer monólogos e não sabe conversar.

Fiquemos pelas conversas. Os meus dates normalmente são muito isto, para ser sincera: vamos beber um café ou qualquer coisa do género e conversar um bocadinho. É uma escolha sólida, por isso às vezes mais vale ir pelo seguro. No entanto… também há os que se esforçam. Não é só um vamos beber um café a um lugar qualquer e entramos no primeiro café que parece minimamente limpo. Não é só um logo se vê sobre o que falamos, e olha que belo dia está hoje, ontem estava muito vento. Há quem realmente se esforce e pense um bocadinho antes de escolher um date.

Como aquela vez em que me levaram a jantar a um restaurante italiano muito bom e a conversa foi genuína. Primeiro, o restaurante era mesmo muito bom. Segundo, era comida italiana e eu adoro. Terceiro, saber conversar é importante. Pronto, não havia interesse para mais do que amizade da minha parte, mas diverti-me.

Ou aquela vez em que o passeio foi uma rota de livrarias, com tempo para eu poder ver os livros todos que quisesse. Vá lá! Isto é incrível! Isto é pegar nos interesses da pessoa e conseguir ganhar pontos extra! E isto já me aconteceu duas vezes. Aqui temos de dar também um ponto ao Carlitos, que, uma vez, estava comigo no Alameda e perguntou se eu queria ir à Bertrand. Eu fui apanhada desprevenida de tal forma que ia tropeçando na escada rolante do centro comercial e perguntei-lhe se ele queria mesmo ir ver livros comigo. Ele queria. E fomos mesmo. Mostrei-lhe o Normal People — estão a sentir o padrão Sally Rooney? —, descobri que ele gosta de temas históricos e ele prometeu que me oferecia o livro do Dave Grohl. Bem, o que aconteceu depois não foi bonito. Mas eu comprei o livro depois. I can buy myself flowers… and books.

Os primeiros dates

Estes primeiros dates que temos com alguém têm sempre o seu quê de mágico e interessante. Ainda há o esforço de tentar conjugar gostos, nunca sabemos bem o que esperar porque não nos conhecemos muito bem e tudo pode acontecer.

Muito do tempo que passei com o Carlitos incluía ver filmes. Ele adora, eu preciso sempre de um incentivo. Vimos vários em casa. Fomos ao cinema ver um filme que eu nunca escolheria.

Tive o exemplo do Mitch (nota-se que eu conheço Baywatch?), com quem passei uma tarde inteira a ver a Laver Cup e, no final, fomos jantar ao McDonald’s… onde passámos horas na conversa. Ver ténis já tinha sido fixe, mas horas na conversa? Eu ia deixá-lo em casa às 21h e saí de lá às 2 da manhã, sendo que neste tempo estivemos sempre no carro a conversar. Não é maravilhosa esta altura em que a conversa parece nunca morrer? Se calhar sou eu que sou mesmo uma romântica incurável… sendo que isto só foi uma situationship.

Regras de sobrevivência para encontros

Okay, vamos a algumas regras de sobrevivência para encontros. São regras básicas, que já todos sabemos, mas vale lembrar, porque é para haver aqui um momento didático e educativo:

  • Escolhe locais públicos ou onde sintas segurança. É preciso ter cuidado com as pessoas com quem nos encontramos, claro, e mesmo que tenhas certezas sobre ser uma pessoa a sério convém ter cuidado.
  • Partilha a localização com alguém. Eu fiz isto na primeira vez que saí com o Carlitos. Meti localização partilhada no grupo de Whatsapp que partilho com o Diogo e o Ricardo. Qualquer coisa e pelo menos eles sabiam que eu tinha estado ali.
  • Pensa em alguns temas de conversa tranquilos para conhecer alguém. Talvez não seja boa ideia começar com temas fraturantes, mas… se estivesse no primeiro encontro e soubesse logo as red flags e as características que para mim não funcionam se calhar poupava-me a maus encontros.
  • Escolhe roupa confortável. Não queres estar durante o encontro a pensar se o decote é demasiado grande, se a saia é demasiado curta, se as calças vão cair, sei lá.
  • Escolhe bem as pessoas com quem vais debater o date depois. Obviamente há uma análise posterior necessária, em que cada segundo vai ser detalhado e avaliado.
  • Ah, sim, muito importante: certifica-te de que a outra pessoa aparece.

O que foi? Achas que não faz sentido? Então deixa-me contar-te sobre aquela bela manhã de junho em que eu achei que ia tomar o pequeno-almoço acompanhada a um sítio fixe na Rua de Santa Catarina e acabei sozinha a comer um muffin de mirtilos no Starbucks.

Não lhe vou dar um nome, porque desapareceu do mapa, por isso não merece nome. Mas estava a falar com um rapaz e ele parecia interessante. Combinámos encontrar-nos no Porto. Não é que eu estivesse numa fase tranquila, porque não estava. Entre ansiedade, fim de semestre e uma situationship cada vez mais descontrolada com o Carlitos, lá aceitei ir. Levava coisas para, depois, ir estudar um bocado. Tínhamos combinado tudo direitinho, mesmo como eu gosto. Cheguei dez minutos antes por isso decidi esperar à porta. Quando passaram esses dez minutos e ele não apareceu eu comecei a não gostar. Dei-lhe cinco minutos. Nada. Ia mandar-lhe uma mensagem, para perguntar se estava tudo bem ou se tinha havido algum contratempo. Eis o que acontece: apagou-me e bloqueou-me no Instagram. Desfez o match do Tinder. Zero forma de o contactar.

Fiquei, obviamente, chateada, mas peguei nas minhas coisas e fui estudar, que isto uma pessoa pode ficar plantada, mas tem de ser mestre na mesma.

O pior foi quando, dias depois, algo semelhante aconteceu.

Ainda não te vou falar sobre o Jake, mas não podia falar-te de dates sem falar dos que não aconteceram. Dos que cancelaram cinco minutos antes. Dos que nunca apareceram. Na altura comentei isto no Instagram e tive várias respostas (umas dez, para aí) que partilhavam comigo uma história que funcionava sempre de forma semelhante: combinavam encontrar-se. Chegava a hora e ninguém aparecia. Ninguém dizia nada. Desaparecia do mapa. O que é que se faz quando alguém evapora assim? Quando alguém se transforma em fantasmas? Quem é que chamamos?

One Reply to “desengatados: the greatest dates of all time were never made”

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