Peferes ouvir? Esta rubrica tem uma versão em áudio também!
Quantas vezes não tivemos já esta conversa, a conversa em que concluímos que acertamos sempre em quem é errado? Se calhar nunca tiveste esta conversa e, por causa disso, tenho só de te perguntar: como é ser o favorito de Deus? No entanto, eu e 99% das pessoas que conheço já tivemos esta conversa pelo menos uma vez. Há sempre um momento em que tudo é um tiro ao lado e é desesperante.
Por um lado, pode, sim, haver um certo padrão no tipo de relações que escolhemos para nós e no tipo de pessoas com quem escolhemos ter essas relações. E, nesse caso, acho que não é no Desengatados que vais encontrar as tuas soluções. Eu seguiria só para terapia, caso seja possível financeiramente para ti. No entanto também acredito que os padrões podem ser quebrados. Obviamente, vou falar dos padrões. Ainda não me interessa quebrar nada… exceto tesão, porque é sobre isso mesmo que quero falar hoje: acertar em quem é errado e outras coisas que fazem perder tesão.
Deal breakers, turn offs e outras conversas explícitas
Antes de prosseguir, tenho de informar que este episódio pode (e deve) conter linguagem explícita e algum conteúdo sexual. Isto está a seguir um caminho linear: foste para o Tinder, tiveste matches, conversaste, tiveste dates, tiveste ghosts, apanhaste algumas desilusões e agora tens pessoas com quem conversas regularmente e até com quem podes sair regularmente. Não vamos definir o que tens com essas pessoas, mas estes são alguns exemplos do que pode levar a terminar essa cena que tens com estas pessoas.
Demasiada dirty talk // Dirty talk insuficiente
Todos temos um nível de tolerância perante dirty talk. Aquilo que para mim pode ser insuficiente para ti pode ser demasiado. Aquilo que me faz revirar os olhos a ti pode fazer retirar a roupa. E isto pode estragar tudo. Se for demasiada vai soar só brejeiro e não é atraente. Se for insuficiente vai parecer que não há assim tanta vontade e não é atraente. Chegar ao ponto certo de dirty talk vai muito de tentativa-erro e, muitas vezes, só descobrimos que não está no ponto depois de vários erros.
Opiniões negativas sobre roupa e maquilhagem
Eu sei que já contei estas histórias várias vezes, mas nunca me canso e elas continuam a acontecer por isso é o que é. Eu odeio quando me dão opiniões negativas sobre roupa e maquilhagem. Não estou a falar de dizer que algo fica mal quando fica mal, mas sim do usas demasiada maquilhagem ou do não achas essa roupa um bocado curta. Eu ODEIO isto.
Vou à primeira história. Era 2019 e estava a falar com um rapaz há uns dias. Eu já tinha pouco interesse, mas naquele dia perdi todo. Publiquei uma fotografia nesse dia em que estava com batom vermelho e máscara de pestanas, nada mais. Nem sequer tinha base. O rapaz disse-me, sem eu pedir qualquer opinião: a fotografia está bonita, é pena é usares tanta maquilhagem. Eu passei-me, claro. E disse-lhe que eu usava a maquilhagem que queria. No dia a seguir, ainda chateada, fiz maquilhagem mais arrojada ainda, com sombra de olhos e batom azul arroxeado. Coloquei nas histórias. Não, amigo, eu não quero saber o que tu achas da minha maquilhagem. Não gostas do batom? Paciência, há quem goste. Eu, por exemplo, eu gosto do batom.
No ano passado aconteceu algo do género, por causa de uma foto do Tinder em que o rapaz dizia que eu usava muita base. Eu nem me lembro se tinha base naquela foto, sinceramente, mas penso que não. Com ele disse apenas que eu usava o que queria e que ninguém me ia dizer o que podia ou não usar. Porque estou farta. Usas batom vermelho? Promíscua. Usas maquilhagem? Falsa. Usas saias e vestidos mais curtos ou que evidenciam alguma curva? Estás a pedi-las. Eh pá, chega. Eu mando no meu batom. Vocês mandem nos vossos.
Falar demasiado / Não falar de todo
Lembras-te do Ruizinho, certo? Falar demasiado não é fixe, não dá espaço à outra pessoa para falar também. Claro que há pessoas que são tão cativantes que podemos passar horas a ouvi-las, mas isso é diferente. Aconteceu-me uma vez, com o Mitch, de quem falei no episódio 3. A inteligência dele surpreendeu-me e podia passar horas a ouvi-lo falar… tanto que passei. No entanto tinha espaço para falar e ser ouvida. E há pessoas que não criam esse espaço. Falam, falam, falam e eu não os vejo a fazer nada. Fico chateada, com certeza que fico chateada.
O oposto também não é muito melhor, o não falar. Porque aí obriga a que sejas a pessoa que não se cala porque se estás a conhecer alguém claro que o silêncio ainda não é confortável e é ainda mais difícil quebrar o gelo. Mais uma vez é preciso encontrar o meio termo certo.
Opiniões políticas inaceitáveis
Nem me vou alongar, mas: ser contra o aborto? Ter ideais políticos que diminuem automaticamente outras raças ou crenças? Que são claramente contra direitos LGBT+ ou contra igualidade de género? Bye, bye, baby!
Demasiado falocêntrico
Se ele só pensa no seu próprio prazer e na sua própria vontade… corre! O objetivo é que ambos passem bons momentos, não é um despejar as suas cenas e o outro ficar a olhar. Acredita, há por aí muito gajo que não quer saber se te vens ou não, se estás confortável ou não. Ele é que importa, tu tanto faz. Às vezes até acha que tu tiveste um momento incrível quando provavelmente foi dos piores.
Demasiado sensível a opiniões
Ninguém quer ouvir que é mau na cama, portanto eu não acho que seja essa a forma de abordar o tema quando algo não está a correr bem, mas acho que pode ser interessante tentar resolver o falocêntrico com uma conversa. Algo em que dizes: olha, isto está bom, mas podia ficar melhor. Até mesmo tentares tomar iniciativa e indicares algo de que gostes mais. Maaaaas… se ele levar isso a mal, então vai à tua vida e não voltes. E se ele levar isso a mal e ainda te criticar algo de forma injusta e infantil, vai à tua vida, não voltes, mas antes manda-lhe uns contactos de sexólogos. Talvez ele aprenda uma coisita ou outra.
Achar que é o maior
É alguém que, certamente, vem no seguimento dos anteriores, mas quando alguém acha que é o maior, que é incrível em todos os aspetos, mas principalmente na cama… desconfia. Desconfia sempre. Se ele achar que é o maior porque esteve com imensas mulheres: desconfia. Se ele achar que é o maior porque todas se vieram imenso: desconfia. Se ele achar que é o maior porque já teve experiências que tu não tiveste: manda-o à merda.
Eu estou a falar no masculino, mas isto aplica-se no feminino. É só trocares os pronomes. Desconfia sempre porque estar com imensas pessoas não quer dizer nada, achar que a outra pessoa teve orgasmos incríveis não quer dizer nada (até porque pode não ter tido orgasmos incríveis), ter experiências que tu não tiveste não quer dizer nada.
Ninguém quer alguém sem confiança. Mas também ninguém quer o demasiado confiante, que tem a certeza de que tudo o que faz é o certo, que acha que o problema está sempre nos outros. Porque se tu não te vieres o problema é teu. Se não gostares de algo és tu que és esquisita. E ninguém quer isso.
Só quer joguinhos ridículos
Vou ser sincera, não tenho grande paciência para estes jogos de poder. Não tenho paciência para tentar adivinhar o que a outra pessoa quer ou pensa. Não tenho paciência para aquelas cenas do não vou mandar mensagem para ver se X, Y, Z. Não tenho paciência para quem não diz o que quer. Não tenho paciência para quem parece interessado, mas depois nunca concretiza um plano. Nem sei como se ganha este jogo, mas sei que perco sempre a paciência… e o interesse.
Acertar sempre em quem é errado
Quando saí com o Carlitos pela primeira vez, despedi-me dele no metro da Trindade e segui a pé pelos Aliados. Enquanto me afastava, depois de toda aquela química, pensei em Taylor Swiftês: seria aquilo o início da minha reputation era ou estaria prestes a entrar numa treta tipo All Too Well (10 Minute Version)? Decidi, dias depois, que talvez fosse a reputation era. If I get burned at least we were electrified. Não era.
O Carlitos veio para a minha vida para ser uma espécie de Jake Gyllenhal misturado com John Mayer. Um All Too Well com Dear John. Entre vários dark twisted games, que perdi notavelmente, ele teve ainda a vontade de voltar a falar-me só para break me like a promise, so casually cruel.
No fundo, ele percebeu o quanto eu gostava da Taylor e quis só que eu me identificasse ainda mais com a música dela. Obrigada, amigo, era mesmo de me identificar com Would’ve, Could’ve, Should’ve que eu precisava! Pena já não ter 19 anos, se não teria sido incrível.
Claro que eu estou aqui a falar Taylor Swiftês, mas é realmente desmoralizante quando sentimos que só acertamos em quem é errado. Voltamos aos padrões. Começamos a questionar por que raio vamos sempre para estas pessoas. Começamos a questionar-nos: o que raio há de errado connosco? Será culpa nossa? Somos nós que não somos exigentes o suficiente e nos contentamos com pouco? Somos nós que somos uma merda e não merecemos melhor? Vou já responder a esta: não, não somos uma merda. E sim: merecemos melhor.
Podemos ter aquela sensação de que estamos a fazer tudo mal, de que só damos tiros ao lado, mas aqui é importante não nos esquecermos de que também temos valor, de que se calhar ignorámos red flags quando não devíamos, de que acertar em quem é errado não diz nada sobre nós além de que não temos sempre boa pontaria.
Mas eu sei… acertar em algo errado pode ser a coisa mais dolorosa da vida quando nos apaixonamos à séria. Podia esperar muita coisa do Tinder, mas nunca tinha esperado chegar lá e apaixonar-me. Mas também não esperava que, do outro lado, me esperasse uma pessoa tão egoísta, prontíssima a fazer-me sentir mal por coisas que ele fez. Acho que vai ter de ser. Vamos ter de seguir daqui para o coração partido.