a amiga genial [tetralogia napolitana i – elena ferrante]

A Amiga Genial e a restante tetralogia napolitana estavam no meu radar há vários anos, por influência da Rita. Na altura, muitas pessoas que conheço leram o livro e as expectativas ficaram muito elevadas. Acabei por deixar o livro ficar na lista de espera e só na primavera do ano passado decidi comprá-lo, embora com receio de ter chegado a um ponto em que as expectativas se tinham virado contra mim e eu não ia gostar do livro. Portanto, quando peguei nele há umas semanas, já não ia com expectativas elevadas: ia com medo de não gostar.

Neste primeiro volume da tetralogia napolitana, conhecemos Lila e Lenù. O filho de Lila telefona a Lenù para lhe dizer que a mãe desapareceu e esse é o mote para que Lenù conte a história da amizade de ambas, desde crianças. A Amiga Genial acompanha as duas num bairro complicado de Nápoles, desde a escola primária até aos 16 anos, na década de 1950. Ambas começam por ser parecidas, ambas vêm de famílias de classe trabalhadora e, na escola, Lila revela-se muito inteligente, o que motiva Lenù a esforçar-se para estar à altura da amiga. Este quase sentimento de inferioridade que alimenta Lenù em relação a Lila é algo transversal a todo o livro. Lila é uma espécie de bússola para Lenù, mas também uma espécie de ponto de referência que Lenù precisa de atingir e, se possível, ultrapassar. Talvez exista aqui um grau de amizade tóxica, é certo, mas também existe em Lenù uma necessidade de agradar e de ser aquilo que querem que seja, de ser aquela que é admirada. Mesmo quando Lenù pode continuar os estudos e Lila não, existe sempre esta vontade (por vezes quase necessidade) de ter um aproveitamento escolar superior por causa de Lila.

Não tenho saudades da nossa infância, foi cheia de violência. Acontecia-nos de tudo, em casa e fora dela, todos os dias, mas não me lembro de ter alguma vez pensado que a vida que nos calhara fora particularmente desagradável. A vida era assim e mais nada, crescíamos com a obrigação de torná-la difícil aos outros, antes que os outros a tornassem difícil a nós. 

A Amiga Genial é o tipo de livro que nos vai absorvendo lentamente, entre histórias de um bairro de disparidades numa Itália ainda a recuperar do fascismo e histórias de duas meninas que crescem por dois caminhos completamente diferentes, com vidas que, por vezes, parecem não ter forma de se voltarem a cruzar. Como tem muitas personagens (o guia inicial ajuda), também é um livro que, no início, precisa de mais atenção. Acima de tudo, é um livro de personagens, algo de que gosto muito. Ter uma história com peripécias de princípio, meio e fim é ótimo, mas uma boa história de personagens é algo que adoro e, neste caso, foi uma excelente introdução à tetralogia.

Para já, estou muito curiosa para perceber como é a vida de ambas vai evoluir depois daquele final. Reconheci alguns traços meus na Lenù e estava quase a gritar-lhe que não precisa de ser tão people pleaser, porque não vai ser feliz assim. Mas a Lila intriga-me e não vejo uma vida fácil para ela. Bem, irei descobrir em breve.

Título original: L’Amica Geniale
Título em português: A Amiga Genial
Autor: Elena Ferrante
Ano: 2011 (PT: 2014)

 

Este livro interessa-te?

2 Replies to “a amiga genial [tetralogia napolitana i – elena ferrante]”

  1. é uma saga que vale mesmo mt a pena. O 2º volume vai trazer reviravoltas e a amizade de ambas vai ser posta à prova. Fico à espera da tua opinião 😉

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