daylight

o Chester disse, uma vez, que a mente dele por vezes era como um bairro mau. eu sinto que vivi toda a vida à entrada desse bairro mau. entrei algumas vezes, mas consegui sair. até que entrei e não consegui encontrar saída.

no último ano a minha mente começou a dar-me luta de uma forma como nunca antes tinha feito. estava presa no bairro mau e percebi que nunca de lá sairia. sei que nunca vou sair deste bairro mau, mas também sei que posso tentar remodelá-lo, torná-lo um bairro melhor para viver. é o que tenho estado a fazer nos últimos meses.

procurei os problemas estruturais, tenho ido investigar a origem dos problemas e tenho feito o meu melhor para os resolver ou, pelo menos, para ter consciência de que existem e de que vou ter de lidar com eles.

no meu bairro mau eu estava sempre rodeada de todas as coisas em que falhava: era gorda, era burra. sentia-me um fardo. era uma puta, era descartável. sentia-me deslocada. era calada, era opinativa. sentia-me invalidada. era demasiado, era insuficiente. sempre demasiado, sempre insuficiente.

ainda não consegui compor tantas rachas que ficaram as paredes, mas outras estão como novas. ainda fico presa nos meus próprios pensamentos e preciso de lutar para sair. mas estou num bairro em remodelações. nuns dias parece tudo meio destruído, mas destruímos para reconstruir.

feliz dia da saúde mental.