Comecei o ano a beber uma garrafa de espumante praticamente toda sozinha (deixei o vinho tinto para quem gostava dele), super doente e fiquei assim por mais uns dias. Entre dezembro e janeiro só me lembro de andar doente. Constipações, dores de costas, sei lá mais o quê. Logo depois ganhámos a Taça da Liga, o milagre futebolístico da época. Podia dizer que estava esperançosa, mas havia alguma apreensão no ar, algo que me dizia que estava a entrar numa era mais negra, mais difícil. Comemos passas debaixo da mesa, para ver se ajudava a ter um ano incrível. Em vez disso tive um ano duro, com muitos baixos e alguns altos. Só podia ser mau presságio quando o primeiro pôr-do-sol do ano me passou ao lado. Quando vejo os primeiros quatro meses de 1 segundo do dia sinto o peso daqueles dias. Manter o vídeo de 1 segundo por dia este ano foi algo que, mesmo nos dias maus, gostei de fazer. Sei que terei sempre uma memória diferente dos meus anos. Estes foram os meus 365 segundos de 2023.
Palavra do ano? Aprender.
Podia listar muitas palavras possíveis para o meu ano: tese, mestrado, burnout, livros… mas agora que chego ao fim do ano sinto que a palavra de ordem, na verdade, foi aprender. Parece estranho, tendo em conta que não tive aulas este ano e o único workshop que fiz foi logo em janeiro (fiz a Jornada Custo Zero, do Marco Gouveia). Mas sinto realmente que este ano aprendi muito, consolidei aprendizagens e fui sempre à procura de melhorar e de compreender — levando-me, claro, a aprender.
Aprender a não ignorar os sinais que o corpo nos dá, a não ignorar crises de ansiedade e lágrimas diárias. Aprender a dar o braço a torcer, aprender a sair quando é altura de o fazer. Aprender coisas novas, estudar fora dos estudos. Aprender a ouvir ainda melhor os outros, aprender a falar melhor com os outros. Aprender a procurar espaços e pessoas que nos fazem sentir mais confortáveis e seguros. Sinto mesmo que foi um ano em que aprender foi fundamental. Sei que achar que não sei o suficiente é algo que me caracteriza, que preciso sempre de step up my game, mas a verdade é que consegui muita maturidade emocional este ano. Ainda tenho muito a aprender, eu sei. Tenho de aprender a explicar melhor o que sinto, quando sinto, tenho de aprender a lidar melhor com questões que magoam e com pessoas de merda, mas estou a aprender. Este ano dei-me mesmo tempo para aprender, para perceber.
Conduzi milhares de quilómetros, 1200 deles foram Maia-Faro-Maia em 26 horas. Aprendi não odiar conduzir à noite — não passei a adorar, calma!, só deixei de odiar. Meti a saúde em primeiro lugar, a mental e a oral. Fiz um crédito para pagar o dentista, eu que odeio créditos. Vi D’ZRT ao vivo com a minha mãe — quem diria que íamos ver D’ZRT em 2023? Também vi a Bárbara Tinoco, os GNR, o João Pedro Pais e os The National. Fortaleci amizades e senti-me tão grata por ter amigos incríveis vindos da blogosfera como o Jotinha, a Andreia ou a Inês. Já falo mais deles, que eles merecem.
Li mais de 100 livros, um recorde pessoal que não contava bater este ano. Quase não vi filmes. Nem séries. Mas vi TikToks. Muitos. E não é que aprendi muitas coisas com TikToks? Tivemos datas de Eras Tour. Fiz umas quantas horas de psicoterapia. Fui ao São João, o meu primeiro São João no Porto. Fiz voar um balão. Escrevi a tese. Tendo em conta que mal aproveitei a meia dúzia de páginas que tinha escrito em 2022, posso dizer que a escrevi toda este ano. Escrevi o Desengatados, o meu orgulhozinho do ano. Conseguimos bilhetes para a Eras Tour. Defendi a tese, o meu orgulhozão do ano. Podia ter melhor nota? Claro que podia. Mas tive 17 numa tese feita no meio de um burnout. Sinceramente, já foi uma vitória do caraças.
Tive a Lady na Maia. Levei a Lady à Ribeira, ao Parque da Cidade e à praia. Fui à Feira do Livro da Maia e à do Porto. Assisti a uma palestra do Martim Sousa Tavares na Feira do Livro do Porto, com a Andreia. Também com a Andreia vi Terapia de Casal ao vivo, a peça do Ivo Canelas e o novo solo do Guilherme Fonseca. Fui à apresentação do primeiro romance da Rita da Nova — um dos meus livros favoritos do ano, que me emocionou porque a Rita conseguiu concretizar o seu grande sonho e porque a história me tocou de uma forma muito próxima. Tive férias. Montei móveis do Ikea: uma mesa, cadeiras, um carrinho, uma poltrona. Fui à praia. Comecei a pôr gasolina sozinha — não, ainda não me tinha gabado o suficiente deste feito.
Experimentei mais quatro francesinhas. Sinto que em 2024 devia comer mais francesinhas. Comi pavlovas e uma rabanada memorável. Aprendi a fazer crumble de maçã. Enviei centenas de currículos. Fui rejeitada dezenas de vezes. Revi o Vinte e Um. Quase deu para publicar o Vinte e Um. Pus aparelho e tive dores horríveis, principalmente depois da barra transpalatina. Aprendi a estabelecer limites. Percebi que às vezes evoluímos por caminhos diferentes dos nossos amigos e está tudo bem. Vi a cozinha da minha mãe ficar totalmente finalizada e emocionei-me. Temos feito tudo aos poucos, às vezes não tem sido fácil, principalmente este ano, em que foi preciso fazer tantas contas à vida, mas ver algo que, para mim, sempre foi prioridade ficar concluído foi um momento particularmente importante.
Passei horas à conversa com a Andreia ao ponto de terem de nos lembrar de que a hora de fecho já tinha passado. Falo com a Andreia há anos, não sei ao certo quantos, porque seguimos os blogs uma da outra, mas este ano sinto que nos tornámos mesmo mesmo amigas e ela foi um pilar fundamental para falar de livros, partilhar fogos no parquinho ou simplesmente discorrer chatamente sobre as coisas aleatórias que passam pela mente. Podemos ter muitos amigos diferentes, mas às vezes só precisamos mesmo de ter uma amiga com quem ir comer pavlova e discorrer acerca dos dramas das redes sociais e dos dramas da vida corrente.
No ano em que tanto do que existiu foi solitário — a escrita, o burnout, as dúvidas, os medos, as questões — sinceramente foi preciso saber rodear-me das pessoas certas. A minha mãe, como sempre, foi ponto fundamental. Principalmente no momento em que, em sufoco, ela me disse que se calhar era melhor eu sair do lugar onde estava. Além dela, foi um ano em que tantas vezes comentei com o Jotinha o quanto estava feliz por há praticamente 10 anos nos termos encontrado na blogosfera. Partilhámos conversas sobre livros, sobre Taylor, e sinto que também cimentámos a nossa amizade este ano. Sobrevivemos juntos à The Great Ticket War. Havemos de trocar pulseiras de amizade e música em 2024. Também sobrevivi a uma Great Ticket War com a Inês, mais alguém que acompanho na blogosfera há mais de 10 anos, e que ajudou este ano. Acho que ela foi a maior cheerleader que tive na fase final do mestrado. Estou ansiosa por lhe poder dar um abraço no próximo ano. E, claro, numa casa tão cheia — de pessoas e de acontecimentos — foi importante ter lá alguém para revirar os olhos e rir do modo sitcom que por vezes invade aquele 2.º direito.
Foi um ano em que me refugiei nos livros como mecanismo de abstração e, também por isso, foi um ano em que a escrita fluiu mais e melhor. Escrevi muito e acho que escrevi melhor. Li muito e ouvi muitos podcasts sobre assuntos sociais. Dei-me muito espaço para pensar, para respirar, para procurar as minhas respostas e os meus lugares. Às vezes encontrei-me nos braços dele, outras vezes perdi-me. Mas, acima de tudo, encontrei-me em lanches de amigas, em trocas de mensagens sobre livros e a Taylor Swift, em páginas e páginas para escrever, em artigos académicos e em histórias que tomei como minhas. Soube sempre como voltar a casa — a casa com a Lady, a casa com vista para a serra da Estrela, a casa com vista para o Douro, a casa com pronúncia.
Houve muita coisa que não fiz. Não deu. Não houve dinheiro. Não houve paciência. Mas ainda há tempo. Pelo menos eu quero acreditar que sim. Embora tenha receio da força do ano bissexto, olho para 2024 e fico entusiasmada. Algo me diz que vai ser melhor, muito melhor.
2024, podes vir com novas aprendizagens, mas com a energia certa para trazer paz e conquistas. Será o ano!
Cá me apresento para, em 2024, continuarmos a discorrer chatamente sobre tudo e mais um par de botas. Não vou a lado nenhum
Gostei imenso deste teu post, Sofia. Escreves sempre muito bem, mas acho que este post foi mesmo especial. Espero que 2024 te surpreenda pela positiva e te traga muitos momentos felizes!
Oh, muito obrigada! 🥹🫶
Bom ano!