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No segundo semestre do primeiro ano de mestrado tive uma cadeira chamada Tópicos em Comparatismo. O tema central desta cadeira seriam as narrativas de migração e exílio pelo que, logo na primeira aula, nos foram indicados quatro livros que iríamos analisar em aula. Um deles chamava-se O Museu da Rendição Incondicional. Duas semanas e meia depois começa a guerra na Ucrânia. Um mês e pouco depois comecei a ler o livro. Ia ser analisado na aula de 4 de abril, mas no dia 1 eu ainda não tinha passado da página 57. Fui à aula, aprendi algumas coisas sobre o livro e o livro continuou por terminar até dezembro deste ano.

O Museu da Rendição Incondicional não é um livro fácil, mas, apesar de ser de 1996, é um livro com uma certa atualidade à qual não conseguimos escapar. Está definido como um romance, mas admito que o género é um tanto híbrido. É meio livro de memórias, meio romance. A própria autora diz, no livro, que a questão de saber se o romance é autobiográfico poderia interessar à polícia, mas não ao leitor, o que cria ainda mais a sensação de que talvez seja realmente uma vez romanceada da sua autobiografia.

Dubravka Ugrešić nasceu na ex-Jugoslávia, naquilo que hoje é a Croácia. Ela, no entanto, nunca se identificou como croata e disse sempre que era jugoslava. Quando rebenta a guerra na Jugoslávia, em 1991, ela afirmou desde início sempre contra a guerra e anti-nacionalista, denunciando crimes de guerra, algo que a tornou um alvo. É nestas condições que acaba por se exilar, em 1993, primeiro na Alemanha e depois em Amesterdão.

Perceber este contexto da vida da autora é fundamental para perceber como surge O Museu da Rendição Incondicional e toda a narrativa sobre exílio e migração. Também por isso, continua atual no seu tema — continuamos a ver tantos a precisar de sair dos seus países por causa de guerras. Nós, que nunca fomos obrigados a deixar a nossa casa, o nosso país, não sabemos quanto temos garantido aqui, no nosso espaço.

Já ter analisado as temáticas do livro em aula ajudou a já estar preparada para o que ia ler, mas também senti muitas vezes que a leitura não estava a fluir muito bem pela forma como o próprio livro está escrito e estruturado. Acho, no entanto, que é um livro interessante de ler numa Europa em que continua a haver uma guerra que gerou alguns exílios e migrações, além de todas as vagas de migrações que vemos chegar causadas por guerras.