Todas tínhamos uma estrofe preferida no A Todos um Bom Natal e que era definida da seguinte forma: quem achava que tinha melhor voz queria a primeira, quem odiava cantar queria a última. Estranhamente acho que todas achávamos que tínhamos boa voz porque queríamos sempre todas cantar No Natal pela manhã / Ouvem-se os sinos tocar / E há uma grande alegria / No ar. Na nossa mentalidade de miúdas de terceiro ano só não estávamos no Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras porque nem sabíamos onde era Santo Amaro de Oeiras.
É engraçado porque quando temos 8 anos os Natais parecem iguais para todos. Antes do Natal é tudo igual: todos temos de nos preocupar com as estrofes que vamos cantar na festa de Natal, todos temos de decidir se queremos dar-nos à declamação de poesia. Todos conseguimos declamar A Balada da Neve sem pensar em Gato Fedorento.
Depois vem o Natal e sabemos onde cada um passa o Natal e o que comem, mas não fazemos ideia de que se fala à mesa, o que fazem enquanto esperam pela hora de comer, o que fazem enquanto esperam pela hora de abrir prendas. Supomos que abrem as prendas à meia-noite porque ouvimos dizer que é o mais comum, mas nós abrimos logo depois de jantar e aparentemente há quem abra no dia 25 de manhã.
Só percebemos que os Natais são diferentes quando voltamos das férias de Natal e uns trazem mais coisas novas do que outros. E alguém começa a listar as coisas que recebeu e são mais coisas e mais caras do que as nossas e aí percebemos que se calhar os Natais não são mesmo todos iguais. Nem nos atrevemos a pedir mais pormenores, não vá o choque ser maior.
Crescemos e percebemos que os Natais se tornam cada vez mais diferentes. Tão diferentes que parecem ocasiões opostas. E é aí que percebemos finalmente que nunca foi só a quantidade de presentes ou de pessoas à volta da mesa. Sempre foi mais do que isso, mas agora a nossa preocupação já não é se nos calha a melhor estrofe da música de Natal. Agora só queremos que o Natal seja mais o que quisermos fazer dele e menos o que parecia que todos faziam dele.
É isso que desejo para o teu Natal: que seja cada vez mais teu.
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